Cotidiano

Panamá Papers: juiz amplia cerco a Macri

2016 912973330-201605302033349330_AFP.jpg_20160530.jpgBUENOS AIRES ? Com sua popularidade em queda, de acordo com recentes pesquisas divulgadas na Argentina, o presidente Mauricio Macri enfrenta um processo judicial cada vez mais abrangente sobre sua participação em sociedades off shore, segundo foi revelado pelos chamados Panamá Papers. A pedido do promotor Federico Delgado, o juiz federal Sebastián Casanello, encarregado do caso, ampliou a lista de sociedades e empresas a serem investigadas, partindo do princípio de que o chefe de Estado, acusado de omissão maliciosa, poderia estar vinculado a um ?conglomerado de sociedades? interconectas.

A denúncia original, apresentada pouco depois da divulgação dos Panamá Papers, menciona as off shore Fleg Trading LTD, das Bahamas, e Kagemusha, do Panamá. Apesar do questionamento apresentado pelos advogados de Macri, o juiz, seguindo à risca as recomendações do promotor, decidiu incluir a Grumafra SA, Socma Americana SA, Global Collection Services, MTC Investment e Macri Investment Group, que funcionaram entre 1985 e 2007, na lista de possíveis sociedades não declaradas pelo presidente.

? Casanello quer investigar sociedades que não estavam na denúncia original, como sempre defendeu Delgado. A defesa de Macri não estava de acordo ? explicou uma fonte que acompanha de perto o caso.

Para ela, ?a Justiça está em plena busca, a única coisa que podemos afirmar é que o juiz está indo além do que previa o processo inicialmente?. Casanello, o mesmo magistrado encarregado das investigações sobre a chamada rota do dinheiro K ? sobre supostas operações de lavagem de dinheiro envolvendo empresários kirchneristas e até mesmo a ex-família presidencial ? solicitou, ainda, a declaração de bens apresentada por Macri este ano. Segundo informações publicadas pela imprensa local, o presidente duplicou seu patrimônio entre 2014 e 2015, atingindo US$ 7,6 milhões. A vereadora portenha Gabriela Cerruti, da kirchnerista Frente para a Vitória, apresentou uma denúncia de suposto enriquecimento ilícito contra o chefe de Estado.

Desde que vieram à tona os Panamá Papers, Macri insistiu em dizer que ?não tenho que esconder? e se colocou à disposição da Justiça.

? Vi os pedidos (da Justiça) e me parecem muito bem. Devem fazer todos os pedidos necessários, disso se trata ? declarara o presidente há algumas semanas, antes de Casanello aprofundar sua investigação.

O juiz solicitou, também, informações sobre uma possível existência de reportes de operações suspeitas no Panamá, Bahamas, Uruguai, Brasil e Reino Unido da Fleg Trading LTD e Kagemusha, além de Foxchase Trading SA, Sideco Americana SA, Global Collection Services, Owners Do Brasil Participações, Gresoni SA e Macri Investment Group.

Macri é suspeito de ter cometido o delito de omissão maliciosa, algo que o presidente e seus colaboradores negam enfaticamente.

? São sociedades que não têm capital, nem movimento de dinheiro. O presidente sempre declarou todos seus ativos, sempre ? assegurou o chefe de gabinete e braço direito do chefe de Estado, Marcos Peña.

Na opinião da vereadora portenha Graciela Ocaña, autoria de várias denúncias de corrupção contra ex-funcionários kirchneristas, ?a investigação sobre Macri deve ser o mais exaustiva possível?.

? Se o juiz considera que são necessárias mais informações, me parece bem. O presidente deu uma explicação que parece ter bastante sentido, mas o juiz determinou que precisa de mais elementos. Não podem existir dúvidas ? frisou Ocaña.

As investigações judiciais sobre o patrimônio do presidente avançam em meio a uma situação econômica e social delicada. Nos últimos 12 meses, economistas locais calculam que a inflação superou 40%, o que já provocou um aumento da taxa de pobreza, atualmente acima de 30%. Tudo isso, somado às suspeitas sobre a fortuna presidencial, afetou a imagem positiva de Macri.

De acordo com pesquisa da empresa de consultoria Management & Fit, nos primeiros cinco meses deste ano a aprovação ao governo caiu quase 7%, ficando em 44,1%. Esta semana, Macri anunciou sua decisão de repatriar 18 milhões de pesos (quase US$ 1,3 milhão), atualmente depositados numa conta nas Bahamas, gesto que busca, claramente, mostrar transparência e recuperar parte do apoio perdido.

? Nasci rico. O que já tenho não vou poder gastar em toda minha vida. Hoje meu motor é outro, quero fazer da Argentina um país normal ? disse o presidente recentemente.