SÃO PAULO e CURITIBA – Última grande empreiteira a entrar na mira da
Operação Lava-Jato, a Queiroz Galvão, suspeita de fazer pagamentos de propina
que beneficiaram PT, PP, PSDB e PMDB, mantinha uma rede de remessa de dinheiro a
agentes públicos no exterior que, a partir de agora, começa a ser investigada
pela força-tarefa. Alvo nesta terça-feira da 33ª fase da investigação, batizada
de Resta Um, a Queiroz Galvão é acusada de participar de um consórcio que deu
dinheiro no caixa dois para a campanha pela reeleição de Lula, em 2006; de pagar
propina de R$ 10 milhões em 2009 ao então presidente do PSDB, Sérgio Guerra,
para ele barrar a CPI da Petrobras; e, ainda, de doar ilegalmente R$ 1,5 milhão
à campanha do PMDB em São Paulo, em 2012.
Para tentar esclarecer esses casos e outros indícios de corrupção envolvendo
a empresa, foram presos preventivamente nesta terça-feira (por 30 dias) o
ex-presidente da construtora Ildefonso Colares Filho e o ex-diretor Othon
Zanoide de Moraes Filho. Os dois já haviam sido presos na 7ª fase da Lava-Jato,
em novembro de 2014, mas tinham sido soltos por decisão da Justiça.
O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, também decretou a prisão
temporária (por 5 dias) de Marcos Pereira Reis, ex-diretor financeiro do
consórcio Quip, que era liderado pela construtora. Também foram cumpridos seis
mandados de condução coercitiva e 23 de busca e apreensão, em seis estados.
Colares e Zanoide foram presos no Rio e levados ontem mesmo para Curitiba; Reis
é considerado foragido da Justiça. Segundo advogados, ele está na China,
providenciando o retorno para o Brasil.
A nova fase da Lava-Jato se baseia no depoimento de 12 delatores, entre
doleiros, operadores, ex-funcionários da Petrobras e parceiros em consórcios ou
no cartel da estatal. Os contratos da Queiroz com a Petrobras superam a cifra de
R$ 20 bilhões, a maioria objeto do cartel de empreiteiras “que visava à
maximização de recursos das empresas com o consequente prejuízo aos cofres
públicos”, segundo o MPF. São investigados contratos do Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro (Comperj), da Refinaria Abreu e Lima, da Refinaria Vale do
Paraíba, da Refinaria Landulpho Alves e da Refinaria Duque de Caxias, entre
outros.
O procurador da República Carlos Fernando Lima disse que, pelo conjunto da
obra, a Queiroz tem uma peculiaridade:
– Ela representa todos os pecados, todas as espécies de crime que verificamos
na Lava-Jato. Está envolvida em pagamentos de propina através de caixa um,
doações eleitorais sob o manto de suposta legalidade. Temos caixa dois, por
exemplo, pagos pelo consórcio Quip para a campanha de reeleição do ex-presidente
Lula em 2006, também propina.
Os pagamentos à campanha petista foram revelados pelo delator Ricardo Pessoa,
ex-presidente da UTC. Em depoimento, Pessoa disse que as empreiteiras Queiroz
Galvão, Iesa e Camargo Corrêa aceitaram pagar R$ 2,4 milhões em dinheiro à
campanha petista. O pedido de doação “não oficial” partiu do então tesoureiro,
José de Filippi Junior, e foi discutido em reunião com representantes das quatro
empresas e com Pessoa.
Nesta nova fase da Lava-Jato, o MPF também espera colher provas da tentativa
de obstrução à investigação da CPI da Petrobras, em 2009. Cópia de vídeo
entregue por um dos delatores registrou reunião feita no Rio entre executivos do
consórcio e o então presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), já falecido. No
vídeo, o tucano sugere esvaziar as investigações da CPI criada naquele ano.
Delatores dizem que a ação custou R$ 10 milhões, pagos pela Queiroz Galvão.
Pelo menos outros R$ 10 milhões foram pagos a diretores da Petrobras em
função de obras da estatal. Pagamentos de propina também foram feitos como
doações oficiais ao PP. Ainda são investigados e rastreados outros pagamentos
feitos pela Queiroz Galvão por meio de trusts e offshores no exterior. Os
valores podem ultrapassar R$ 60 milhões, de acordo com investigadores.
Apenas uma anotação localizada no celular do ex-diretor da Petrobras Renato
Duque, até esta terça-feira desconhecida das investigações, apontou um valor em
aberto da Queiroz Galvão com ele, de 24 milhões (de reais ou dólares, conforme
deve apurar a PF).
Em nota, a empreiteira informou que “coopera com as autoridades” ao
“franquear acesso às informações solicitadas”. O PSDB disse “apoiar as
investigações desde o início” e defender que “o trabalho das instituições
públicas brasileiras avance para os esclarecimentos necessários.”
O PT afirmou”refutar as ilações apresentadas”: “Todas as operações
financeiras do partido foram realizadas dentro dos parâmetros legais e
declaradas à Justiça Eleitoral”. O PP disse que “não compactua com atos
ilícitos, e o PMDB, que “sempre arrecadou dentro da lei”.