Cotidiano

Oeste tem 2º maior captador de órgãos do PR

Ações inovadoras colocam hospitais de Foz como referência

Foz – Encontrar um doador compatível está entre os grandes desafios das equipes do CIHDOTT (Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes). Além da compatibilidade, é necessário que a família autorize a doação, e esse é um dos pontos considerados críticos por especialistas.

Embora equipes dos hospitais sejam treinadas para incentivar a doação de órgãos, em muitos casos ela é negada. Os números das doações realizadas em todo o Paraná, apesar de positivos, poderiam ser ainda maiores caso um simples gesto fosse realizado pelo doador ainda em vida. Para que outras vidas sejam salvas é necessário que a família esteja ciente da vontade do paciente, e em situação de morte, que ela seja respeitada. “A recusa familiar ainda é um dos maiores enfrentamentos e, na maioria dos casos, elas acontecem porque não conversaram em vida sobre isso”, relata a coordenadora de enfermagem e secretária do CIHDOTT do Hospital Municipal Padre Germano Lauck de Foz do Iguaçu, Karin Aline Zilli Couto.

De acordo com balanço semestral da Central Estadual de Transplantes, as recusas familiares somaram 109 no semestre e foi considerado mais uma vez o maior entrave quanto aos procedimentos. Em seguida estão os pacientes sem condições clínicas (88), os que morreram em decorrência de uma PCR (Parada Cardiorrespiratória), com 45 impedimentos, e outros 45 não informados. Ao todo, foram 446 notificações de possíveis doadores no Paraná para o semestre.

Contra o não

O Oeste tem hoje a segunda maior unidade captadora de órgãos do Paraná, ranking que é liderado por Curitiba. Em Foz, o Hospital Municipal conseguiu de janeiro a julho realizar nove captações, todas em pacientes que tiveram morte encefálica. Em todo o ano de 2015 foram 11 procedimentos.  Conforme Karin, o que ajuda neste processo é o trabalho feito pelas equipes que participam da captação, especialmente os assistentes sociais e psicólogos. “Esse acompanhamento é feito desde quando o paciente entra no hospital e é encaminhado à UTI”, explica. A conversa com os familiares é peça-chave para garantir a autorização.

O enfermeiro coordenador da CIHDOTT do Hospital Ministro Costa Cavalcanti, Valter da Silva, elenca os treinamentos e capacitações como aliados. “O nosso pessoal é treinado para fazer as abordagens e entrevistas familiares, além do trabalho com o paciente em morte encefálica. Todos os anos vamos para treinamentos de doação, com cursos em Foz e Curitiba”, conta.  A Comissão se formou há 10 anos no Costa Cavalcanti, porém, foi a partir deste tipo de iniciativa que os resultados começaram a melhorar, especialmente quanto às captações de globos oculares, conforme Silva. De janeiro a junho, a Central Estadual de Transplantes registrou 24 captações (4 descarte e 20 óptica). Já no Hospital Municipal foram oito.

Em relação às captações por morte encefálica, o Costa Cavalcanti já superou os procedimentos de 2015, chegando a quatro até julho. O número, que à primeira vista parece baixo, já salvou a vida de aproximadamente 30 pessoas.

Logística

As duas unidades em Foz do Iguaçu são exemplos ainda no quesito estrutura. Diante da demanda, equipes multidisciplinares, compostas entre oito e 12 profissionais, estão à disposição, além de salas com arquivos dos prontuários de pacientes, caixas térmicas e viaturas para o transporte, que precisa, no caso das córneas, ocorrer em no máximo seis horas após a morte do doador.

Atendimento a estrangeiros

Uma normativa de 2015 autoriza os hospitais de Foz do Iguaçu a realizarem a captação de órgãos em estrangeiros, desde que a família concorde. Conforme Karin, já foram realizadas captações em pacientes vindos do Paraguai, Argentina e França. “Além da autorização familiar, o consulado também deu seu parecer para abrirmos um protocolo e realizar a doação”, comenta a coordenadora.

Coração parado

O Hospital Ministro Costa Cavalcanti tem ainda uma ação inovadora. É a captação de córneas com coração parado. A primeira delas foi realizada em junho deste ano, em um paciente de 67 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Eles estudam ainda o projeto para a realização de transplantes renais, sem data para ser iniciado.  

Regional de Cascavel responde por 20,7% das doações

O Paraná encerrou o primeiro semestre do ano com um acréscimo de 28% no número de doações realizadas para o período, passando das 124 registradas em 2015 para 159 procedimentos, o melhor índice desde 2011, conforme dados da Sesa (Secretaria Estadual da Saúde). Isso permitiu que o Estado também batesse o recorde no número de transplantes, atendendo 283 paranaenses de janeiro a junho. O total é referente aos pacientes que tiveram morte encefálica confirmada.

A 10ª Regional de Cascavel responde por 20,7% das doações, e é a segunda no ranking estadual, atrás apenas de Curitiba, que realizou 88 procedimentos no semestre. O Oeste neste mesmo período teve 78 pacientes com morte encefálica e destes, 33 apresentaram condições clínicas para doação, além da autorização familiar. Em seguida estão as cidades de Maringá, com 28 procedimentos dos 73 notificados, e Londrina, que realizou 18 doações das 97 A fila de espera no Paraná é monitorada pela Central Estadual de Transplantes em Curitiba. O cadastro, que já chegou a ter mais de 2.500 pessoas, hoje tem 1.952 pacientes à espera por um coração, fígado, rim ou pâncreas.