Cotidiano

Mulher que combateu Estado Islâmico pode ser presa na Dinamarca

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COPENHAGUE ? A jovem dinamarquesa Joanna Palani, de 23 anos, escolheu um caminho diferente para os seus primeiros anos da vida adulta. Em vez de se preparar para uma carreira profissional, ela resolveu lutar ao lado dos peshmergas no Iraque e na Unidade de Proteção Popular (YPG, na sigla em inglês), na Síria, ambos grupos majoritariamente curdos que lutam contra o Estado Islâmico. Agora, ela está sob custódia em Copenhague, capital da Dinamarca, aguardando julgamento e pode ser condenada à prisão por ter descumprido decisão judicial.

? Isso é uma vergonha. Nós somos o primeiro país do mundo a punir uma pessoa que está lutando do mesmo lado que a coalizão internacional ? disse Erbil Kaya, advogado de Joanna, em entrevista ao jornal britânico ?Guardian?. ? Por que não punimos as pessoas que lutaram pelo Estado Islâmico, em vez de pessoas que estão do mesmo lado que a Dinamarca. Eu não acredito que isso faça sentido.

Nesta terça-feira, Joanna terá que comparecer a uma audiência. Em setembro do ano passado, ela foi proibida pela Justiça de viajar de volta para a região do conflito. Porém, numa audiência na semana passada, ela admitiu ter viajado até Doha, no Catar, no dia 6 de junho deste ano. Por esse motivo, ela foi posta sob custódia enquanto aguarda que a promotoria prepare a acusação. Segundo Kaya, caso seja condenada, Joanna poderá passar até dois anos presa.

A Dinamarca cedeu muitos combatentes para os conflitos no Oriente Médio. De acordo com o serviço de inteligência do país, ao menos 125 dinamarqueses se juntaram aos combates na Síria, a maioria ao lado do Estado Islâmico. Destes 62 retornaram ao país e, para lidar com os ex-combatentes, o governo criou um programa com mentores, aconselhamento psicológico e apoio na busca por empregos, em vez de ações judiciais.

E para evitar que jovens continuem migrando para as regiões de combate, uma nova legislação, batizada como lei do passaporte, foi criada para prevenir que indivíduos viajem para o Oriente Médio e se envolvam em questões de segurança nacional ou em ?ameaças substanciais para a ordem pública?. Joanna está sendo acusada de violar essa lei.

INFÂNCIA EM CAMPO DE REFUGIADOS

Joanna é filha de iranianos curdos, que nasceu em um campo de refugiados em Ramadi, no Iraque, em 1993. Sua família conseguiu emigrar para a Dinamarca quando ela tinha apenas 3 anos. Ela era apenas uma estudante que o conflito na Síria começou. Em 2014, ela decidiu viajar para o Curdistão, para, segundo ela, ?lutar pelos direitos das mulheres, pela democracia, pelos valores europeus que eu aprendi como uma garota dinamarquesa?.

Por sua atuação no conflito armado e como representante não oficial dos curdos na Europa, Joanna tem sido alvo de ameaças, tanto virtuais como reais. Segundo o site Al Arabiya, sites ligados ao Estado Islâmico anunciaram prêmio de US$ 1 milhão para que matar a jovem dinamarquesa. E o tratamento que vem recebendo na própria Dinamarca tem desagradado Joanna.

? É muito difícil, pois ainda existem pessoas contra mim em Copenhague, algumas delas do Estado Islâmico ? disse Joanna. ? É difícil encontrar um emprego, porque o serviço de inteligência fica dizendo aos empregadores que eu sou uma ameaça à segurança nacional, então parece que não tem ninguém do meu lado.

Joanna é descrita como uma combatente de alto nível das forças de operações especiais na Síria, tanto entre os peshmergas curdos na Iraque e na YPG síria. O batalhão feminino da YPG, conhecido pela sigla YPJ, ao qual Joanna é mais comumente associada, está sendo apoiado por uma coalizão internacional de forças, incluindo dinamarquesas.

Entretanto, a YPG, parceira das Forças Democráticas Sírias que estão avançando sobre Raqqa, é considerado como um grupo terrorista pela Turquia, por estar ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), designado oficialmente como uma organização terrorista nos EUA e na Europa por usar a luta armada para a criação de um Curdistão autônomo na Turquia.

O batalhão de Joanna teve papel central na libertação de Kobani, na fronteira com a Turquia. A jovem dinamarquesa combateu por duas semanas no início da ofensiva para a retomada do território, em 2014. Ela lembra do período como o ?mais longo? de sua vida, por ter passado fome após forças do Estado Islâmico cortarem as linhas de suprimentos e por ter perdido ?muitos amigos? antes de ser retirada do front após ser ferida.

? A YPJ não é terrorista, nós estamos combatendo os terroristas. Dizer que nós não somos parte da coalizão lutando contra o Estado Islâmico é um insulto a todas as mulheres da YPJ que morreram em Kobani fazendo exatamente isso ? disse Joanna.