SÃO SEBASTIÃO – Ao ver as raízes aéreas das árvores e passar a mão pela água do Rio Sahy, é difícil acreditar que aquele pedaço de mangue está a três horas de carro (cerca de 200km) da loucura da cidade de São Paulo e a poucos metros de duas das praias mais disputadas do Brasil. Entre a praia da Baleia e a do Sahy, encontra-se um dos segredos do litoral norte do estado de São Paulo: a Área de Proteção Ambiental (APA) Baleia-Sahy.
Se Santos e Guarujá, no litoral sul, são mais conhecidas ? e mais parecidas com a metrópole ?, a costa paulista tem mais que isso. Um lugar com praias de areia branca e fofa e águas cristalinas. O litoral norte conta com três cidades principais: São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela e, dentro delas, Maresias, Baleia, Sahy, Barra do Una e outras praias, que têm, em comum, seu aspecto paradisíaco.
O local já é conhecido por ser um dos destinos mais valorizados do país e não por acaso: cercada pela Mata Atlântica de um lado e o mar com belos tons de azul do outro, locais como Maresias, Barra do Una e Camburi são um dos mais disputados na temporada. Na região, costuma-se dizer que 50% do PIB brasileiro tem imóveis nas praias das cidades de São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba.
No entanto, o litoral norte oferece mais do que o tradicional passeio de praia. Um deles fica entre duas das principais praias de Maresias, em São Sebastião: a Barra do Sahy e a praia da Baleia. Em parte da área de 1,4 milhão de metros quadrados que compreende a APA Baleia-Sahy, é possível fazer passeios de barco pelo mangue. Perto dali, o turista também pode fazer um passeio acompanhado por golfinhos até ilhas para banhos de mar mais isolados.
Mangue e ilhas: caiçaras como anfitriões
Os responsáveis pelo passeio são alguns dos caiçaras tradicionais que permanecem na área: barqueiros, com a sabedoria típica de quem nasceu por ali, e que conhece o lugar como a palma da mão. O embarque nos barcos é na ponta da praia da Barra do Sahy. Na visita, gente como ?seu? Kati apresenta outra face da natureza escondida em Maresias, rica em biodiversidade: o manguezal. O passeio de barco que se faz hoje pela região custa R$ 60 por pessoa e leva os turistas numa visita monitorada pelos rios que cortam a Área de Proteção Ambiental.
A poucos metros da praia, o passeio dá a sensação de uma viagem à selva. E o cuidado a ser tomado é com os mosquitos borrachudos: o uso de repelente a cada duas horas é mais do que recomendado. Apesar do balanço do barco, um biscoito de água e sal é o suficiente para evitar enjoo. Olhar para a paisagem também ajuda a passar ao cérebro a sensação de movimento, e a beleza facilita essa tarefa.
Em meio às histórias das mudanças e belezas do mangue, ?seu? Kati e outros caiçaras também levam os visitantes para um passeio de barco por um conjunto de ilhas em alto-mar. O nome do lugar é pouco criativo: ?As Ilhas?, literalmente. Mas não se engane: as praias são ainda mais paradisíacas do que as disputadas por banhistas no litoral, em isolamento e tranquilidade que parecem impensáveis e dão a sensação de descoberta de um tesouro ? e, com sorte, o passeio de barco pode contar com a companhia de golfinhos.
Plano de manejo
Um plano de manejo estabelece aumentar a área da APA Baleia-Sahy para mais de três milhões de metros quadrados, adicionando uma área especializada em ecoturismo, além de permitir a extração de materiais para produção de artesanato caiçara. A implantação do plano permitiria a realização de outros tipos de passeios e atividades, mas ainda enfrenta resistências na região.
Além da batalha pela preservação do bioma, a APA é mantida com apoio de moradores, interessados em desenvolver a sustentabilidade da região. A APA é administrada pelo Instituto Conservação Costeira em cogestão com a prefeitura de São Sebastião, para preservar e promover a cultura caiçara que ainda resiste à especulação imobiliária.
SERVIÇO
Onde ficar
Pousada Sumatra Ecolodge. Diárias a R$ 320 (casal). Rua Nova Iguaçu 2.012. Maresias
Onde comer
Restaurante Mergellina. R. Navegantes 139. Maresias.
Passeios.
São feitos pelo Instituto de Conservação Costeira e agendados com os barqueiros Kati: (12-99630-3162); Lili (12-99749-0639 e 12-99715-1477).
Dimitrius Dantas viajou a convite do Instituto Conservação Costeira