SÃO PAULO. Acusada de matar e esquartejar o marido, diretor e herdeiro da Yoki, Marcos Kitano Matsunaga, em 2012, Elize Matsunaga vai a júri popular a partir desta segunda-feira, no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. Ela pode pegar até 32 anos de prisão. De acordo com a defesa da ré confessa, ela está ansiosa e preocupada em não ver mais a filha do casal, hoje com cinco anos, que vive com os avós paternos.
– Ela está muito ansiosa. Sabe que esse juri tem graves consequências sobre o relacionamento dela com a filha. Ela está confiante, mas muito preocupada por causa da menina. As duas não se veem desde o dia 6 de junho de 2012 – contou ao GLOBO o advogado de defesa Luciano Santoro.
As acusações que pesam sobre Elize são homicídio doloso triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima), destruição e ocultação de cadáver. Ela confessou que atirou na cabeça da vítima com uma arma e depois a esquartejou em sete partes. Elize está presa em Tremembé, no interior de São Paulo.
A expectativa é que o julgamento dure cinco dias, com início marcado para as 9h30min. Sete pessoas formarão o júri popular após sorteio entre 48 pessoas: 27 homens e 21 mulheres. Serão ouvidas 21 testemunhas, divididas entre acusação e defesa. Elize terá dez pessoas falando a seu favor, entre peritos e pessoas próximas como uma funcionária que atuava na residência do casal.
Os advogados de Elize, Luciano Santoro e Roselle Soglio, argumentam legítima defesa e acredita numa absolvição. Ela teria cometido o crime após discussão com o empresário.
Segundo a acusada, Marcos era violento e estava se encontrando com uma garota de programa. Ao interpelá-lo, no dia do crime, ele teria tentando agredir a mulher.
Em depoimento à polícia, Elize falou do histórico agressivo do marido, e acusou, entre outros fatos, o executivo de tentar envenenar a ex-mulher. A versão foi negada por Cristina Carbonera, com quem Matsunaga foi casado antes de se envolver com Elize. Em e-mail enviado à acusação, ela disse que a história é “totalmente absurda e infundada”.
Luciano Santoro falou que o maior desafio será convencer o júri de que Matsunaga estava morto enquanto Elize cortava seu corpo. Isso diminuiria a pena da ré, uma vez que não se usaria mais a qualificadora do meio cruel.
– Quem estava com a razão? O perito que fez o laudo de forma macroscópica, a olho nu, ou o laudo de exumação com base nas provas laboratoriais? Isso o juri vai ter que decidir: em quem ele acredita. Por isso que é tão importante o relato dos peritos nesse caso – explica Santoro, para continuar: – Se ele estava morto não tem meio cruel.
O primeiro laudo pericial feito no corpo do executivo indica que ele morreu em consequência de um traumatismo craniano associado à asfixia por sangue em consequência de uma decapitação. Outro exame, de março de 2013, feito após exumação do corpo de Matsunaga, indicou que o avançado estado de putrefação do corpo comprometeu avaliação de quesitos que apontariam se ele apresentava reações vitais ao ser esquartejado.
A defesa de Elize também tentará mostrar que ela nunca teve a intenção de matar o marido. Para acusação, o crime foi premeditado, por motivo financeiro.
– É um absurdo alegar isso. Num momento de intensa provocação, ela explodiu e acabou atirando nele – defendeu Santoro.
– Ela esquartejou porque tinha necessidade de tirar o corpo de dentro do apartamento. Como faria isso com alguém mais pesado que ela? Não tinha outra forma de fazer. Infelizmente seria segmentando o corpo, e ela acabou praticando esse ato – concluiu o advogado.
Já o promotor José Carlos Cosenzo diz que seu “conjunto de provas está alinhado”. Para ele, está claro que Elize agiu por vingança, “além do intuito econômico”.
– O casamento deles já tinha terminado e ela sabia exatamente o que ia fazer – observa Cosenzo, que também fala do segundo laudo pericial feito no corpo de Matsunaga:
– A defesa está tentando confundir os peritos. O próprio assistente deles diz que ele estava inconsciente, mas vivo. E quando foi feita a exumação, todo material como pele tecidos e pulmão já tinha ido embora. Ou os jurados acreditam na legitimidade e qualificação do profissional que fez o laudo ou nas dúvidas trazidas por ele.