Cotidiano

Impeachment da presidente abre caminho à oposição para eleições na Coreia do Sul

65663726_TOPSHOT - Anti-government activists carry a mock prison containing a board-cut of South Kor.jpg

SEUL ? A Coreia do Sul põs fim a uma profunda crise política envolvendo a presidente Park Geun-hye, que foi definitivamente afastada por um processo de impeachment nesta sexta-feira. Agora, a ex-líder será obrigada a abandonar o Palácio Presidencial e perderá a imunidade e, por isso, pode ser formalmente acusada pelo Ministério Público. Ela se vê envolvida em um grave escândalo de corrupção, em que responde por extorsão, suborno, abuso de poder e vazamento de segredos de Estado.Coreia do Sul

A decisão unânime do tribunal de oito juízes prevê a convocação de eleições antecipadas nos próximos 60 dias. A próxima votação deverá ser marcado pelo presidente interino e primeiro-ministro sul-coreano, Hwang Kyo-ahn. Diante do tribunal, grupos de opositores e partidários do impeachment se reuniram para acompanhar a sessão decisiva, que foi transmitida pela TV. Milhares de pessoas pediam a prisão da presidente.

Para as eleições, um dos nomes mais citados inicialmente era Ban Ki-moon, ex-secretário-geral da ONU que terminou o mandato na organização em dezembro do ano passado. No entanto, ele descartou que vá concorrer à disputa presidencial, enquanto muitos argumentavam que ele já não mantinha mais relações fortes com a política interna do seu país de origem.

Com isso, o partido conservador de Park se vê numa crise que abre o caminho à oposição. O favorito é o deputado Moon Jae-in, que já concorreu antes à Presidência e sempre se firmou como forte crítico de Park. Outra figura que desponta como potencial candidato é Lee Jae-myung, um político de discurso antissistema que vem ganhando apoio nas pesquisas de opinião ? e já vem sendo apelidado pela imprensa de “Donald Trump sul-coreano”.

Filha do ditador Park Chung-Hee, Park se tornou a primeira presidente mulher da Coreia do Sul, ao ser eleita em 2012 com a maior votação da História democrática do país. Mas seu estilo distante e uma série de polêmicas, somadas ao descontentamento social e político, minaram sua popularidade e levaram milhões de pessoas às ruas para pedir a sua saída.Coreia do Sul confirma destituição da presidente

ACUSAÇÕES DE CORRUPÇÃO

O escândalo político que levou à saída de Park teve como figura central Choi Soon-sil, chamada de ?Rasputina? pela imprensa. Amiga da presidente há 40 anos, Choi Soon-sil é acusada de utilizar sua influência para receber mais de 70 milhões de dólares de diferentes empresas sul-coreanas, e de intromissão nos assuntos do Estado.Park pediu perdão em diversas ocasiões pelo escândalo, mas sempre negou as acusações de ter agido ilegalmente.

?Jamais busquei enriquecimento ou abusei do poder como presidente (…). Peço à corte que adote uma decisão sabia”, argumentou em carta enviada aos juízes.

A Corte concluiu que Park violou a lei ao permitir a ingerência de Choi Soo-sil em assuntos do Estado.

?O presidente tem que usar seu poder conforme a Constituição e as leis, e os detalhes sobre sua função devem ser transparentes, para que o povo possa avaliar seu trabalho, mas Park ocultou completamente a intromissão de Choi nos assuntos de Estado, e a negou quando emergiram as acusações, inclusive criticando seus acusadores?. Coreia do Sul

O escândalo envolveu ainda empresários como o herdeiro da multinacional Samsung, Lee Jae-yong, interrogado na quinta-feira como suspeito no caso. A empresa é acusada de doar dinheiro a duas fundações sem fins lucrativos de Choi em troca de apoio político ? Lee admitiu em dezembro ter doado um total de US$ 17 milhões às organizações. Em prisão provisória desde 17 de fevereiro, o empresário, de 48 anos, é acusado de suborno e desfalque, mas voltou a negar as acusações, por meio de um representante. O advogado afirmou que ?as acusações não tinham substância suficiente? e que ?algumas das provas apresentadas eram apenas circunstanciais?. A data da próxima audiência será decidida na próxima semana.

Mesmo num país onde os casos de corrupção política são comuns, as suspeitas sobre Park abriram uma crise política sem precedentes na Coreia do Sul, que assistiu durante várias semanas às maiores manifestações populares desde o retorno à democracia em 1987.

E a presidente fez tudo para evitar o impeachment: demitiu dois assessores que teriam ajudado Choi; pediu ao Parlamento para negociar uma saída antecipada e propôs mudanças na composição do governo para dialogar com a oposição ? além de três pedidos de desculpas públicas. Mas nada disso adiantou. Após protestos que levaram milhões às ruas das cidades do país, o Parlamento decidiu acusar Park em dezembro passado. A moção que destituía a chefe de Estado passou com mais de dois terços dos votos e levou pouco mais de uma hora para ser aprovada. Oito presidentes afastados em processos de impeachment