Cotidiano

Governo vai alegar má gestão na EBC para tentar reconduzir presidente

1018744-10052016dx8g1302-.jpgBRASÍLIA ? Com base em diagnóstico que servirá para o recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de reverter a suspensão da nomeação do jornalista Laerte Rimoli da presidência da empresa, o governo do presidente interino Michel Temer vai sustentar que há ?desgoverno? e ?gestão temerária? na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que tem um déficit de R$ 94,8 milhões. No breve período em que esteve à frente da empresa, a gestão indicada por Temer pediu a suspensão de sete contratos, que equivalem a R$ 2,8 milhões por ano. Só com dois contratos para a veiculação de jogos de futebol estavam comprometidos R$ 17,8 milhões.

O relatório aponta dificuldade de rescisão desses termos. Rimoli permaneceu no comando da EBC por apenas duas semanas. O ministro do STF Dias Toffoli concedeu liminar reconduzindo Ricardo Melo, indicado pela presidente afastada Dilma Rousseff, à presidência da empresa.

EXTINÇÃO DE DIRETORIAS

Além da questão financeira, outro ponto que consta do plano a que O GLOBO teve acesso é o de reestruturar a empresa, extinguindo duas diretorias. De oito, passariam a seis. O objetivo é reduzir custos. Sob a rápida presidência de Rimoli, sua equipe determinou que sejam aproveitados os 2.615 funcionários na produção do conteúdo jornalístico, acabando com parcerias onerosas.

EBC

A contratação do jornalista Sidney Rezende, por cerca de R$ 1 milhão por ano, foi suspensa. Outro programa suspenso foi o Brasilianas, do jornalista Luiz Nassif, cujo contrato é de R$ 761 mil por ano. O projeto da equipe de Temer também fala em reorientar a parte editorial da EBC, que, segundo indicados do peemedebista, passou a usar ?nos últimos anos uma linguagem político-partidária de pensamento único, cunho ideológico, contrariando a própria lei de criação da empresa?.

Auditoria feita a pedido de Temer mostra que um dos contratos questionados é para a transmissão exclusiva do Campeonato Paulista de Futebol ? Série A3, Campeonato Paulista de Futebol Feminino e da Copa Paulista de Futebol. O outro, para a transmissão das séries B, C e D do Campeonato Brasileiro de Futebol. Não foi possível rescindir integralmente esses contratos porque, segundo o material produzido pela nova gestão, eles não foram publicados, nem datados. No caso do campeonato brasileiro, o trato feito previa um ?direito de arena?, pelo qual, mesmo se os jogos não forem todos exibidos, serão desembolsados R$ 6,9 milhões.

O relatório diz que, apesar das reduções na destinação de recursos para a EBC no ano passado, a Diretoria Financeira, sob Dilma, aprovou um plano de trabalho para este ano que amplia o déficit em mais R$ 25,6 milhões. ?Após tomar ciência dessa grave situação e para evitar a continuidade desta gestão temerária, o novo Diretor Presidente, de imediato a partir de sua nomeação em 20/05/2016, proibiu a contratação de novas despesas e vem fazendo análises de suspensão, negociação e/ou rompimentos de contratos que não irão causar descontinuidade nas atividades da empresa?.

Na última segunda-feira, o Conselho Curador da EBC se reuniu e questionou a entrevista que o jornalista Luís Nassif fez com a presidente afastada Dilma Rousseff no sábado passado. O representante dos empregados da EBC no Conselho de Administração, Edvaldo Cuaio, conta que a entrevista contraria uma resolução da diretoria-executiva, que suspendeu o programa de Nassif, e uma orientação do conselho de administração para o controle de gastos. Segundo Cuaio, o diretor-presidente Ricardo Melo decidiu então que não iria colocar a entrevista no ar até que todos os questionamentos estivessem sanados.

Também foi questionado o fato de Nassif ter viajado a Brasília custeado com verba pública. Melo disse que, além de Dilma, Temer também será convidado a dar entrevista, bem como o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. Na terça-feira, chegou a Temer um convite de Melo, por email, para conceder uma entrevista. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência informou que Temer ainda não analisou o pedido. Aliados do presidente interino, no entanto, dizem que ele não tem motivos para aceitar o convite do presidente que ele exonerou e que voltou ao cargo por um recurso impetrado na Justiça.