?Sou dinamarquês e moro em Copenhague. Tenho mestrado em Comunicação, e
trabalho há mais de duas décadas na DR, uma das emissoras públicas de televisão
do país. Já passei por várias posições em diversos canais da rede, e atualmente
sou editor do canal K, focado em cultura, arte, história e religião.?
Conte algo que não sei.
Há muito sobre a Dinamarca que não se sabe por aqui. Temos, por exemplo, duas
grandes emissoras públicas, a DR e a TV2, que, juntas, têm 80% do mercado
televisivo do país.
A Dinamarca é conhecida pelas redes públicas de televisão. Como
elas diferem das emissoras privadas?
Esses serviços públicos de comunicação na Europa são diferentes do resto do
mundo. Você não tem que pensar apenas no número de telespectadores, pois não é
preciso ganhar dinheiro com propaganda. Acho que isso nos permite correr mais
riscos e aproveitar as chances para testar novas ideias de programação.
Que tipos de riscos são esses?
Só a DR tem seis canais, o que permite à emissora arriscar com novos
programas, sem a certeza de como eles vão ser recebidos pelo público. Há séries
sobre o poder da beleza, por exemplo, um tema abstrato. Entendemos que não há um
jeito específico de produzir entretenimento, e que, por isso, são permitidas
experimentações.
Como tantos canais se sustentam?
Na maioria dos países europeus, especialmente no Norte, há um forte setor de
serviços públicos que bancam esses canais. No Reino Unido, na Alemanha, Suécia e
Noruega, existem outros tipos de modelo de financiamento. Na Dinamarca, há uma
grande discussão no Parlamento sobre isso. Hoje, temos uma taxa fixa mensal paga
por toda a população, o que muitos consideram injusto. Então, já se pensa na
adoção de um imposto, com cada cidadão pagando de acordo com sua renda.
A televisão dinamarquesa tem produzido séries televisivas de
sucesso. Qual a razão?
Há muitas respostas possíveis. Uma delas é que as pessoas viram séries
americanas e inglesas por tantos anos que, agora, estão demandando algo novo. Há
muito interesse não só nas séries dinamarquesas, mas também francesas,
islandesas, suecas, de todo o mundo. Os espectadores querem novas maneiras de
contar histórias.
A internet tem mudado boa parte do mercado de entretenimento. Qual
o impacto na TV pública?
A televisão ainda é o principal meio de consumo de
conteúdo. Na Dinamarca, cada cidadão assiste à TV duas horas por dia,
aproximadamente. Ao mesmo tempo, cada vez mais gente, principalmente os mais
jovens, acompanha o conteúdo da TV pela internet. Por isso, é necessária uma
estratégia dupla, que atinja os mais jovens mas não esqueça os mais velhos. A
grande questão é o dinheiro, que continua o mesmo.
Por que a cooperação entre Noruega, Suécia e Dinamarca é tão
intensa, inclusive na televisão?
Nossa linguagem é próxima, podemos nos entender, apesar de cada um ter a sua.
Temos também muitos valores em comum. Além disso, construímos em 1959 a chamada
Nordvision,
uma organização que foca na produção de conteúdo transnacional.
O que há de mais interessante na TV dinamarquesa?
Nossa dramaturgia, em que tentamos entender e capturar o
centro da cultura do país, e nossa programação factual, que tem um tom especial,
se comparada a de outros lugares.