Terra Roxa – O pequeno município de Terra Roxa, no oeste do Paraná, já foi um grande centro comercial. Chegou a ter na década de 1970 cerca de 70 mil habitantes, quando o auge da economia era o cultivo do café e de algodão. Quem vivia ali na época conta que o vai e vem frenético de carros e de pessoas indicava um futuro promissor. Não foi o que aconteceu.
A geada negra de 1975 dizimou os cafezais. As lavouras de algodão foram definhando e a população encolheu com elas.
Hoje, aos 56 anos, são 17,5 mil moradores, mas com uma nova vocação. Ao passo que o cultivo de algodão se desfazia, uma mãe que resolveu fazer o enxoval do próprio filho, há cerca de 25 anos, deu à cidade um novo título. Na época, uma amiga gostou tanto que levou um enxoval para vender, a outra também e nascia então uma fábrica: a primeira da moda bebê.
A entusiasta abriu sua confecção, contratou funcionários e foram eles, ao se desligarem da empresa, que deram origem a outras indústrias no mesmo setor.
Hoje com geração de pelo menos 3 mil empregos diretos, a base da arrecadação do Município segue na agricultura, mas 35% dela vem desse segmento que veste os pequeninos. São pelo menos 40 fábricas e cerca de 300 empresas cujas atuações são voltadas para o setor de confecção. Além desses empregos, está uma infinidade de facções. São homens e mulheres, geralmente microempreendedores individuais da cidade e de municípios próximos, que costuram em casa como prestadores de serviços.
Um selo para comemorar
A forte rede hoje interligada resultou em um título que promete impulsionar ainda mais a economia local e tornar o Município de Terra Roxa conhecido em todo o Brasil, e em parte do mundo. No dia 15 de dezembro de 2017 o presidente Michel Temer reconheceu Terra Roxa como Capital Brasileira da Moda Bebê.
O orgulho está estampado no rosto da secretária de Indústria, Comércio e Turismo, Fernanda Martins. A própria administração pública reconhece que deixou o setor alijado por muitos anos. O desenvolvimento tão esperado só chegou de fato quando o Município começou a caminhar ao lado das indústrias. Próximas e no mesmo rumo, eles realizam qualificações, concedem incentivos municipais e o tão esperado centro de eventos, que vai chegar em breve. O terreno já foi adquirido pelo poder público e ele deve sair do papel a partir deste ano. Ele vai comportar as grandes feiras da moda bebê, que hoje dependem da locação de um espaço particular para serem realizadas. Hoje são duas feiras anuais, a de inverno em julho e a de verão em novembro, mas isso deverá mudar e outras deverão vir por aí.
De Terra Roxa para o mundo
Não é incomum encontrar produtos dali em todos os cantos do Brasil e mesmo fora dele. Pelo menos cinco das 40 indústrias locais exportam as roupinhas.
Para a coordenadora do APL (Arranjo Produtivo Local), Tereza Topolimiak, o selo e o empenho de todos abrirão mais portas. Reconhecido como um dos APLs mais atuantes do Estado, ele reúne pelo menos 31 dessas indústrias. Somaram forças para chegar mais longe, ir além e conseguiram. “Por um tempo se produzia apenas roupas para crianças de zero a um ano, mas agora se percebeu que existe mercado e muitas destas fábricas ampliaram e estão produzindo roupas para até oito anos. são novos mercados no Brasil e no exterior”, contou.
Produção varia de 400 mil a 500 mil peças por mês
Para garantir bons desempenhos e manter o elevado índice de qualidade, aprimoramento e qualificação são constantes e todos contam com importantes parceiros, como o poder público e o Sebrae, por exemplo. A qualificação os faz chegar cada vez mais longe. Altamente profissionalizados, não são raros os empresários que buscam ampliar mercado, dentro e fora do Brasil.
Não por acaso o que é produzido ali representa uma potência em confecção. Saem todos os meses de Terra Roxa de 400 mil a 500 mil peças de roupas que levam o nome do Município na etiqueta.
Pelo menos 45 mil delas são produzidas na Aconchego do Bebê. A empresária Luciane de Paula Fedrigo conta que está no mercado há 17 anos. São 230 funcionários que cortam as peças, além de dezenas de facções que fazem as costuras e devolvem à fábrica para o acabamento. Como o negócio ganha novos horizontes, ela vai ampliar suas raízes para o estado do Mato Grosso do Sul. Ao menos está nos planos.
Diante da dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, ela mesma oferece qualificação dentro da fábrica. Tudo para manter a qualidade e o ritmo de produção. “Se este ano de fato for de recuperação de economia, vamos ampliar a produção. Já temos 32 representantes comerciais que trabalham em todo o País atendendo as lojas e já exportamos para o Paraguai. Se a economia permitir, vamos crescer ainda mais neste ano”, completou.