Cotidiano

Cláudia Cruz ia a eventos na condição de esposa, diz ministro

SÃO PAULO. Convidado a depor como testemunha de defesa de Cláudia Cruz, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, negou que a mulher do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que teve o mandato cassado, participasse de reuniões ou conversas sobre assuntos políticos ao lado do marido. Em depoimento por escrito apresentado ao juiz Sérgio Moro nesta terça-feira, Araújo afirmou esteve em duas viagens internacionais oficiais com o casal, promovidas pela Câmara, e que Cláudia, eventualmente pode ter compareciso em compromissos oficiais, na condição de esposa.

Araújo disse que nunca participou de reunião ou conversas sobre negócios com Cunha e que, dos encontros sobre temas políticos, Cláudia Cruz nunca participou.

Cláudia Cruz é ré na Lava-Jato e responde por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. De acordo com os investigadores da força-tarefa, há indícios de que parte da propina desviada da Petrobras abasteceu contas no exterior em nome de off-shores e trusts usados para pagar cartões de crédito internacional utilizados por Claudia Cruz. Na avaliação dos investigadores, ela tinha plena consciência dos crimes que praticava e era a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior. Entre 2008 e 2014, ela gastou mais de US$ 1 milhão, considerado ?totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito? dela e do marido.

Ao aceitar a denúncia contra a jornalista, o juiz Sérgio Moro afirmou que ela pode ter agido ?por dolo eventual ou com cegueira deliberada?.

?A própria ocultação desses valores em conta secreta no exterior, por ela também não declarada, a aparente inconsistência dos gastos efetuados a partir da conta com os rendimentos lícitos do casal, aliada ao afirmado desinteresse dela em indagar a origem dos recursos, autorizam, pelo menos nessa fase preliminar de recebimento da denúncia, o reconhecimento de possível agir com dolo eventual ou com cegueira deliberada?, afirmou o juiz em despacho.

Em setembro passado, depois da cassação de Cunha, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), enviou para instâncias inferiores do Judiciário duas ações penais o ex-deputado (PMDB-RJ), já que ele perdeu direito a foro privilegiado.

O processo que apura se o ex-deputado tinha contas secretas na Suíça para o recebimento de propina foi transferida para o comando do juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava-Jato na primeira instância. Uma segunda ação, na qual Cunha é investigado pelo suposto recebimento de dinheiro desviado do contrato de navios-sonda da Petrobras, foi encaminhada ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, no Rio de Janeiro.