RIO ? Para seu segundo disco de estúdio, “Duplo” ? sucessor de “Ecos da rua” (2012) ?, o cantor e compositor carioca Brunno Monteiro adotou uma estratégia de lançamento diferente: dividiu o álbum em dois EPs complementares. O “Lado A” foi disponibilizado na semana passada, pelo site “Monkeybuzz“, enquanto o “Lado B” tem seu lançamento digital nesta quarta-feira, com exclusividade no GLOBO (ouça abaixo).
? Fazer um disco duplo foi uma consequência dos meus interesses, acho. Tinha um punhado de canções que compus – sozinho ou com amigos – num violão velho e muitas dúvidas sobre o caminho que daria a elas. Ao mesmo tempo que tinha um desejo do calor de uma gravação ao vivo, com banda tocando à vera, também queria muito experimentar algumas texturas e manter, quem sabe, o minimalismo que me interessava nelas no violão ? explica Brunno, 29 anos, que, além de músico, é formado em biologia. ? Então, entendi que dava pra fazer assim, que o caminho de cada canção era uma questão de escolha também. Fui filtrando e testando quais iam melhor com mais força, chegando mais secas, e quais funcionavam com arranjos mais suspensos, que girassem e ocupassem de outra forma o ar. Brunno Monteiro – Lado B
No fim das contas, contou com a ajuda do produtor Jr Tostoi, cofundador do duo de rock eletrônico carioca Vulgue Tostoi, na montagem da banda e nos arranjos de cada faixa.
Tostoi é um entre tantos (muitos) parceiros que colaboraram com Brunno em “Duplo”. No “Lado B”, por exemplo, o músico faz duetos com Letícia Novaes (em “Ice cream”, única faixa do trabalho cantada em inglês), Lucas Vasconcellos (“Desperto”) e Rafael Rocha (“Chuva e calor”). Omar Salomão, Arthur Nogueira, César Lacerda e Gustavo Macacko completam o time de parceiros das seis faixas.
? Gosto muito de olhar pra trás e notar o quanto a música me aproximou de pessoas que eu admirava. Desde o “Ecos da rua”, passei a circular muito mais não só pelas plateias dos shows, mas também pelos palcos ? conta Brunno. ? A Letícia, por exemplo, conheci quando tocamos na Miranda num show do disco que gravamos em homenagem ao Cazuza (“Agenor ? Canções de Cazuza”, de 2013). Aproximei-me do Lucas no Dobradinhas, festival em que dividimos o palco só eu e ele. O César Lacerda, que compôs comigo a “30 de outubro”, convidei ainda em 2012 para fazer um show comigo. Foi assim com outros, como o próprio Rafael Rocha, que convidei lá atrás, nos shows de lançamento do “Compacto”. Nada foi ao acaso, claro, acho que tenho afinidade e enorme admiração por todos eles, mas foram processos naturais que deram origem a essas canções.
E a lista de aproximações e encontros que floresceram em “Duplo” não para por aí. Entre composições e gravações, Quinteto da Paraíba, Leandro Joaquim, Mariana Fernandes, Gabriel Muzak, Ricardo Vignini, Rabujah e Posada colaboraram no “Lado A”, assim como o power trio carioca Ventre, que figura na regravação de “O filho de Deus”, composição de Nuno Ramos lançada originalmente pelo paulista Rômulo Fróes. Isso sem esquecer da “parede sonora poderosa construída por Tostoi (guitarra), Guila (baixo) e Raphael Miranda (bateria)”, como bem descreveu Leonardo Lichote, crítico musical do GLOBO, no release da primeira metade. Brunno Monteiro – Lado A
“A influência da Santíssima Trindade de Brunno – Bowie, Lennon e Cobain – cruza o álbum como chão sobre o qual o artista caminha com personalidade, nunca como pastiche”, avalia Lichote.
Carlos Albuquerque, ex-crítico do GLOBO, foi o escolhido para esmiuçar a banda final do fruto do requintado processo criativo de Brunno. “O lado B de Brunno é líquido, fluido e envolvente. É um lugar onde a canção se livra de qualquer amarra e flutua, livremente, num oceano de possibilidades. É onde nenhum homem (ou mulher) é uma ilha ? sombras de James Blake e Sérgio Sampaio, por exemplo, são vizinhas de faixa ? e onde todas as migrações são permitidas”.
A pluralidade de gêneros, que soa tão natural quanto certeira, também ganha destaque na análise: “Nesse ambiente, criado, segundo o autor, pela simples necessidade de fazer seus ‘lados musicais conviverem’, o navegar entre gêneros é impreciso: o rock é eletrônico, o experimental é pop e a MPB é uma distorção que dá gosto”.
E Carlos Albuquerque conclui: “O som de Brunno Monteiro ? em estéreo perfeito, alta fidelidade – é delicado e equilibrado. E dá uma onda boa e diferente a cada troca”.
Com o disco na praça, Brunno se prepara agora para apresentá-lo nos palcos. E já tem dois shows confirmados no Rio: na próxima quinta-feira, dia 28, no Espaço Cultural BNDES, e no dia 7 de agosto, um domingo, no Circo Voador, quando divide espaço com a banda paraibana Burro Morto, destaque da nova música instrumental brasileira, no festival Praça.
SERVIÇO
Quintas no BNDES – Brunno Monteiro
Onde: Espaço Cultural BNDES ? Avenida República do Chile, 100, Centro (2172-7447).
Quando: Quinta-feira, dia 28, às 19h.
Quanto: Entrada gratuita (retirada de ingressos a partir das 18h ou pelo site bndes.gov.br/espacobndes).
Classificação: Livre.
Praça (com Burro Morto e Brunno Monteiro)
Onde: Circo Voador ? Rua dos Arcos, s/nº, Lapa (2533-0354)..
Quando: Domingo, 7 de agosto, às 16h20min.
Quanto: De R$ 10 (estudantes, menores de 21 ou a quem doar um quadrinho).
Classificação: 18 anos.