Cotidiano

Brexit põe fim a longo casamento de conveniência entre Reino Unido e UE

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LONDRES ? O Reino Unido iniciou nesta quarta-feira o processo de ruptura com a União Europeia. Este será o fim a mais de quatro décadas de um casamento conveniente, sobretudo, pelas questões econômicas, explicam os especialistas. E, agora, uma das maiores dúvidas sobre o Brexit é, justamente, o futuro das relações comerciais entre Londres e seus vizinhos europeus, uma vez que as duas partes deverão enfrentar dificuldades para definir os termos de um eventual acordo para a economia. Brexit

? Desde 1973, foi uma relação utilitarista com o foco voltado para a dimensão econômica ? disse Pauline Schnapper, professora de estudos da civilização britânica na Universidade de Sorbonne de Paris. ? A dimensão sentimental foi quase inexistente.

Analistas também lembram que o Reino Unido não quis se somar inicialmente ao projeto europeu, concebido após a Segunda Guerra Mundial em um espírito de reconciliação internacional. No entanto, à época, os britânicos haviam vencido a guerra, e se sentiam fortes pela sua relação especial com os Estados Unidos e pelo que restava do seu Império.

? Foi uma relação transacional ? estimou, na mesma linha, Anand Menon, professor britânico de política europeia do King’s College de Londres. ? Consequentemente, o divórcio é bastante lógico. Não nos sentíamos vulneráveis o bastante para nos somarmos.Entenda o Brexit em um minuto

‘O CLUBE DOS OUTROS’

No início de 1960, no entanto, a situação mudou: o crescimento econômico britânico estava abaixo do registrado por seus vizinhos franceses e alemães e o mercado comum se tornou mais atrativo.

Mas a adesão do Reino Unido não foi fácil. Sua primeira candidatura, em 1961, se deparou com o veto do presidente francês Charles de Gaulle, que via nos britânicos um Cavalo de Troia americano e questionava seu espírito europeu.

Depois de outro veto de De Gaulle, em 1967, o Reino Unido finalmente entrou na Comunidade Econômica Europeia em 1973. No entanto, a entrada coincidiu com o impacto da primeira crise do petróleo, e o impulso econômico esperado não ocorreu.Info – dicionario brexit

Em 1975, apenas dois anos depois de sua entrada, os britânicos celebraram o primeiro referendo sobre a Comunidade Econômica Europeia, no qual a permanência se impôs com apoio de 67%.

Este resultado não acabou com as reticências, e é difícil lembrar algum político britânico que tenha defendido entusiasticamente os benefícios da adesão, além, talvez, de Tony Blair.

? Entrar tarde reforçou a sensação de mal-estar (…) de que havíamos nos unido a um clube moldado por outros ? explicou Menon.

A primeira crise não demorou a aparecer. Em 1979, Londres se negou a participar do sistema monetário europeu em nome da soberania nacional e monetária. E também se opôs a qualquer iniciativa para fortalecer a integração política, reforçando a impressão de que o Reino Unido tinha um pé dentro e um pé fora do bloco. Em 1985, também se negou a participar de Schengen – que definia o desaparecimento dos controles fronteiriços – e, em 1993, não quis entrar na zona do euro.Em cinco cenários, o que acontece com a União Europeia após o Brexit?

‘DEVOLVAM MEU DINHEIRO’

As reticências se cristalizaram no discurso de Margaret Thatcher de 1988. Na ocasião, ela rejeitou a ideia “de um superestado europeu”. Quatro anos antes, a líder conservadora havia obtido finalmente uma diminuição da contribuição britânica ao orçamento da UE ao famoso grito de “Devolvam meu dinheiro”.

A desconfiança em relação a Bruxelas se acentuou em meados dos anos 90, com a criação do UKIP, o Partido para a Independência do Reino Unido, que defendia a saída britânica da UE. Seu êxito eleitoral, particularmente nas eleições europeias de 2014, levou o Partido Conservador, que já tinha seu próprio setor eurocético, a endurecer seu discurso.

A crise na Eurozona e a imigração europeia radicalizaram o debate, levando o ex-primeiro-ministro britânico, David Cameron, a convocar o referendo de 23 de junho de 2016. Ele apostou o cargo na consulta popular, com uma intensa campanha pela permanência do Reino Unido na UE. Derrotado, ele se demitiu do cargo e seu Gabinete foi substituído por uma equipe pensada especialmente para o Brexit. Info – linha do tempo brexit