Cotidiano

Aquecido, mercado imobiliário projeta atrair 20 mil pessoas/ano para Cascavel

Aquecido, mercado imobiliário projeta atrair 20 mil pessoas/ano para Cascavel

O título de terceira melhor cidade do Brasil para se morar tem provocado um efeito surpreendente e aquecido o mercado imobiliário de Cascavel. Para comprovar essa realidade, basta olhar o número expressivo de construções verticais e imóveis em fase de edificação. E a tendência é de crescimento exponencial para os próximos anos.

Em entrevista ao O Paraná, o diretor do Secovi-PR e proprietário da Imobiliária L.A.L, Luiz Antonio Langer, revela que a cidade tem crescido até 3% ano após ano. Colocando na ponta do lápis uma população estimada de 330 mil habitantes (ou 340 mil), a cidade recebe todos os anos pelo menos 20 mil “forasteiros” de várias partes do Paraná e de outros estados do Brasil. Se o ritmo for mantido, em três anos, cascavel chegará aos 400 mil habitantes.

 

Pré e pós pandemia

Atualmente, o mercado de locação e venda de imóveis é sustentado em duas realidades: pré e pós- pandemia. Primeiramente, Langer faz uma avaliação criteriosa do mercado de locação. “Na época da pandemia, mudou o conceito de locação. Com o incentivo ao home office, os escritórios passaram a ficar inabitados, sobrando imóveis com este perfil naquele momento”. Com o fim da pandemia – continua ele -, o cenário já passou a ser outro. “O e-commerce passou a ser a coqueluche do momento, com muitas empresas migrando para esse conceito”. Os barracões apresentaram um índice de locação considerável, tanto que não se achava mais imóvel na cidade com este perfil. Já quem estava em uma instalação similar, investiu recursos para tornar o ambiente mais agradável e funcional.

O segundo ponto envolve o comportamento das pessoas em suas casas. Com o lockdown, quem morava de aluguel em um ambiente de dois quartos e tinha aporte financeiro para a mudança, procurou um espaço maior para acomodar a família, também em sistema de locação. Agora, no aspecto comercial, hoje, o cenário é de instabilidade em função da expectativa em relação ao próximo governante na esfera federal. “Do início do ano para cá há uma incerteza no País em relação à política”. Segundo Langer, o mercado de locação comercial atravessa um período de estagnação. “Acredito que após o período eleitoral, as coisas voltem para a normalidade”.

Na pandemia, muitas empresas migraram de local para uma locação mais em conta. “Aquelas que pagavam R$ 30 mil na Avenida Brasil foram para outros perímetros, na Rio Grande do Sul ou Carlos Gomes, por exemplo, pagando R$ 15 mil”. Ou seja, não fecharam as portas, apenas mudaram de endereço e adequaram os seus custos.

 

“É o amor”

Dentro do perfil de alto padrão, a Construtora Dallo, por exemplo, bastante conhecida principalmente no litoral catarinense pelos arranha-céus erguidos em Itapema e Meia-Praia, mira seus investimentos na Capital do Oeste. O mesmo ocorre com o cantor Zezé Di Camargo, que adquiriu uma área de 30 alqueires, nas proximidades do Trevo Cataratas, em que pretende, ao lado de outros investidores, erguer uma estrutura que levará o nome de “É o amor”.

 

“Ninguém segura Cascavel”

Na perspectiva do diretor do Secovi, “ninguém segura mais Cascavel”. No campo das vendas, o mercado imobiliário nunca esteve tão em alta como na pandemia. Dois fatores influenciaram diretamente, na ótica de Langer: o preço da commodity soja, chegando na época a estratosféricos R$ 200 a saca e a queda do rendimento das aplicações, com a Selic chegando a 2,5%.

Em 2021, com a pandemia mais fortalecida do que nunca, os reflexos começaram a serem sentidos de maneira mais intensa. A alta dos juros e da Selic, provocou o aumento da inflação e para piorar, a agricultura sentiu a baque gerado pela elevação dos custos de produção, encarecendo ainda mais os produtos e a mão de obra, além de períodos críticos da estiagem. O poder de compra foi afetado drasticamente, com o preço altíssimo dos materiais de construção e, por sua vez, refletindo nos valores dos imóveis. Hoje, a realidade é a seguinte: há crédito, mas as pessoas não têm o valor de entrada dos imóveis, que chega a ser de 20% a 30% do investimento total.

 

Cidade referência

Conforme Langer, Cascavel tem atraído pessoas das cidades circunvizinhas. “Somos uma cidade de médio porte referência em educação e saúde. E esse fenômeno também é verificado com pessoas de grandes centros urbanos e dispostas a deixar as capitais, como, por exemplo, Curitiba, Belo Horizonte, e outras”. Na semana passada, Langer conta que atendeu um casal de idosos aposentados interessados em morar em Cascavel. “Está vindo gente de todo o Brasil”.

Há empregos, qualidade de vida e isso é realmente um chamariz. “Ela [a cidade] está realmente bonita. Bem estrutura e com oportunidades singulares”. Lange conta que locou sete imóveis somente para membros de uma mesma família procedente de Macapá. “Lá, o pai de família tinha uma renda média de R$ 1.500. Em Cascavel, passou para R$ 7.600 somando o salário dele, dos filhos e da esposa. Aqui é terra para quem quer trabalhar. Emprego tem bastante”.

O custo das áreas urbanas é considerado elevado no momento, mas o diretor do Secovi acredita que com o novo Plano Diretor, esses valores devem se tornar mais flexíveis e se tornar mais em conta para os investidores, e por sua vez, para a população.

 

“Mercado voltará para os trilhos após as eleições”

Para a agente imobiliária da HS Imóveis, Joceane Cechella, profissional com 12 anos de experiência no segmento, o momento atual é de desaceleração, em virtude do período pré-eleitoral. “Muitos clientes aguardam o resultado das eleições para decidir qual rumo tomar”, comenta. Ela acredita que o mercado voltará para os trilhos após as eleições, retomando a expansão sentida nos dois últimos anos, mesmo com o período delicado vivido na pandemia. “Já temos uma programação com lançamentos semanais, tanto para residenciais/comerciais, loteamento e condomínios fechados, ou seja, uma projeção do que vai ser lançado em um ano em Cascavel”, ressalta Joceane.

A agente imobiliária volta no tempo para citar os episódios registrados em 2020. “Nos primeiros 15 dias do ápice da pandemia, o telefone da imobiliária sequer tocou. Depois de um tempo, experimentamos um novo momento, retomando o fechamento de negócios, por conta da procura intensa das pessoas que, mais tempo em casa, perceberam a necessidade de adquirir um imóvel maior, espaço de lazer para as crianças, elevando a procura, principalmente em condomínios fechados”. É contraditório – continua ela-, mas quando ocorreram as restrições, o mercado acelerou e tudo passou a ser urgente. “Já hoje, os negócios ocorrem com mais tempo de análise por parte das pessoas”.

Em relação ao advento de empreendimentos de alto padrão em Cascavel, o ponto forte é a qualidade de vida que pode ser oferecida pelo município e toda a estrutura de saúde, educação e segurança. “A baixa dos juros também influenciou e cativou esse nicho de mercado, pois o valor investido estava rendendo muito pouco e por isso, ouve a migração de capital de aplicações para investimentos em imóveis”. O agronegócio desempenha papel imprescindível para Cascavel, pois movimento a economia. “Se o agro vai bem, tudo acompanha, inclusive, o setor imobiliário”.