Cotidiano

ANÁLISE: Banco Central decidiu manter liberdade para trabalhar

INFOCHPDPICT000062100563BRASÍLIA – Tanta coisa pode influenciar a decisão do Banco Central daqui para frente que o Comitê de Política Monetária (Copom) resolveu que tem de manter um certo grau de liberdade para trabalhar. Isso significa que não se comprometeu com o futuro: pode continuar com o ritmo de corte de juros ou acelerar a queda para incentivar a retomada do crescimento. As maiores incertezas para uma mudança na estratégia da política de juros estão na área política: será que a reforma da previdência andará no Congresso e qual será o estrago da delação da Odebrecht no governo?

É o que perguntam os economistas ouvidos pelo GLOBO. Segundo eles, isso interfere diretamente na possibilidade de o Banco Central passar a cortar 1 ponto percentual da taxa básica de juros em vez de manter as baixas de 0,75 ponto percentual como tem feito. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano. E é consenso que há espaço para novas reduções por causa da queda consistente das expectativas de inflação e da retomada nada acelerada do crescimento econômico.

Mercado 2 de março

Os economistas elegeram a reforma da previdência como a possível alavancadora de um processo mais forte de redução dos juros. O cenário externo citado pelo BC, por exemplo, nem é lembrado na hora de analisar a ata do Copom, publicada nesta quinta-feira.

Veja as diferentes opiniões dos economistas ouvidos pelo GLOBO:

André Perfeito, economista-chefe da Corretora Gradual

Ele mantém a aposta em um novo corte de 0,75 ponto percentual. Diz que ?o BC tem de recuar o exército sem pressa para não demonstrar covardia e nem tão devagar que pareça obrigação?. Ele refere-se à pressão política para que o país volte a crescer. Lembra, entretanto, que nada está certo e que se o Congresso Nacional aprovasse a reforma da previdência na semana que vem, a taxa Selic poderia cair mais de um ponto percentual. No entanto, ele ressalta: ?Já estamos vendo um monte de deputado já falando ‘veja bem’ ultimamente?.

Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos

Ela disse que a ata conseguiu mudar sua opinião e que passou a apostar em um corte de 1 ponto percentual, mas “não com o peito aberto”. Ressaltou que o texto discorre que o BC reflete sobre o assunto. “Está refletindo demais para não levar a sério”. Ela pondera que o próprio Copom coloca condições para a aceleração dos cortes. Nos cálculos da economista, a taxa de juro neutra (aquela que não controla e nem incentiva a inflação) brasileira está entre 9,5% ao ano e 10% ao ano. “Tem de botar em ponto morto rapidamente”, segundo a analista para testar a economia. Para Zeina, o ponto mais polêmico no radar do BC é a reforma da previdência. “Se chegar no próximo Copom com bons sinais, a chance de corte de 1 ponto percentual é maior”.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating:

Um corte maior que 0,75 ponto percentual só seria possível se a economia surpreendesse para pior. Ele lembra que o IBGE divulgará neste mês o PIB de 2016. Para o analista, se a recessão for maior que 3,7%, abriria espaço para um corte de 1 ponto percentual. Outro fator que ajudaria a acelerar a queda dos juros seria uma queda ainda mais consistente das projeções do BC para a inflação de 2018. “Grau de liberdade o BC sempre teve. Agora, queremos saber qual o intuito de botar essa frase”, disse o economista, que cita incertezas como a delação da Odebrecht, a reforma da previdência e quedas maiores nas projeções de inflação. “Acreditar que ele vai jogar para 1 ponto percentual é difícil. Não faz sentido acelerar agora. O ambiente político está bem complicado. Só deve acelerar o corte se a retomada continuar branda e a inflação comece a rodar em 3%. Se ficar em 4,5%, vai ser 0,75 ponto percentual”.

Alexandre Póvoa, economista-chefe da Canepa Asset:

Ele diz que não viu grande novidade na ata publicada nesta quinta-feira e que continua a trabalhar com uma queda de 0,75 ponto percentual. Falou que a questão mais importante para a queda dos juros daqui para frente é a aprovação da reforma da previdência e que uma aprovação rápida mexeria na condução da política de juros porque reduziria a taxa neutra da economia. Ele falou, entretanto, que se as expectativas de inflação caíssem mais fortemente do que já diminuíram, o BC poderia cortar 1 ponto percentual da Selic.