
Praticar esportes é muito mais do que cuidar da saúde física. Para quem vive o exercício como estilo de vida, trata-se também de cultivar autonomia, fortalecer a autoestima e expandir os laços sociais. Os benefícios da atividade física na terceira idade são reconhecidos por especialistas e vão muito além da prevenção de doenças. Manter-se em movimento, seja caminhando, correndo ou dançando, é uma forma poderosa de combater a depressão, melhorar o sono e renovar a energia para o cotidiano. Em uma era marcada pelo envelhecimento da população, histórias de longevidade ativa ganham ainda mais valor.
Em Cascavel, um desses exemplos tem nome, sobrenome e um fôlego invejável: Altamiro Rodrigues, 64 anos, vendedor de móveis e corredor apaixonado. Em agosto deste ano, ele embarca em uma jornada que desafia os limites do corpo e da mente: percorrer correndo os cerca de 500 quilômetros entre Cascavel e Curitiba, pela rodovia BR-277. No caminho, Altamiro passará por mais de dez cidades, enfrentando subidas, descidas, trânsito intenso e um clima imprevisível.
Passo em passo de um desafio de 500 km
Altamiro conversou com a equipe da Hoje Express para revelar detalhes da preparação, da logística e da motivação por trás da empreitada. A meta é clara: sair de Cascavel no dia 8 de agosto e chegar à capital paranaense no dia 31. “Todos os dias, vou correr cerca de 21 km para realizar essa prova em, no máximo, 24 dias”, explica. E faz questão de reforçar: “Essa é nossa meta, nosso objetivo.”
Mais do que um esforço físico, o desafio representa uma batalha mental. A BR-277 é uma das principais rodovias do Paraná e atravessa o estado de leste a oeste, com longos trechos de pista simples e aclives exigentes. “Poderemos enfrentar contratempos, mas nada que vá nos preocupar demais. Sei o que estou fazendo. É questão de preparo e, principalmente, de foco”, garante o atleta.
Raízes mineiras, espírito paranaense
Natural de Itabira, no interior de Minas Gerais, Altamiro chegou ao Paraná ainda menino. Viveu em Guaíra, na fronteira com o Paraguai, e depois em Curitiba, até se estabelecer em Cascavel, onde mora desde 1983. São 42 anos de história com a cidade. Ganhou notoriedade local por ter sido professor de karatê durante anos, até que questões médicas o afastaram das aulas.
“Precisei optar pelas corridas por recomendação médica. Comecei a praticar e fui me apaixonando pelos desafios”, recorda. Desde então, a corrida se tornou parte da rotina, mesmo que os treinos aconteçam em horários pouco convencionais. “Quando dá 23h, meia-noite, estou na avenida fazendo minhas corridas”, conta, sem perder o entusiasmo.
Experiência que inspira confiança
Desde 2012, Altamiro mergulhou de cabeça nas corridas de rua. Hoje, acumula mais de 100 provas urbanas no currículo, dentro e fora de Cascavel. “Onde tem prova em Cascavel, eu participo. Já corri as corridas da Polícia Militar, da Apae, da Zero Açúcar, entre outras”, enumera com orgulho.
Antes de enfrentar os 500 km pela estrada, ele fez um teste simbólico: correu a mesma distância no Lago Municipal de Cascavel. “Completamos em 22 dias. Foi tranquilo, pois é um terreno plano. Agora, na estrada, teremos subidas, descidas, trânsito, clima… Mas vamos preparados”, afirma.
Um exemplo para a terceira idade
Para Altamiro, correr não é apenas superação. É missão. “O importante é que várias pessoas estão praticando esporte por minha influência, por incentivo, motivação. O pensamento é que nunca é tarde para começar”, afirma. Ele também destaca a importância de abandonar as desculpas e se comprometer com a saúde: “Se você não pode ir à academia, pode treinar em áreas públicas, parques, avenidas. O importante é fazer exercício para ganhar saúde.”
No início, as dificuldades não foram poucas — inclusive materiais. “Algumas vezes já corri descalço. Não é o ideal, mas ajuda a fortalecer o espírito e a lidar com a dor. É bom senti-la para entender como você está nas questões físicas, mentais e emocionais.”
Time, estrutura e linha de chegada simbólica
A jornada contará com uma equipe de apoio enxuta, mas dedicada, liderada por Renato Xavier, profissional de marketing e entusiasta do projeto. “Tivemos uma reunião e ele veio com a ideia de correr até Curitiba. Fizemos um teste no Lago Municipal para comprovar que era possível. Agora é a prova real”, diz.
Um veículo van acompanhará Altamiro ao longo de todo o trajeto, com suporte de três a quatro profissionais, incluindo um nutricionista, um fisioterapeuta, um socorrista e equipe de filmagem. “Após os 21 km do dia, iremos até a cidade mais próxima para descansar. No dia seguinte, voltamos exatamente ao ponto de parada e seguimos por mais 21 km”, explica Renato.
A chegada em Curitiba também está sendo planejada com cuidado. Uma linha simbólica marcará o fim do percurso, e o plano é contar com a presença do público. “Queremos que algumas pessoas acompanhem ele no último trecho, para fazer uma chegada bonita”, adianta.
Correr por um propósito
Altamiro segue treinando firme pelas ruas de Cascavel até a largada oficial em agosto. A motivação, garante, vai além do desempenho: “A dor passa, o orgulho fica. Quero mostrar que a idade não limita ninguém.”
O maratonista também criou o projeto ‘Apoiadores do Altamiro’, para quem quiser contribuir com a iniciativa — seja financeiramente, seja como parceiro de divulgação. As doações ajudam a cobrir custos com alimentação, transporte, hospedagem e profissionais da saúde.
Para saber mais ou apoiar a jornada, basta seguir o atleta nas redes sociais @altamiro.rodrigues.maratonista e entrar em contato pelo direct.