Toledo – Os produtores que já colheram o milho safrinha, os que estão prestes a iniciar a colheita do trigo ou aqueles que deixaram a área em pousio (descanso) se preparam para o cultivo da safra de verão que começa em um mês.
A soja, principal cultura no ciclo, promete ocupar mais uma vez mais de 1 milhão de hectares em todo o oeste e esses dados estão sendo finalizados pelo Deral (Departamento de Economia Rural) nos núcleos da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Toledo e de Cascavel. Os técnicos seguem no campo para esse tipo de apuração.
Ocorre que, antes mesmo de uma estimativa de produção, de produtividade e definição de área, produtores rurais que se transformaram em empreendedores do campo estão sempre de olho no mercado.
Mais fortemente de uma década para cá, atendendo inclusive orientações técnicas, muitos deles têm vendido parte da soja antes mesmo de ser plantada, nos chamados contratos de venda futura.
Entre as indicações para isso está a garantia de preços, caso a cotação do produto no mercado internacional despenque no momento da colheita, e para assegurar ao menos a cobertura do custeio. Essa indicação varia de 20% a 30% da produção por lavoura, só que na região os números ainda eram mais modestos.
Com potencial produtivo que pode chegar bem perto de 4 milhões de toneladas de soja somente no oeste, as vendas nos chamados contratos futuros, que neste período costumam somar de 5% a 10% daquilo que pode ser colhido, ou seja, de 200 mil a 400 mil toneladas, neste ano não chega a 1%, segundo levantamento de cooperativas e cerealistas.
A justificativa também está no preço que vem sendo praticado pela saca da oleaginosa, mas mais fortemente por outro indicador. Se no balcão ela está cotada a R$ 80 a saca de 60 kg, nas vendas futuras, ou seja, no contrato assinado hoje para a entrega do cereal no primeiro trimestre de 2019 o valor que está sendo pago é de até R$ 74. “Muitos produtores que enxergam hoje a soja sendo vendida a R$ 80 não querem vender por R$ 73 ou R$ 74”, diz o especialista de mercado Camilo Motter.
Mas o principal dos motivos está relacionado às incertezas jurídicas quanto ao preço do frete rodoviário.
Segundo o Deral, as estatísticas que se desenham para a nova safra apontam esse indicador de certo modo preocupante. “Como os embarcadores têm dúvida sobre como vai ficar a formação do preço do frete, as vendas antecipadas simplesmente estacionaram. Ninguém quer arriscar em contratos que não se sabe o quanto vai pagar pelo transporte nem quem vai pagar por ele”, seguiu.
Nesta quarta-feira (8) expira o prazo legal para o presidente da República, Michel Temer, sancionar a polêmica a medida provisória que regulamenta a tabela de preço mínimo para o frete. O tabelamento, que foi parar na Justiça, terá sua legalidade analisada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no fim deste mês.
Acordo e frota própria
Diante de tantas incertezas, o tabelamento do frete determinado pelo governo federal encareceu em cerca de 55% o transporte de cargas a granel da região rumo ao Porto de Paranaguá.
Uma nova formatação da tabela está em análise na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e, mesmo diante de tantas incertezas jurídicas, as indústrias voltaram a contratar mês passado, em parte dos casos com preços acordados entre embarcadores e transportadores.
O diretor da Frimesa, Elias Zydek, uma das principais indústrias com centrais de distribuição por todo o País, reforçou que, enquanto o cenário segue repleto de indefinições, o “acordo que tem valido é aquele feito entre transportadores e embarcadores”.
Isso estaria dando vazão, inclusive, para o fechamento de novas vendas de forma que as exportações não emperrem diante do encarecimento iminente dos produtos. As transações externas, por exemplo, que chegaram a frear expressivamente em junho, com cerca de 30% da safra passada estocada, começou a tomar um novo fôlego no mês passado.
Outra vertente vem dos embarcadores que têm frota própria e estão estimulando o transporte com os seus veículos e contratando apenas para o carregamento do excedente. Há indústrias, inclusive, que reabriram a análise para voltar a ter frotas próprias, a exemplo do que algumas grandes indústrias faziam na década de 1980 e 1990.
Vazio sanitário sem notificações
O vazio sanitário da soja que no Paraná começou dia 10 de junho passado e que se encerra no dia 10 de setembro está, até o momento, com nenhuma notificação de localização da chamada soja tiguera na região. Ela corresponde à planta remanescente, cultivada voluntária ou involuntariamente.
Segundo a Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), no núcleo de Cascavel não foram encontradas lavouras com a oleaginosa.
As equipes estão a campo porque o produtor que for identificado cultivando o cereal no período do vazio será notificado e pode receber multa.
O vazio sanitário visa eliminar os hospedeiros da ferrugem asiática da soja. A doença pode dizimar cultivos comerciais inteiros. No ciclo passado foram registrados mais de cem casos de ferrugem nas lavouras da região.
O plantio da soja nas modalidades superprecoce e precoce ocorrem no início do próximo mês. Vale destacar que as plantas não podem estar emergidas antes de 10 de setembro.