SÃO PAULO – Em contato com a água, Vincent se transforma e ganha dez vezes mais força. Como nos quadrinhos de super-heróis americanos, o francês Thomas Salvador partiu de um fiapo de história para criar o protagonista de seu primeiro filme como diretor, ?Tudo sobre Vincent?, que tem estreia prevista para esta quinta-feira nos cinemas do Rio. Além de dirigir, Salvador escreveu o roteiro, interpreta o personagem principal, assina os efeitos especiais e dispensou dublê na maior parte das cenas de ação. Um caso típico de bricolagem cinematográfica.
? Eu tive essa ideia a partir de uma imagem, um sonho ? disse ele, em entrevista por telefone, de Paris. ? Um cara na água, em um pequeno rio nas montanhas. E essa pessoa faz coisas extraordinárias.
Fã de quadrinhos de super-heróis, Salvador lia muito essas revistas quando adolescente. Ele admite que ainda vai ao cinema para assistir aos filmes baseados nos personagens da Marvel, da DC Comics e de outras editoras americanas. Mas, como bom francês, tem uma abordagem muito crítica sobre as grandes e milionárias produções:
? São muito ruins, a maior parte delas. Pensam muito nos efeitos e pouco nos personagens. Além disso, não têm cuidado com a história que vai ser contada. São produções feitas para ganhar dinheiro. ?Batman vs. Superman?, por exemplo, é um grande trailer para os filmes da Mulher Maravilha, do Aquaman e de outros personagens da DC. É muito triste.
Vincent é muito diferente dos super-heróis americanos. A começar pelo ambiente que escolhe para viver: uma área rica em lagos e rios, para estar perto de sua principal fonte de energia. Além disso, não usa identidade secreta e nem uniforme colante com capa, mas é arredio, para poder preservar o seu segredo. Ele vive nessas condições até se apaixonar, o que vai levá-lo a experimentar outras situações. A atriz Vimala Pons, que faz o papel de Lucie, namorada de Vincent, e Youssef Hajdi, que interpreta Driss, amigo e colega de trabalho do herói, completam o núcleo central do elenco.
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?Tudo sobre Vincent? tem um registro realista. Quase todo rodado no sul da França, no Rio Gorges du Verdon, na região da Provença, e na Côte d?Azur, o filme de Salvador não passa por maquiagem de computação gráfica e dispensa efeitos em terceira dimensão. Os efeitos, aliás, são quase todos mecânicos, para manter o realismo e, de acordo com o diretor, não se sobrepor ao personagem e à história:
? Eu queria que os espectadores conhecessem o personagem antes de mostrá-lo fazendo coisas extraordinárias. Queria que os jovens vissem que o que ele faz é possível no mundo real. Não sou contra a computação gráfica. Não precisa ser um grande especialista para ver que aquilo nos filmes que usam esses recursos não é verdadeiro. O efeito mecânico é muito mais realista, quase como os truques de circo. Quando eu pulo, pulo mesmo, só que com a ajuda de engenhocas. São truques difíceis, mas simples.
Salvador fez ele mesmo quase todas as cenas de ação, até as mais perigosas. Em apenas uma delas, garante ele, foi usado um dublê, por causa de um problema em seu joelho em razão de um passado não muito bem-sucedido como atleta. A ideia por trás dessa decisão, segundo o diretor, foi mostrar que coisas extraordinárias não precisam ser exageradas.
? Vincent tem dez vezes mais força do que um homem normal em contato com a água, não cem vezes ou mil vezes, como o Superman. A betoneira, por exemplo, não tinha o peso de um carro de verdade, era de mentirinha e tinha seis vezes menos peso do que o normal. Quando atiro o veículo para longe, eu faço de verdade. Então, a ação que o espectador vê na tela é de verdade.
