BRASÍLIA ? O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, negou, nesta terça-feira, três recursos que alterariam alguns pontos do processo de impeachment aberto no Senado contra a presidente afastada Dilma Rousseff. Com isso, ele garante tanto a permanência do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) na relatoria do processo, como o direito de Dilma chamar 48 testemunhas ? e não apenas 16 ? para depor. O processo do impeachment é presidido pelo presidente do STF, que funciona como instância recursal à comissão especial do Senado. Mas, em uma das decisões, Lewandowski indicou que tentará não interferir nos trabalhos, uma vez que o processo não é apenas jurídico, mas também político, devendo-se assim prestigiar as decisões tomadas pelos senadores.
Um dos recursos foi apresentado pelo advogado Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment, e pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), líder do governo do presidente interino Michel Temer. Eles contestam decisão tomada pelo presidente da comissão do impeachment, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), que permitiu a Dilma apresentar 48 testemunhas. São oito para as pedaladas fiscais ? uso de bancos públicos para maquiar as contas públicas ? e oito para cada um dos cinco decretos de crédito editados por Dilma, fatos que motivaram o impeachment.
Reale Júnior e Aloysio queriam que os decretos fossem considerados em conjunto, totalizando 16 testemunhas, o que daria mais celeridade ao processo. Mas Lewandowski entendeu que Lira “simplesmente exerceu a faculdade de aceitar as provas que entendeu necessárias e pertinentes para o cabal convencimento dos senadores”. Além disso, destacou que o presidente da comissão “prestou homenagem ao princípio da ampla defesa consagrado na Constituição Federal e não contrariou a Carta Maior, porquanto apenas sinalizou que a Comissão Especial pretende ouvir um certo número de testemunhas de defesa e, consequentemente, os seus esclarecimentos sobre os fatos em debate nos autos”.
Lewandowski também sinalizou que vai evitar interferir nos trabalhos da comissão. Segundo ele, os fatos “estão inseridos em um contexto que não é apenas jurídico, mas é também político, devendo-se, também por esta razão, prestigiar as decisões dos senhores Senadores da República”.
Os outros dois recursos foram apresentados pela defesa de Dilma, questionando o fato de Anastasia ser relator. Isso porque dois dos autores do pedido de impeachment ? os advogados Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal ? teriam alguma relação ou proximidade com o PSDB. Reale seria filiado ao partido, e Paschoal teria admitido que foi remunerada em R$ 45 mil por trabalho feito para o PSDB. Lewandowski refutou os argumentos.
“Ora, a denúncia (que deu origem ao processo de impeachment) é de autoria popular. O fato de um dos denunciante ser filiado ao mesmo partido político a que pertence o Relator não a transmuda em acusação da agremiação política a que ele pertence. Nem mesmo a situação admitida pela denunciada Janaina Paschoal – a de que teria recebido pela denunciada do PSDB – tem o condão de afastar da relatoria o Senador Antonio Anastasia, pois não transforma o partido a que este parlamentar pertence em autor da denúncia. A vingar tal raciocínio teriam de ser afastados da Comissão Especial todos os Senadores do PSDB, por falta de isenção, o que, data venia, não se mostra razoável”, decidiu Lewandowski.