Responsável por um percentual considerável do PIB agropecuário nacional, o Paraná tem dedicado atenção especial para o calendário da semeadura da soja para a safra 2025/26. A proposta a ser encaminhada ao Ministério da Agricultura defende um calendário regionalizado, a exemplo do que já vem sendo feito nos últimos anos.
A proposta a favor da sequência dos últimos ciclos teve amplo debate entre produtores rurais e técnicos durante fórum promovido pela FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná). A solicitação é de que permaneça a divisão o Estado em três regiões, com datas específicas para cada uma delas. O evento conta com uma iniciativa da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, juntamente com a Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento), Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) e Sistema FAEP.
Essa calendarização já está prevista no PNCFS (Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja). A doença é provocada pelo fundo Phakopsora pachyrhizi. De acordo com José Antonio Borghi, presidente da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP, esse é um momento fundamental para construção de um consenso em torno do tema. “Quando tomamos a decisão juntos, todos nos comprometemos com os resultados”. Segundo ele, é preciso um ambiente que contemple a pesquisa, a ciência e que leve em consideração, também, as condições dos produtores rurais, do setor produtivo.
Propostas
O Ministério da Agricultura receberá as propostas dos estados até o dia 31 de janeiro. Conforme a solicitação a ser encaminhada pelo Paraná, a semeadura na Região I abrange a faixa central e leste do Estado, comece no dia 21 de setembro de 2025 e prossiga até 20 de janeiro de 2026. Já a Região II, do Oeste do Norte Pioneiro, a janela iria de 1º de setembro a 31 de dezembro e na Região III, mais especificamente no Sudoeste, de 11 de setembro a 10 de janeiro. É importante ressaltar que o vazio sanitário compreende um período de 90 dias da data de semeadura de cada região.
Ações
A ferrugem asiática foi identificada no Brasil pela primeira vez em 2001. Na época, as autoridades sanitárias desenvolveram o programa. Hoje, as ações do programa nacional se concentram em dois eixos principais. O primeiro deles é o vazio sanitário, que é um período – de mínimo 90 dias – em que os produtores rurais ficam proibidos de cultivar, manter ou permitir em qualquer estágio vegetativo plantas emergidas de soja.
O objetivo é o de reduzir o inóculo (ou seja, o volume de esporos) da ferrugem asiática no território. A outra ação é o calendário de semeadura, que pode ser entendido como uma medida fitossanitária complementar que visa a racionalização do uso de fungicidas e a redução da resistência ao fungo da ferrugem asiática.
Pesquisadora da Embrapa, Claudia Godoy apresentou resultados de pesquisas científicas que demonstram que o fungo Phakopsora pachyrhizi está, ano a ano, se tornando mais resistente a fungicidas. A resistência pode ocorrer a partir de mutação do fungo ou de um processo de seleção natural. “Entre determinada população de fungos, tem sempre indivíduos com características que fazem com que eles não morram com a aplicação de fungicidas. Eles indivíduos se reproduzem, aumentando a população de fungos resistentes”, explica a pesquisadora.
Por causa disso, muitas variedades de fungicidas vêm perdendo eficácia no combate à ferrugem asiática. Assim, as medidas definidas pelo Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja são imprescindíveis para o controle da doença.
O engenheiro agrônomo Marcílio Martins Araújo, da Divisão de Sanidade de Cultivos Agrícolas e Florestais da Adapar, acrescentou que o volume de aplicações de fungicidas disparou ao longo da última década. Na safra 2012/13, a média era de 0,48 litros aplicados por hectare. Na safra 2023/24, os produtores paranaenses utilizaram 2,3 litros por hectare.