A caminhada de Doralice Plucinski até o Centro de Reabilitação das Clínicas FAG foi com dificuldade, apoiando-se para se manter em pé. Quando ela foi embora, as passadas foram mais firmes, algo que ela desejava sentir havia meses.
A paciente recebeu a prótese consertada depois que uma pequena peça teve problema. A troca foi possível a partir de uma parceria que envolveu o setor de próteses da Clínica e os cursos de Engenharia Mecânica e de Engenharia de Controle e Automação.
Doralice tem 43 anos de idade e é paciente das Clínicas FAG há 11 anos. Quando ainda era criança ela se machucou e, como o problema não foi curado de forma adequada, anos depois a perna esquerda precisou ser amputada.
Na busca por mais qualidade de vida para a moradora de Pérola do Oeste, a equipe que a atende conseguiu viabilizar, por meio da 10ª Regional de Saúde, um Liner – interface protética, que proporciona ao usuário mais conforto no encaixe da prótese. O problema é que a alegria durou pouco: o pino responsável pela fixação da prótese com a interface quebrou em janeiro deste ano.
A partir daí, teve início a pesquisa sobre o que poderia ser feito. A empresa fabricante do Liner não disponibiliza a venda apenas da peça em questão. Nesse intervalo de tempo, Doralice precisou usar uma prótese sem a interface. “Foi muito difícil. A outra prótese machuca muito. Eu colocava de manhã e à noite já tinha que tirar, colocar remédio, porque machucava. Eu não tinha segurança para caminhar”, explica.
A solução foi encontrada bem perto, no próprio Câmpus do Centro Universitário FAG. O auxiliar de protético e acadêmico de Engenharia Mecânica Alison Giordani foi acionado pela equipe da Clínica para tentar fazer a peça em uma das impressoras 3D da instituição. Ele tinha o domínio do software para o projeto, mas, para fazer o uso da impressora, buscou a ajuda do professor e coordenador adjunto de Engenharia de Controle e Automação, Helder Carozzi. “Existiram algumas coisas que precisaram ser ajustadas no desenho para que a impressora conseguisse fazer. Após isso, fizemos as peças-piloto com alguns tipos de materiais, mas os melhores encontrados para esse tipo de trabalho foram o PLA (poliácido láctico) e o ABS (acrilonitrila butadieno estireno). Tecnicamente falando, a impressora 3D não tem limitações para impressão. Qualquer forma, qualquer geometria pode ser executada, depende da criatividade”, detalha Helder.
Desde então, foram vários desenhos e pelo menos três protótipos até que se chegasse à peça que foi encaixada na prótese de Doralice. “Desenhar a peça e pegar todas as medidas para que fosse adequada para a necessidade foi a maior dificuldade”, conta Alison, que acrescenta: “Ver na prática como uma peça simples pode ajudar uma paciente é gratificante”.
Doralice já foi para casa com a prótese e o Liner. Ela caminhou e sentiu a diferença que terá em seu dia a dia. “Com essa [prótese], eu tenho segurança. Eu estava ansiosa para tê-la completa de novo. Preciso de uns dois, três dias para me readaptar, mas já senti um conforto diferente, não machuca”, elogia.
De acordo com a coordenadora do Centro de Reabilitação das Clínicas FAG, Leda Paes Walcker, a ação demonstra que as diferentes áreas podem trabalhar em prol de um bem comum. “Quando pensamos nas Engenharias, vêm à cabeça coisas grandes, mega-acontecimentos, e eu vejo que conseguimos confirmar que nos detalhes também é possível fazer a diferença. Você pode pensar: ‘é só um pino’, mas é um pino que muda a vida de uma pessoa, já que ela não teria como adquirir a peça em outro lugar. As profissões podem se unir para melhorar a qualidade de vida das pessoas”, finaliza.