Agronegócio

Brasil deverá colher maior safra da história e pode superar EUA

Cascavel – O 5º Encontro Nacional de Soja desembarcou ontem em Cascavel com ótimas perspectivas para o cultivo do grão na safra que se aproxima, 2018/2019.

O encontro foi trazido para o oeste do estado após uma temporada em Londrina, já que por aqui está notadamente uma das principais regiões produtoras de grãos do País. Somente para a oleaginosa são mais de 1,1 milhão de hectares.

O evento é organizado pelo Grupo de Estudos "Luiz de Queiroz" (GELQ 2019), sob a coordenação do professor Durval Dourado Neto, do Departamento de Produção Vegetal da Esalq/USP.

Em torno de 200 profissionais da área agronômica, especialistas de mercado, produtores e pesquisadores debatem o futuro do grão. O encontro segue até esta sexta-feira (24), no fim da tarde, no auditório da Fundetec (Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

O encontro segue até o fim da tarde de hoje, Na programação estão doenças fúngicas que assolam o cultivo, manejo e mercado.

São palestras, painéis de discussão e especialistas que falam sobre mercado, cultivo e boas práticas. Entre os especialistas trazidos a Cascavel está o agrônomo, consultor de mercado Vlamir Brandalizze.

No foco de sua palestra estavam as tendências de mercado. A avaliação, apesar de alguns entraves, não poderia ser mais positiva do que a vislumbrada para o cereal brasileiro no futuro próximo e em médio prazo.

Apesar da greve dos caminhoneiros que travou o transporte do grão até os portos para a exportação e as vendas antecipadas estarem travadas com a insegurança jurídica provocada pelo tabelamento dos preços do frete, os cenários nacional e internacional para o produto brasileiro é imensamente positivo. “Em 2019 deveremos ter uma excelente safra, maior que a última e pode ser a maior que já tivemos, superando inclusive os números de 2017 quando o País teve a melhor safra da história”, destaca.

Isso deve ocorrer porque em algumas regiões do Brasil áreas antes destinadas para outras culturas devem migrar para a soja. “Estimamos crescimento saindo dos 34 milhões de hectares podendo chegar a 36,4 milhões de hectares nesta safra, sobretudo de áreas que eram da cana-de-açúcar”, considera.

Líder mundial

Casado a isso, há uma forte tendência de o Brasil assumir a liderança mundial de produção de soja já na próxima colheita. “Isso significa em torno de 120 milhões de toneladas. Os Estados Unidos [maior produtor hoje] deverão colher algo perto disso, então ficaremos ali brigando pela primeira posição. Se não for agora, pode ser na próxima safra porque temos área para expandir o cultivo”, completa.

Superar os EUA na produção do grão é muito mais do que alcançar uma marca recorde: é a possibilidade de conquistar e ampliar mercados. “Aqui tem outra questão. A briga comercial entre a China e os Estados Unidos beneficia o Brasil. Vamos vender mais soja para a China imediatamente (…) e o mundo está sedento por soja porque é um alimento que está na mesa do mundo inteiro. Outro mercado que deve ser explorado pelo Brasil deve ser a Índia, muito populoso e que demanda muito esse produto”, destacou.

Entrega de fertilizantes é acelerada

No contexto internacional, apesar de as exportações começarem a ganhar ritmo novamente desde o advento da greve dos caminhoneiros em maio, a tendência é para que os transportes se intensifiquem a partir de agora.

Questionado se num contexto de dólar acima dos R$ 4 pode haver aumento da saca de soja para R$ 100, o consultor de mercado Vlamir Brandalizze é enfático em dizer que isso dificilmente ocorrerá e por alguns fatores: “Para que isso ocorra, o dólar precisaria chegar aos R$ 5 e certamente o governo não permitiria essa valorização do dólar, ele iria interferir para não ver os produtos aumentarem tanto [no mercado interno] nem o retorno da inflação. A saca que no porto [de Paranaguá] está perto dos R$ 93, poderá chegar aos R$ 94, mais do que isso é improvável”, reforçou.

Para o especialista, os arranjos de mercado deverão impulsionar nas próximas semanas as vendas antecipadas, hoje travadas na região oeste e em todo o Brasil. “É aconselhável que o produtor faça isso principalmente para uma parte daquilo que deverá colher para cobrir os gastos com o cultivo (…) Os contratos de venda futura estão sendo firmados em até R$ 87, é um bom valor”, considerou.

Prestes a iniciar o plantio da principal cultura brasileira, o especialista destacou ainda que os próprios produtores resolveram se organizar com transporte, adquirindo caminhões ou utilizando mais amplamente a rede ferroviária, para acelerar a entrega dos insumos que estavam parados nos portos. “Agora tem parado no porto aquilo que pertence àqueles produtores que deixaram para comprar na última hora. Estimamos que nem 20% dos insumos estejam aguardando entrega. Isso significa que não teremos grandes perdas, redução de produtividade, primeiro porque uma boa parcela deles [dos insumos] está no campo e segundo que a redução expressiva de produtividade só ocorreria se houvesse diminuição na aplicação por vários anos seguidos, o que não é o caso. De modo geral, o produtor brasileiro tem o solo bem cuidado que facilita uma boa produção”, completou.

No oeste do Paraná

A soja é o principal cultivo do oeste do Paraná com cerca de 1,1 milhão de hectares que vêm sendo destinados ao cereal nos últimos anos. Os núcleos regionais do Deral (Departamento de Economia Rural) de Toledo e de Cascavel, que juntos cobrem 48 municípios, ainda não finalizaram os dados da próxima safra com expectativa de produção e de produtividade.

Se considerada que a safra a ser cultivada agora poderá superar os dados de 2016/2017, o oeste poderá colher mais de 4 milhões de toneladas, o que representará mais de 3% da produção nacional.

O cultivo por aqui começa em menos de dez dias, para os sojicultores que dedicam suas áreas às culturas superprecoces e precoces. Vale reforçar que o vazio sanitário segue até 10 de setembro e não pode haver planta emergida nas lavouras antes desta data sob risco de autuação, multa e a obrigatoriedade de remover o cultivo. A medida visa coibir a hospedagem do fungo da ferrugem asiática, que pode atacar lavouras comerciais e reduzir a produtividade a zero nas lavouras doentes.