As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) são as doenças que mais afetam os trabalhadores brasileiros. A constatação é do estudo Saúde Brasil 2018, do Ministério da Saúde.
Utilizando dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), o levantamento aponta que, entre os anos de 2007 e 2016, 67.599 casos de LER/Dort foram notificados à pasta. Nesse período, o total de registros cresceu 184%, passando de 3.212 casos, em 2007, para 9.122 em 2016. Tanto o volume quanto o aumento nos casos nesse período sinalizam alerta em relação à saúde dos trabalhadores.
Os dados, que constam no capítulo “Panorama de Doenças Crônicas Relacionadas ao Trabalho no Brasil”, indicam aumento na exposição de trabalhadores a fatores de risco, que podem ocasionar incapacidade funcional. O estudo apontou, também, que esses problemas foram mais recorrentes em trabalhadores do sexo feminino (51,7%), entre 40 e 49 anos (33,6%), e em indivíduos com ensino médio completo (32,7%).
A região que registrou o maior número de casos foi o Sudeste, com 58,4% do total de notificações do País no período. Em 2016, os estados que apresentaram os maiores coeficientes de incidência foram Mato Grosso do Sul, São Paulo e Amazonas.
Quando se fala nos setores ocupacionais, a ocorrência de LER e Dort foi maior nos profissionais que atuam nos setores da indústria, do comércio, da alimentação, do transporte e de serviços domésticos/limpeza. Nas profissões; faxineiros, operadores de máquinas fixas, alimentadores de linhas de produção e cozinheiros foram os mais atingidos com algum desses problemas de saúde no trabalho.
O que causam
A LER e o Dort são danos decorrentes da utilização excessiva do sistema que movimenta o esqueleto humano e da falta de tempo para recuperação. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, de aparecimento quase sempre em estágio avançado, que ocorrem geralmente nos membros superiores, tais como dor, sensação de peso e fadiga. Algumas das principais, que acometem os trabalhadores, são as lesões no ombro e as inflamações em articulações e nos tecidos que cobrem os tendões.
Essas doenças são relacionadas ao trabalho e podem prejudicar a produtividade laboral, a participação na força de trabalho e o comprometimento financeiro e da posição alcançada pelo trabalhador. Além disso, elas são responsáveis pela maior parte dos afastamentos do trabalho e representam custos com pagamentos de indenizações, tratamentos e processos de reintegração à ocupação.
Ações de prevenção
O Ministério da Saúde recomenda aos empregadores atenção à Norma Regulamentadora 17, que estabelece parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Também é importante que os empregadores promovam ações de educação em saúde aos trabalhadores em conjunto com os Cerest (Centros de Referência em Saúde do Trabalhador) de cada região.
Os Cerest compõem a Renast (Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador), implementada de forma articulada entre o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, com o envolvimento de órgãos de outros setores dessas esferas. A Renast integra a rede de serviços do SUS, voltados à promoção, à assistência e à vigilância, para o desenvolvimento das ações de saúde do trabalhador.
Os empregados também possuem participação essencial nesse fluxo. A realização de ginástica laboral no local de trabalho, a criação de hábitos de pausas regulares durante o período de trabalho, a realização regular dos movimentos corporais, evitar horas extras e sobrecarga mental e a utilização de mobiliários ergonômicos são medidas que podem contribuir para o não surgimento destas e outras doenças.
A qualquer sinal de dores, o trabalhador deve procurar um médico especialista. É fundamental agir também nas causas, com base nos limites físicos e psicossociais do trabalhador.
Fique atento às causas mais comuns de dores nos punhos
Lesões, fraturas, torções, uso repetitivo do punho, artrite, síndrome do túnel do carpo, cisto sinovial e doença de Kienblock. Essas são algumas das possíveis causas de dores nos punhos – região entre a mão e o braço constituída pela articulação radiocárpica e cubitocárpica, ossos do carpo e tecidos moles que os envolvem.
De acordo com o médico ortopedista e traumatologista Joaquim Reichmann, em caso de suspeita de fratura após determinado impacto é necessário fazer um raio X e, caso necessário, imobilizar com gesso. “Já quando acontece uma torção, a pessoa não consegue mexer a mão, além de perceber inchaço em um período de até duas horas. Nesse caso, o raio X também é essencial para confirmar a gravidade e a necessidade de imobilização”.
Ao falar sobre a tendinite, Reichmann explica que o problema é caracterizado por uma lesão nos tendões que faz com que inflame e provoque dor. A causa são os movimentos repetitivos. Para tratar, a recomendação é evitar atividades repetidas, usar anti-inflamatórios e fazer fisioterapia.
Síndrome do túnel do carpo e outras doenças
Provocada também por esforços repetitivos, a síndrome do túnel do carpo gera dor no meio do punho, queimação ou formigamento na palma da mão, polegar ou dedos. Esse desconforto costuma piorar quando a pessoa coloca a palma da mão para cima e pressiona a parte do meio do punho, que é a região desse nervo. A evolução da síndrome dificulta manipular estruturas pequenas e executar tarefas simples como segurar uma xícara ou digitar, por exemplo. O tratamento pode ser feito com compressas geladas, munhequeira, anti-inflamatórios e fisioterapia.
Outro problema ocasionado por movimentos repetitivos, porém neste caso com esforço do polegar, é a doença de Quervain. O principal sintoma é dor latejante no punho ao lado do polegar que se estende até a base, piorando com o movimento. Ao obter o diagnóstico, é importante evitar movimentos repetitivos e modificar os gestos para reduzir a pressão sobre o punho. O tratamento inclui anti-inflamatórios não esteroides, imobilização do polegar, infiltração com corticosteroide e fisioterapia.
A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica que gera dor em todo punho, causa inchaço e alterações nos dedos que podem resultar em erosão óssea e deformidade articular. Idosos são os principais alvos do problema e o tratamento é feito com fisioterapia e medicamentos. Ainda não há cura, o tratamento de maneira adequada possibilita uma vida normal ao paciente.
A doença de Kienbock surge em função da má vascularização do osso semilunar no punho e atinge qualquer idade, porém, é mais comum entre os 20 e os 40 anos. O tratamento pode ser feito com imobilização, mas também pode haver indicação de cirurgia ou uso de remédios para aliviar os sintomas.
O cisto sinovial – nódulo firme e cheio de líquido sinovial – geralmente é indolor, porém pode causar compressões de estruturas vizinhas, o que provoca dor, perda de força e/ou sensibilidade na região afetada.
As queixas mais frequentes do problema estão relacionadas às questões estéticas. O tratamento depende do tamanho e dos sintomas apresentados e pode ser feito com fisioterapia, acupuntura, cirurgia ou uso de medicações, normalmente corticoide.
A dor no punho é comum e, embora algumas vezes ocorra em função de mau jeito ou posição ruim ao dormir, a orientação é procurar um médico para avaliar e obter o diagnóstico para iniciar imediatamente o tratamento.