No Brasil, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer é a principal doença que causa morte na faixa etária de 1 a 19 anos e surgem 12,5 mil novos casos por ano. Entretanto, aproximadamente 80% das crianças e dos adolescentes podem ser curados se diagnosticados e tratados precocemente.
Os principais tipos de câncer infantojuvenis são as leucemias, os linfomas e os tumores de sistema nervoso central. Para Gustavo Zamperlini, oncopediatra da Rede de Hospitais São Camilo de SP, a chance de cura varia de acordo com o tipo de câncer, a idade e, principalmente, do diagnóstico precoce, com início rápido do tratamento. “Quanto mais tarde a criança começar a terapia, maior a chance de se encontrar a doença avançada e disseminada. Essa situação também pode comprometer muito o sucesso do tratamento, pois levam a quadros clínicos graves como desnutrição, insuficiência de alguns órgãos e sangramentos, contribuindo para o aumento da mortalidade”.
Segundo o especialista, a causa exata de doenças tão graves na infância ainda não é totalmente conhecida. O surgimento do câncer nessa faixa etária está mais relacionado a condições genéticas, ou seja, alterações ou falhas celulares chamadas de mutações. “Por algum motivo, os proto-oncogenes, controles ou vigias do organismo responsáveis pela correção dessas falhas simplesmente não funcionam, sofrem mutações e se transformam em oncogenes. Quando isso acontece, a célula acometida passa a se desenvolver de maneira errada, rápida e totalmente doente levando ao câncer”, explica Zamperlini.
Sintomas
Na criança, como os sintomas de câncer são muito parecidos com os de infecções ou outras doenças benignas dessa fase, a atenção dos responsáveis às situações que atrapalhem ou modifiquem as atividades habituais é essencial para a suspeita e ao diagnóstico precoce.
De acordo com o especialista, os principais sinais de alerta são: palidez, febre persistente, manchas roxas no corpo ou sangramentos repentinos, dores muito fortes em membros inferiores que dificultam o movimento, estrabismo ou alterações súbitas de visão, dores de cabeça relacionadas a vômitos persistentes, alterações de equilíbrio e fala, aumento do volume abdominal (inchaço), aumento de gânglios – os populares caroços ou “ínguas”.
Tipos de câncer por faixa etária
O câncer infantojuvenil tem dois picos de incidência. Segundo o oncopediatra do Hospital São Camilo Gustavo Zamperlini, o primeiro ocorre nos primeiros quatro anos de vida e o segundo perto do início da puberdade, a partir de 14 e 15 anos. “Os tumores mais frequentes nos menores de 15 anos são leucemias, linfomas, tumores de sistema nervoso central e abdominais. Já nos maiores, podem se apresentar ainda os tumores ósseos, gonadais e de tireoide”.
Tratamentos
De acordo com o especialista Gustavo Zamperlini, os tratamentos disponíveis para as crianças são muito semelhantes aos sugeridos para os adultos, como a quimioterapia, radioterapia, transplante de medula óssea e cirurgia. Além disso, o principal foco das pesquisas atuais é a imunoterapia, na qual as células de defesa do organismo, como os linfócitos, atacam o tumor.
“Na pediatria, os principais métodos são os anticorpos biespecíficos e as chamadas CAR-T cells, método ainda inédito no País, que modifica geneticamente os linfócitos da criança ou de um doador para atacarem o tumor. Essas medicações ajudam a reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia. Contudo, ainda quase todos os tipos de câncer necessitam, em algum momento, de receber as terapias tradicionais”, explica o médico do Hospital São Camilo.
Além da medicação, o centro especializado e equipe multidisciplinar integrada também são aliados importantes para o sucesso do tratamento. “A família e a criança com câncer enfrentam longos períodos no hospital, internações e efeitos colaterais que são marcantes para suas vidas. É nesse momento que entram os profissionais estratégicos desse time, como enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas, com o papel de detectar qualquer problema específico de suas áreas para colaborar com a terapia, além de acolher e apoiá-los emocionalmente, contribuindo significativamente para o salto na sobrevida”.
Infantojuvenil X Adulto
O câncer acontece de forma muito diferente nas crianças e nos adultos. Na fase adulta, o crescimento do tumor é lento, insidioso e os tipos mais comuns são próstata, mama e pele. “Além disso, ao contrário das crianças, o estilo de vida impacta significativamente no seu desenvolvimento, por exemplo, a relação entre tabagismo e câncer de pulmão. Mas isso não significa que adultos não apresentem tumores iguais aos da faixa etária infantil, como linfomas e leucemias”, alerta o oncopediatra Gustavo Zamperlini.
Rede de Hospitais São Camilo
A Rede de Hospitais São Camilo é composta por três hospitais modernos em São Paulo, que ficam nos bairros da Pompeia, Santana e Ipiranga, capacitados para atendimentos eletivos, de emergência e cirurgias de alta complexidade, como transplantes de medula óssea.
Hoje, a Rede presta atendimento em mais de 60 especialidades, oferece aproximadamente 900 leitos e um quadro clínico de mais de 7,4 mil médicos qualificados.
As unidades possuem importantes acreditações internacionais, como a Joint Commission International (JCI), renomada acreditadora dos Estados Unidos reconhecida mundialmente no setor, e a Acreditação Internacional Canadense.
A Rede faz parte da Sociedade Beneficente São Camilo, uma das entidades que compreende a Ordem dos Ministros dos Enfermos (Camilianos), uma organização religiosa presente em mais de 30 países, fundada pelo italiano Camilo de Lellis há mais de 400 anos. No Brasil desde 1922, a Rede conta com expertise e a tradição em saúde e gestão hospitalar.
Pequeno Príncipe alerta sobre importância do acompanhamento psicológico
Por ocasião do Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil (15 de fevereiro), o Hospital Pequeno Príncipe reforça a importância do diagnóstico precoce da doença para aumentar as chances de cura. Ainda que represente apenas 3% dos tumores em geral, o câncer na infância e na adolescência é a principal causa de morte entre 1 e 19 anos de idade.
Diferentemente do que acontece em adultos, não existem formas de prevenir a doença em crianças e adolescentes, mas a boa notícia é que a sobrevida de pacientes dessa idade pode chegar até 80%.
Pioneiro há mais de 50 anos no tratamento de crianças e adolescentes com doenças oncológicas, que conta com cuidado humanizado e multidisciplinar, o Pequeno Príncipe aproveita a data para também alertar para aspectos psicológicos que podem impactar o paciente e sua família durante o tratamento.
De acordo com a psicóloga do Hospital, Janaína Casaes, o câncer é uma doença que, mesmo com os constantes avanços tecnológicos na sua detecção e no tratamento, ainda é extremamente temida e fortemente associada ao sofrimento e à morte. “Além disso, desde o diagnóstico até o fim do tratamento, o paciente pode sofrer danos físicos e psicológicos, por conta de inúmeros motivos como procedimentos invasivos, internação e efeitos colaterais e restrições do tratamento. A vida também pode ser totalmente transformada pela presença da doença, que, no caso de uma criança ou um adolescente, também altera a rotina familiar”, explica.
Desespero
Quando ouviu a confirmação do diagnóstico da filha Ana Paula, de oito anos, Jurema Felix Chistiano Barnabé caiu no choro. “Eu perdi o chão. Tive que consolar meu marido e não podia deixar nossos filhos perceberem. O apoio psicológico foi fundamental da equipe do Pequeno Príncipe”, conta.
De acordo com ela, esse acompanhamento foi importante para ela perceber que a doença poderia ser enfrentada: “Em um outro momento, essa orientação foi necessária para eu entender e me relacionar com a Ana, que começou a se fechar quando o tratamento fez seu cabelo cair”, conta a mãe, que já raspou a cabeça quatro vezes para apoiar a filha, que ainda tem oito sessões de quimioterapia pela frente. “Ela já tirou o tumor mas precisa seguir esse protocolo”.
A doença e o tratamento podem deixar os pais confusos em relação à educação de seus filhos. Mas a família é muito importante no cuidado e a orientação é que todos devem participar de alguma forma, inclusive os irmãos. “Quando a família se une e se ajuda, torna-se um porto seguro para a criança e aumenta os benefícios do tratamento. O carinho é fundamental”, explica a psicóloga do Pequeno Príncipe.
Para ajudar os familiares, o hospital sugere algumas dicas de como se comportar em relação ao paciente:
*Busque informações. Tente compreender o que é e como está a doença. Converse com o médico e equipe multidisciplinar que atende seu filho;
*Mantenha o tratamento de forma disciplinada, siga as orientações para hábitos saudáveis (alimentação, sono), compareça aos exames e consultas e dê a medicação nas horas certas, lembrando sempre de tirar todas as dúvidas em relação ao tratamento com equipe médica;
*Acompanhe e observe a reação de seu filho ao tratamento e, sempre que necessário, procure a equipe multidisciplinar;
*Entenda os limites e as restrições do tratamento e explique para a criança ou o adolescente o que ela pode ou não fazer, sempre respeitando as condições de saúde do paciente;
*Crie oportunidades de vida e hábito saudável, realizando atividades como ler, brincar, confraternizar, estudar, para além da dinâmica do tratamento;
*Compreenda que mudanças serão necessárias, considere o desafio posto e busque mecanismo e recursos de ajuda e apoio;
*Lide com as diferentes emoções, buscando atitude positiva e momentos de alegria e identificando espaços oportunidades de inclusão e apoio na comunidade onde se sinta confortável e possa expressar seus sentimentos;
*Busque sempre o equilíbrio entre dar apoio e dar limite à criança ou ao adolescente em tratamento para que ela venha a ter autonomia;
*Ouça o que o paciente precisa dizer, incentive-o a ter novos relacionamentos e grupos de apoio e estimule a construção de planos e projetos de superação.
Clique aqui e acesse a cartilha elaborada pelo Pequeno Príncipe.
“Nenhuma criança deve morrer de câncer”, alerta Centro Infantil
No child should die of cancer. Traduzindo para o português: “Nenhuma criança deve morrer de câncer”. A frase lema da Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica (Siop-2018) serve de alerta no Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil (15 de fevereiro) e retrata bem o que o Centro Infantil Boldrini, referência no tratamento de câncer infantil e doenças hematológicas, acredita e trabalha para alcançar.
A doença é a principal causa de morte entre crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos no Brasil, segundo o Inca. Os dados ainda apontam que 12.500 novos casos surgem por ano no País e, desses novos casos, cerca de 6.200 crianças são tratadas em hospitais públicos e em torno de 4 mil morrem sem tratamento ou sem ter a doença diagnosticada.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) prevê que o número de casos de câncer infantojuvenil deve chegar a 600 mil em todo o mundo em 2030.
Os desafios para se chegar ao que pretendeu na Siop-2018 são grandes. Os números assustam, mas também levam uma série de profissionais a investir seu trabalho na acolhida das crianças, tratamento e pesquisa sobre a doença. É o que acontece diariamente no Centro Infantil Boldrini, onde uma série de profissionais multidisciplinares luta dia a dia para mudar esses números e vêm conseguindo.
“Quando começamos o Boldrini, há 42 anos, a taxa de sobrevida era em torno de 5%. Hoje, em alguns casos, chegamos a mais de 80%, ultrapassando a média brasileira e de países em desenvolvimento de cerca de 60% e nos igualando aos números de países da Europa e aos Estados Unidos”, declara a presidente do Centro Infantil Boldrini, Silvia Brandalise.
A médica e pesquisadora credita os altos números conseguidos, entre diferentes fatores, ao tratamento multidisciplinar oferecido no hospital, à tecnologia utilizada, aos medicamentos de ponta (que nem sempre são fornecidos pelo governo federal e muitas vezes são importados com recursos próprios) e à pesquisa.
Mas engana-se quem pensa que os altos índices de cura contentam: “É uma série de fatores que contribuem para o sucesso do tratamento. Mas não adianta termos 80% de sobrevida. Ainda faltam 20%. E se chegarmos aos 100% de cura, teremos que contribuir para que as causas do câncer sejam efetivamente evitadas. A prevenção do câncer da criança é o desafio do futuro, que já bate às portas de hoje”.
E o Centro Infantil Boldrini tem feito sua parte no combate às causas do câncer infantil. O hospital é o único do País a integrar uma pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) com grávidas de todo o mundo, com o objetivo de detectar possíveis causadores da doença na criança. Além disso, o Boldrini ainda conta com um moderno Centro de Pesquisas, que trabalha em diferentes vertentes.
Silvia também encabeçou com outros profissionais a realização, em setembro de 2019, do Fórum Internacional Meio Ambiente e Câncer da Criança, que trouxe à discussão as recentes pesquisas relacionando as interferências de poluentes do meio ambiente na saúde da criança. Mas, muito mais do que apresentar números e dados estatísticos, o evento buscou ações práticas para enfrentar a realidade demonstrada: criou o Grupo de Defesa dos Direitos da Criança à Saúde Ambiental e formulou a Declaração dos Direitos Ambientais da Criança.
“Nesse Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil e em todos os outros dias do ano, temos que conscientizar a sociedade sobre o estilo de vida e o mundo queremos. Isso influencia diretamente, como mostram as pesquisas, na saúde de nossas crianças mesmo antes do nascimento delas”, alerta Silvia Brandalise.
O Boldrini em números
Em seus 42 anos de história, o Centro Infantil Boldrini já atendeu aproximadamente 30 mil pacientes encaminhados com a suspeita ou o diagnóstico de câncer ou de doenças hematológicas, e 10 mil estão em acompanhamento ou passaram por tratamento. Considerando os tratamentos de tumores malignos, foram mais de 9 mil casos, dos quais cerca de 6 mil alcançaram a cura.
Para se ter uma ideia da grandiosidade desse trabalho, só em 2019 o hospital recebeu 582 novos pacientes. Desses, aproximadamente 250 tiveram o diagnóstico de doença maligna confirmado e iniciaram o tratamento no hospital. No caso de doenças hematológicas, foram pouco mais de 200 novos pacientes. Os demais foram diagnosticados com outras doenças.
Ainda falando em números, o Boldrini realizou ao longo do ano passado mais de 79,1 mil consultas ambulatoriais (uma média de quase 3.200/mês), além de cerca de 29 mil sessões de quimioterapia e 20,9 mil internações.
Fonte: www.boldrini.org.br