Cotidiano

Profissões que resistem ao tempo

Dizem que 85% das profissões que existirão em 2030 ainda nem foram criadas

Profissões que resistem ao tempo

Reportagem: Milena Lemes

Dizem que 85% das profissões que existirão em 2030 ainda nem foram criadas. Contudo, algumas resistem ao tempo e à própria tecnologia. A reportagem do HojeNews foi atrás de algumas delas.

Cláudio Augusto Frey tem 65 anos e há meio século se dedica à vida de sapateiro.

Ele aprendeu o ofício em Erechim (RS), em uma empresa privada, mas o dom vem de casa: seu pai trabalhava com isso desde 1950.

Em 1971 a família veio morar em Cascavel e então pai e filho abriram uma sapataria. “Antigamente nós trabalhávamos em quatro, cinco e não dávamos conta da demanda. Hoje, um só dá conta”, compara Frey.

Segundo ele, o serviço vem diminuindo porque as pessoas preferem comprar um calçado novo a consertar o antigo. “Tênis, chinelo, rasteirinha, que estragou, o pessoal joga fora… E tem alguns calçados que o valor nem compensa consertar”.

Hoje, Frey trabalha sozinho em uma sapataria na Rua da Lapa.

O cavalo já foi o principal meio de transporte, mas hoje é restrito a quem mora no campo e a quem cavalga por hobby ou esporte. Mesmo assim, Elvio Coelho ainda faz selas, do mesmo jeito artesanal que fazia 25 anos atrás. A profissão corre nas veias da família. “Isso é de nascimento, herança do meu pai”, brinca.

A selaria de Elvio fica na Rua Rio Grande Sul e, de acordo com ele, é a única em Cascavel que, além de fabricar selas, também as conserta. “A procura é boa. É um serviço muito difícil de fazer, é tudo na mão, existe pouca máquina, e tudo é feito por meio artesanal…”

Ele avalia as mudanças provocadas pelo tempo: “Hoje é tudo industrial. Antigamente era feito tudo com mais resistência, mais segurança… Hoje as selas são fabricadas com menos couro”.

Agulhas e tesouras também fazem parte da vida de Lourenço Benedito Nomelini, mas em outra profissão. Ele aprendeu a arte da alfaiataria há 40 anos em Uberaba (MG) e há dez reside em Cascavel, onde mantém a tradição. “Eu tinha 14 anos e trabalhava em uma alfaiataria como entregador. Naquela época tinha muito serviço, então nas horas vagas eles me ensinavam a cortar e costurar”.

Para ele, as mudanças mais evidentes na profissão são as máquinas: “Há muita coisa que as máquinas mais modernas são melhores, por exemplo, para trabalhar com malhas. O serviço é mais rápido e mais perfeito”, admite.

Mudar de ramo?

O sapateiro Cláudio Frey conta que já pensou em mudar de profissão, mas desistiu. “Agora não adianta mais”.

Já o selador Elvio Coelho diz que mudar de ramo não é uma opção. “Eu vou parar de fazer só quando não aguentar mais”.

Diferente de Lourenço Nomelini, que já é aposentado, e usa o trabalho para se ocupar. “Meu filho se mudou para cá para trabalhar e eu o acompanhei, como não tinha o que fazer, voltei a trabalhar”.

Com menos serviço hoje em dia, Cláudio Frey ainda conserta calçados