Agronegócio

Paraná pode perder metade dos produtores de leite comercial

O Paraná conta com cerca de 110 mil propriedades produtoras de leite, mas, dessas, de 60 mil a 70 mil operam no mercado de forma comercial

Foto: Arquivo
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Cascavel – Um dos principais desafios do Show Pecuário, cuja quinta edição está ocorrendo em Cascavel, é a profissionalização do setor e a conquista de mercados, dentro e fora do País e com excelência. Essa é a avaliação do secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, que visitou o Parque de Exposições Celso Garcia Cid.

O evento reúne produtores em busca de informações, conhecimento e a tecnologia de ponta no setor e coincidiu com a confirmação de que o mercado chinês tem interesse em derivados do leite brasileiro, o que pode impactar positivamente na balança comercial em algo próximo a US$ 4,5 bilhões por ano e o Paraná está de olho nessa oportunidade com grande ansiedade.

Segundo Ortigara, uma das missões mais árduas para atender a qualquer mercado é o atendimento às normas sanitárias, condição indispensável que, se não atendida, o preço a se pagar será muito alto, podendo culminar, em menos de um ano, com a saída de até 30 mil pequenos produtores de leite paranaenses do mercado.

O Paraná conta com cerca de 110 mil propriedades produtoras de leite, mas, dessas, de 60 mil a 70 mil operam no mercado de forma comercial, entregando a produção à indústria. Isso significa que quase metade deles pode deixar o setor porque enfrenta grandes dificuldades na adequação das normas baixadas pelo Ministério da Agricultura. “Precisamos de melhorando na qualidade e na produtividade do leite… vamos ter que exportar leite porque a nossa produção é muito maior que a demanda, ou fazemos isso, ou se vai expulsar muita gente e em pouco tempo. Esse produtor vai manter uma ou outra vaquinha, mas não vai mais entregar para a indústria”, alerta.

Os principais entraves

Entre as principais dificuldades neste momento estão as adequações às Instruções Normativas 76 e 77, que vigoram desde 30 de maio e visam ao melhoramento, à higiene e à qualidade do leite. “É preciso apresentar mais gordura e mais proteína no leite. É preciso esforço da indústria em atestar qualidade e volume. Ou se verticaliza como aconteceu com os suínos, os frangos e o tabaco em melhores parcerias entre comprador e produtor, ou o setor vai sofrer muito”, alertou o secretário de Agricultura, Norberto Ortigara.

Para ele, outro risco potencial está o de ser engolido pela União Europeia assim que o acordo comercial com o Mercosul passe a vigorar. “Sabemos que essa é uma atividade escravizante, mas às vezes o que se precisa são mudanças simples, como melhorar a higiene, lavar as mãos antes da coleta do leite, lavar os ubres das vacas (…) não adianta correr em Brasília pedir socorro mais uma vez, já temos tantas INs. É preciso se adequar. As experiências pelo mundo indicam que a produção se concentrou em grandes produtores, mas temos biomassa o ano inteiro, a vaca é uma máquina que pega a biomassa e que produz leite, temos que fazer isso com qualidade e eficiência ou estamos fora”, afiança.

Expectativa para fim da vacinação

Para o secretário Norberto Ortigara, a conquista de novos mercados deve se potencializar a partir da certificação de área livre de aftosa sem vacinação. O Estado está na iminência de alcançar o status, cuja promessa é de publicação de uma IN (Instrução Normativa) do Ministério da Agricultura no dia 30 de setembro, mas essa condição ainda gera incertezas e algumas dúvidas. O próprio governador Carlos Massa Ratinho Junior reconheceu, esta semana, durante visita ao Show Pecuário, que o Paraná vem fazendo o dever de casa e que a expectativa é de não precisar mais vacinar seus rebanhos de bovinos e bubalinos neste ano.

Uma nova audiência pública para debater o tema será realizada em agosto, ainda sem data definida. Ocorre que o setor produtivo já não se programa mais para nova vacinação, nem mesmo a indústria, que teria de providenciar quase 10 milhões de doses.

Para o secretário de Agricultura, o novo status é um caminho sem volta: “Foi e está sendo feito tudo para que isso ocorra. Estamos com o concurso público autorizado [para contratação de 30 veterinários]. A última obra já foi iniciada em Campina Grande do Sul. Estamos cumprindo religiosamente o que manda o script. Existem poucos contrários, mas não temos que ficar ruminando coisas do passado… repeitamos quem é contrário, mas o caminho é evoluir e, a partir da IN, precisamos fazer o dever de casa com a vigilância”, afirma.

Reportagem: Juliet Manfrin