Saúde

Incertezas: Efeito coronavírus tumultua exportações no oeste do PR

O crescimento da economia mundial, previsto em 3,3% para 2020, dificilmente se concretizará

Incertezas: Efeito coronavírus tumultua exportações no oeste do PR

Cascavel – O efeito coronavírus tem chacoalhado a economia do mundo todo. No Brasil, o dólar registrou oito recordes seguidos, chegou a passar de R$ 4,51 e fechou a semana a R$ 4,48. O crescimento da economia é incerto e já há rupturas em algumas cadeias de produção. “O coronavírus criou incertezas na economia brasileira e mundial. O crescimento da economia mundial, previsto em 3,3% para 2020, dificilmente se concretizará, pois houve algumas rupturas nas cadeias de produção. A China, fornecedora de peças à indústria metalmecânica, está com problemas de fabricação e entrega. Na própria China há queda de 80% a 90% na comercialização de carros novos, e redução de 20% no consumo de combustíveis. Tudo isso afeta o agronegócio mundial, no qual o Brasil está inserido como grande exportador e importador de muitas moléculas e insumos”, explica o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli.

A balança comercial do primeiro bimestre fecha na próxima semana, mas Dilvo prevê queda de 10% a 20% nas exportações, tanto em valores quanto em volume. “Essa redução, já reflexo do coronavírus, foi mais em relação às carnes do que de grãos. Os volumes de carne, principalmente para a Ásia, tiveram redução. O preço também baixou, mas a alta do dólar compensou parte dessa queda. Acredito que esse seja o impacto da doença e que daqui pra frente as exportações sigam nessa tendência”.

Ele ressalta que, embora a alta do dólar influencie positivamente agora, terá consequências futuras. “O dólar, no início de janeiro, estava em R$ 4,04 e hoje está perto de R$ 4,50. No Brasil, essa valorização de 10% em 60 dias é altíssima quando a compararmos com a inflação dos últimos 12 meses, que foi em torno de 4%. Por isso, as mercadorias de exportação do Brasil tiveram valorização devido à queda do real, refletindo diretamente nos preços. Mas devemos ter muito cuidado porque existe a outra face da moeda, que será o aumento de preço nos insumos. O ideal seria que o dólar acompanhasse a inflação e não muito acima dela”, garante.

No campo

O economista e analista de mercado agrícola Camilo Motter destaca os reflexos da variação da moeda norte-americana ao setor agrícola. “Esse câmbio vem sustentando os preços internos e estimulando as exportações. Já no setor produtivo, especificamente, essa variação foi muito boa para a manutenção do custo da produção ou até melhora nos custos, já que conseguiu superar a perda de 8% a 9% do preço internacional da soja e também a alta dos fretes, então essa recuperação causada para o setor foi surpreendente em termos de valorização. No longo prazo – ou não tão longo assim – sentiremos os impactos negativos, com aumento de custos de produção, pois tudo é impactado pelo dólar”, alerta Motter.

Por isso, a recomendação ao produtor agora é de análise e muita cautela. “É um cenário ainda nebuloso, porque é uma doença e não há como prever o controle dela. Por isso, o produtor que colhe neste momento deve aproveitar os bons preços da soja, mas, se possível, reservar parte da produção para realizar vendas durante o ano, pois os preços podem ficar ainda melhores, ou irem baixando, ainda não se pode prever”, ressalta Camilo.

Setor prevê falta de contêineres

Dilvo Grolli adianta que, por conta da dificuldade de transporte dos produtos dentro da China, a descarga de contêineres está mais lenta e isso pode levar à falta de equipamentos para carga, especialmente refrigeradas, nas próximas semanas.

De acordo com o vice-diretor Comercial da TCP, empresa que administra o Terminal de Contêineres de Paranaguá, Thomas Lima, os reflexos da expansão do coronavírus – doença que levou diversas empresas chinesas a paralisarem os trabalhos devido à epidemia – ainda não foram sentidos pelo setor logístico do Estado. “Existe, sim, uma maior dificuldade no momento de entrega dos produtos na China. Como o transporte das mercadorias no país sofreu impacto, os produtos ficam por mais tempo armazenados, gerando um problema de falta de espaço para armazenamento e demora na descarga dos contêineres. Entretanto, os reflexos para a exportação no Paraná não são perceptíveis, pois, mesmo em ritmo mais lento, as exportações continuam ocorrendo”, explica, e acrescenta: “Até o momento não é possível prever quais serão os desdobramentos, uma vez que a China já dá sinais de controle da doença, registrando menos casos a cada dia e isso pode fazer com que as atividades no país caminhem para uma normalização”.

E o futuro?

Questionados sobre o cenário futuro, Dilvo Grolli e Camilo Motter são cautelosos. Eles lembram que, além dos fatores externos que influenciam na alta do dólar, existem os fatores internos, como a baixa da taxa de juros e a indisposição entre governo e congresso, que gera dúvida em relação à aprovação das reformas previstas e deixa os investidores na defensiva, fazendo com que o ingresso do dólar no Brasil seja menor e aumente mais a cotação. “A valorização do dólar no Brasil também está atrelada às reformas que são discutidas no Congresso Nacional. Caso tenhamos o controle do coronavírus, isso não vai trazer o dólar aos patamares anteriores a R$ 4,04”, ressalta Dilvo.

Camilo também cita as incertezas: “Com o cenário nacional nesse clima incerto com relação à política, não há como prever o que vai acontecer. De qualquer forma, todos os setores serão impactados, de forma direta ou indireta, por essa variação do dólar. Teremos aumento de combustíveis, eletricidade e isso vai impactando nos custos em geral. É preciso analisar e ir com calma. Não há como desenhar, neste momento, um cenário animador ou não para o futuro”.