Saúde

Especialistas questionam eficácia dos kits-covid e alertam para riscos

Presidente da SBI, Clóvis Arns da Cunha afirma que não existe tratamento precoce; alerta foi feito pelo prefeito devido a pacientes que se automedicaram

Especialistas questionam eficácia dos kits-covid e alertam para riscos

O alerta do prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro, de que percentual significativo dos internados no hospital municipal fez uso de kit-medicação contra a covid-19 sem eficácia comprovada tem respaldo em estudos de especialistas e na ciência. Não existe tratamento precoce, afirma o presidente da SBI (Sociedade de Infectologia), Clóvis Arns da Cunha. Respaldar o uso de remédio sem evidência científica é inaceitável, diz o médico Drauzio Varella.

Chico Brasileiro, por reiteradas vezes, disse que o kit covid – como é chamado o pacote de remédios sem eficácia comprovada – traz riscos à saúde. Uma parte das pessoas que procura o hospital tem seu quadro agravado já que muitos retardam ao máximo o atendimento especializado porque usaram a medicação do kit.

Estudos de especialistas e da ciência nos últimos meses levaram as entidades a ter uma posição mais contundente contra o chamado “tratamento precoce”. A SBI foi a primeira a se posicionar, em junho de 2020, contrário a essa prática. A entidade produziu o primeiro documento analisando a pouca evidência científica disponível de alguns remédios, como a hidroxicloroquina.

Na avaliação de Clóvis Arns, uma posição firme por parte da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de Medicina poderia ter minimizado a situação de Manaus, por exemplo. “Levaram o kit ilusão, o kit covid, que desde junho [de 2020] todas as sociedades médicas científicas e autoridades sanitárias do mundo sabem que não funciona”, disse.

Lamentável

Para o médico Dráuzio Varella, o endosso ao suposto “tratamento precoce” para tentar “evitar” a covid, “sem nenhuma evidência científica”, é tão lamentável quanto inaceitável. “É o pensamento científico que nos permite entender os dados e analisá-los”, ressalta.

“Não só gastamos dinheiro em estudos, como também empregamos recursos públicos na fabricação do medicamento. Esse discurso do ‘tratamento precoce’ conquistou uma parte da população e deu uma falsa sensação de segurança. Isso foi uma tragédia, infelizmente, com coautores médicos, que usam a pandemia para defender suas posições políticas”, completa.

Drauzio Varella afirma que não conhece nenhum médico sério, com formação científica adequada, “que tenha sido a favor desses tratamentos inventados, como ivermectina, cloroquina”. O que aconteceu, diz, é que a pandemia escancarou o movimento político que existe dentro da classe médica.

Consequências

O presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, Frederico Fernandes, usou como exemplo uma avaliação solicitada para uma paciente com hepatite medicamentosa. “Está a um passo de precisar de um transplante de fígado. Ganha um troféu quem adivinhar qual medicação foi a culpada. Pois é. Hepatite medicamentosa por ivermectina, 18 mg por dia por uma semana. Por covid leve em jovem”.

“Aqui, no mundo real, ainda esperamos que o entusiasmo dedicado à cloroquina seja, enfim, canalizado para as vacinas recentemente aprovadas pela Anvisa. A própria Anvisa, aliás, ao aprovar o uso emergencial das vacinas, fez questão de deixar claro que não existe tratamento precoce”, disse a bióloga e cientista Natália Pasternark.

Fonte: Prefeitura de Foz do Iguaçu