Cotidiano

Chamas de agosto: Região poderá sofrer com queimadas descontroladas

Em julho foram registrados 150 incêndios ambientais

Chamas de agosto: Região poderá sofrer com queimadas descontroladas

Reportagem: Mateus Barbieri

Cascavel – A forte e longa estiagem associada às geadas registradas no último mês na região oeste do Paraná são nitroglicerina pura, literal e figurativamente, pois elevam ao máximo o alerta para incêndios descontrolados nas áreas rurais e ambientais nos próximos meses.

De acordo com o meteorologista do Simepar (Sistema de Monitoramento Ambiental do Paraná) Fernando Mendonça Mendes, a entidade está realizando o acompanhamento e o monitorando de focos de calor em todo o Estado, em especial nas unidades de preservação e parques, como trabalho preventivo.

Segundo Mendonça, o Paraná apresenta vários focos de calor, entretanto, ainda não estão evoluindo para condições severas. São vários fatores que favorecem para que os próximos meses sejam críticos e com queimadas rápidas e descontroladas. “Tem que considerar a estiagem, o déficit hídrico, o aumento do índice de combustão da vegetação e isso está agregado, como é um período menos chuvoso, os riscos são maiores, aí tem geada que seca a vegetação, e vegetação seca acelera a queima”, lista.

Mesmo que ocorra, a chuva não anula o risco de incêndio, explica Mendonça. “Risco tem todos os dias, mas, quando tem uma situação de chuva, os riscos caem, contudo, não significa que não possam ocorrer novas queimadas”.

 

Incêndios

Conforme levantamento do 4º Grupamento de Bombeiros, que atende 41 municípios da região oeste, em julho foram registrados 150 incêndios ambientais e, em seis dias de agosto, já foram 39 incêndios atendidos na região.

De acordo com a tenente Mariana Lorenzi, do Corpo de Bombeiros, de 1º de janeiro a 5 de agosto de 2020, foram registrados 507 incêndios, e, neste ano, já são 600, aumento de 18%.

Segundo a tenente, Cascavel possui uma tendência inversa à do Estado. Na região oeste, as queimadas frequentes começam em abril, enquanto no restante do Estado em setembro, contudo, levando em conta os atuais cenários, a região deverá enfrentar problemas sérios nos próximos meses. “Este é um período do ano mais crítico. Então, iniciando no mês de julho e agosto, a gente faz a preparação para realizar o atendimento dessas ocorrências, a gente tem uma operação no Estado inteiro e essa operação a gente segue fases e cronogramas, que vão desde a preparação dos materiais e das viaturas, até mesmo o treinamento do efetivo”.

De acordo com ela, Cascavel é o Município onde mais focos são registrados, com 288 incêndios neste ano, aumento de 40% em comparação com os 164 incêndios registrados em 2020. Em seguida está Toledo, com 85 focos de incêndios, e, em terceiro lugar, Quedas do Iguaçu, onde foram registrados 64 focos de incêndio.

De acordo com Lorenzi, a maior parte desses incêndios poderiam ser evitados, visto que mais de 90% são ocasionados pelo homem. “Porque nessa época do ano esse risco é tão grande? Pela facilidade de propagação. Então são fatores climáticos que contribuem. A gente percebeu somente na cidade de Cascavel aumento de 40% nessas ocorrências. A vegetação muito seca a umidade relativa do ar muito baixa a falta de chuva a temperatura em alguns períodos do dia elevada contribui muito para a propagação.”

 

Conscientização

De acordo com Mariana, além de o Corpo de Bombeiros trabalhar na frente ostensiva, a corporação possui uma frente preventiva, que, junto da imprensa, busca conscientizar a população sobre os riscos das queimadas. “As pessoas têm que se conscientizar e denunciar, porque a prática de incêndio é crime. A gente tenta vincular um maior número de informações para as pessoas com relação ao risco, nossas redes sociais e na imprensa. A gente orienta para que as pessoas realmente denunciem para que essa pratica seja diminuída, principalmente nessa época do ano que chega a ter várias ocorrências ao mesmo tempo.”

 

 

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Milho seco na lavoura

Uma das culturas mais prejudicadas com as fortes geadas foi o milho. De acordo com a tenente Mariana Lorenzi, muitos agricultores entram em contato com o Corpo de Bombeiros com medo de que os incêndios atinjam as plantações. “A gente tem recebido muitas ligações de pessoas que alertam para o risco de o incêndio chegar até as plantações. O milho está seco, as pessoas ainda não podem fazer a colheita por questões até mesmo do seguro. Então, a orientação é para que façam aceiros, que é a proteção dessa área sem vegetação, para evitar que, se vier um incêndio, ele se propague.”

 

Fumaça na rodovia

No mês de agosto de 2020, um grave acidente deixou oito pessoas mortas e mais de 20 feridas na BR-277, em São José dos Pinhais. O engavetamento envolvendo 22 veículos aconteceu por conta da baixa visibilidade causada por uma queimada às margens da rodovia.

De acordo com o inspetor Ricardo Salgueiro, da Polícia Rodoviária Federal, neste período do ano, a PRF nota um maior número de acidentes nas rodovias justamente por conta das queimadas. “Na BR-467 [entre Cascavel e Toledo], a dificuldade é maior porque ela é duplicada e não tem concessionárias para dar apoio; na BR-277, tem a concessionária e o bombeiro, que fazem esse tipo de atendimento e dão suporte maior, até mesmo pelo fato de as margens estarem sempre limpas e roçadas.”

Contudo, Salgueiro observa que a PRF registra mais atendimentos na linha férrea. “A situação mais grave aqui, na região, é na linha férrea. Inclusive ontem [quinta, 5], havia um incêndio entre a linha férrea e a rodovia BR-277, próximo à divisa de Cascavel e Catanduvas. O fato é que, todos os anos acontecem incêndios logo após a passagem de uma composição. Nas regiões onde a linha férrea passa, perto da rodovia, é onde acontece o acidente. A gente já alertou, mas a Ferroeste nega a situação.”