Economia

A construção civil será o carro-chefe da retomada

O setor foi um dos menos afetados pelas medidas de contenção

A construção civil será o carro-chefe da retomada

Apesar de cauteloso quanto a previsões futuras em um cenário de pandemia, o presidente do Sinduscon Oeste (Sindicato da Indústria da Construção Civil Oeste do Paraná), Ricardo Lora, acredita que a construção será o carro-chefe da retomada econômica pós-pandemia. O setor foi um dos menos afetados pelas medidas de contenção, gerando empregos em um momento que a maioria das empresas demitiu ou fechou as portas.

Em entrevista ao jornal O Paraná, Lora destaca que um dos fatores responsáveis pelo boom do setor é a queda da Taxa Selic, o que fez com que muita gente tirasse o dinheiro aplicado em poupança e em fundos para investir em imóveis. Ele garante ainda que esse crescimento não é apenas uma bolha, e que será o grande gerador de emprego e renda nos próximos dois anos.

O Paraná – Um estudo recém-divulgado aponta o crescimento nacional de 30% da construção civil, com relação ao período de pré-pandemia. A que se deve isso?

Ricardo Lora – Esse crescimento está diretamente relacionado à queda da Taxa Selic. Desde que a pandemia começou, uma boa saída foi a redução dela para o reaquecimento da economia. Assim que a taxa caiu, os investimentos comumente mais aceitos acabaram perdendo rentabilidade. O imóvel sempre foi um investimento muito seguro. Com isso, muita gente retomou as atividades do setor da construção civil, acima do que a poupança estaria rendendo. Ou seja, o pessoal tira o dinheiro do banco e volta a investir em construção, tanto incorporadoras quanto indústrias e comércio. Quem quer aumentar sua unidade, aumentar a localização da indústria… Muita gente voltou a construir para aumentar empresas ou até mesmo residências.

O Paraná – Faltou e encareceu o material de construção. O que aconteceu?

Ricardo Lora – No início da pandemia, as grandes indústrias acreditaram que a construção civil daria uma segurada. Isso realmente aconteceu por uns 30 ou 40 dias, mas se acreditava que isso seria muito mais longo. Na realidade, a construção civil não chegou nem a parar, foi uma das indústrias que menos sofreram interferência durante a pandemia. Legislações municipais escolheram o que fechava e o que abria, mas na maioria das cidades do Brasil o setor não parou. Só que as grandes indústrias que entregam material para a construção civil, como aço e cimento, desligaram os fornos. As empresas que fornecem latas para tintas, por exemplo, pararam de fabricar e acreditávamos que sobraria esse material. O que ninguém esperava era que tão rapidamente voltaria a se aquecer. Como esse aquecimento voltou de forma rápida, muitas indústrias não estavam preparadas para suprir essa demanda, então ocorreu – e está ocorrendo ainda – essa falta de material. A gente acredita que nos próximos dois ou três meses a situação vá se regularizar, porque as empresas estão fabricando mais. Outro detalhe é a alta do dólar. Algumas empresas preferiram exportar, com uma rentabilidade muito maior. Isso ocasionou o desabastecimento e o aumento de preços.

“De forma histórica, a construção civil é utilizada para retomadas da economia. O investimento na construção civil é o que traz um retorno mais rápido de geração de emprego e renda”

 

O Paraná – A indústria da construção civil é um dos únicos setores que mantiveram e geraram mais empregos. A situação perdura?

Ricardo Lora – De forma histórica, a construção civil é utilizada para retomadas da economia. O investimento na construção civil é o que traz um retorno mais rápido de geração de emprego e renda, e foi isso o que aconteceu. Muito aquecido no início e continuou por meses para que fosse suprida toda essa demanda. Acreditamos que a geração de empregos continue no próximo ano, mas não na mesma crescente como foi neste ano, vai se estabilizar.  Os empregos regem o mercado da construção civil, ainda mais quando falamos de indústria imobiliária, de mercado residencial. A demanda vai ter que alcançar o ponto de equilíbrio. É muito importante que se analise a demanda para que não ocorram superlançamentos no mercado e isso cria um cenário para que os preços caiam e o mercado fique instável. Ele vai chegar a um equilíbrio, estamos próximos disso. Algumas pesquisas ainda serão feitas até o fim do ano e o começo do ano que vem, mas é muito provável que o crescimento continue, só que não numa taxa tão acelerada como foi agora.

O Paraná – Então esses empregos gerados serão mantidos?

Ricardo Lora – Se mantêm. A construção civil tem essa característica porque um empreendimento tem média de dois ou três anos e, dependendo do tamanho, até quatro anos para ser concluído, então, pequenas obras e pequenas reformas não impactam tão diretamente nos empregos, terminam mais rápido, mas as grandes obras têm um período de dois a três anos, então, pode-se contar que em 2021 e em 2022 essas pessoas continuem empregadas.

 

O Paraná – No setor de compra dos imóveis, houve um crescimento de 15% na região, aquecida por conta do boom da valorização agrícola. Você acredita que o setor continuará aquecido?

Ricardo Lora – Continua aquecido por um tempo ainda, porque o imóvel continua muito seguro e muito rentável em comparação com qualquer outro tipo de investimento. Se você colocar na balança, tem investimento mais rentável porém com risco maior. Então, pela segurança que o imóvel traz, o dinheiro que está hoje no banco ou em outros investimentos, soja ou milho, o pessoal vai querer transformá-lo em imóveis. Por isso que essa venda continua aquecida. Sempre lembrando que tem que entender a finalidade desses imóveis. Se for para moradia própria, ok!, mas, se estão comprando para vender ou alugar, tem que pensar um pouco antes e fazer uma análise mais aprofundada de mercado, para saber se vai ter retorno no aluguel ou se vai conseguir vender e ter um superávit. Nosso mercado sempre foi baseado na agroindústria, então, com safras rentáveis e supersafras, o setor da construção é muito favorecido. Gira o comércio, gira a indústria da região e uma grande parte desses valores acaba indo para a construção civil.

 

“O imóvel continua muito seguro e muito rentável em comparação com qualquer outro tipo de investimento. Se você colocar na balança, tem investimento mais rentável porém com risco maior”

O Paraná – Por conta da pandemia, a cultura do home office se instalou e muitos pensam em nem retornar ao trabalho presencial. Isso também pode trazer um investimento maior em residências ou ainda é cedo para dizer?

Ricardo Lora – O mercado é muito instável. Há dois ou três meses, eu diria que sim, mas, atualmente, várias pessoas com quem tenho conversado não aguentam mais ficar em casa. Na nossa construtora, oferecemos essa opção para trabalhar de casa, mas isso tem acontecido com investidores, clientes e que ficaram em dúvida se voltam ou não. Esse relacionamento pessoal ainda tem que ser valorizado e percebemos isso até mesmo no Sinduscon. Fizemos reuniões virtuais e não têm o mesmo resultado que as presenciais. Quanto às locações de imóveis comerciais, acho que vão continuar aquecidas, talvez uma pequena parcela vá continuar em home office, mas a maioria volta. Para quem vai trabalhar em casa, uma parte maior da casa vai ser destinada ao trabalho, acabaram enxergando as residências de uma forma diferente. Outras vão ficar dois dias em home office e o restante da semana na empresa.

 

O Paraná – Existe previsão de alta ou de queda nos valores dos aluguéis?

Ricardo Lora – O mercado de locação passa por um momento um pouco diferente. Antigamente, a correção era por IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado), mas hoje ele já está chegando à casa de 20 a 25% de aumento nos últimos 12 meses, num cenário em que muita gente pediu correção negativa. Acaba prevalecendo o bom relacionamento entre locador e locatário com relação à negociação. Os valores ainda estão dentro do que era esperado. O PIB do terceiro trimestre no Brasil subiu 9,4%. A retomada está vindo.

 

O Paraná – Temos aumento nos números de casos de coronavírus e o fantasma da segunda onda. Como o setor vê isso?

Ricardo Lora – Muito difícil imaginar como seria essa situação. Possivelmente um lockdown e o nível dele. Temos como exemplo os Estados Unidos e a Europa, onde isso já aconteceu, e aqui, na nossa região, pode ser que acabe chegando após a vacina. Para a construção civil, levando em conta como foi na primeira onda, até por trabalharmos em locais abertos e com mais facilidade de controle, acredito que vamos manter da mesma forma. Não serão 15 dias parados que vão atrapalhar um empreendimento que leva dois, três ou quatro anos para ficar pronto. Vai ser um pouco mais simples, falando-se da indústria, e não da saúde, obviamente.

 

O Paraná – Já se pode desenhar o cenário de 2021?

Ricardo Lora – Está muito incerto. A gente lê muita coisa e não arriscaria dar palpite com relação à vacina ou quanto tempo vai demorar para a imunização funcionar. Continuamos fazendo nosso papel, tentando manter empregos, gerando renda, possibilitando condições de investimentos de outros setores.

 

O Paraná – Pode-se dizer que a construção civil deve continuar sendo o carro-chefe para a retomada econômica?

Ricardo Lora – Com certeza! Diversos outros cenários não parecidos, até porque nunca tivemos uma pandemia como essa, mas, em cenários de crise, a construção civil eleva o PIB e sempre teve essa característica. Com investimento pequeno, comparado a outras indústrias, traz renda mais rápida e maior. Desta vez não será diferente.

Sinduscon Oeste

Criado em dezembro de 1993 por iniciativa de 34 empresas que buscavam ampliar a representatividade institucional no interior do Estado, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Oeste do Paraná – Sinduscon Paraná Oeste – vem se consolidando ao longo dos anos como o legítimo representante das empresas associadas nas ações que levem em conta o fortalecimento do setor. Seu intuito maior é o fortalecimento harmônico e a implantação de serviços e atividades que atendam as necessidades da cadeia produtiva da construção civil.