A possibilidade de um novo agravamento da pandemia da covid-19 no Brasil, com provável retomada de medidas restritivas, e a incerteza com relação à manutenção dos auxílios que os governos concederam às empresas e à população para conter a crise afetaram a percepção dos industriais do Paraná em novembro. No levantamento mensal realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) ficou em 67,4 pontos. O resultado ficou um ponto abaixo do registrado no mês anterior, que vinha numa sequência de altas desde junho.
O ICEI é formado pelo indicador de condições e expectativas. O primeiro foi o que mais impactou no resultado este mês. Caiu de 66,2 pontos em outubro para 63,7 pontos agora. Ele avalia a percepção do empresário com relação à economia e aos seus negócios nos últimos seis meses. Já o índice de expectativas, visão com foco no futuro, que era de 69,5 na pesquisa anterior, ficou praticamente estável, em 69,2 pontos.
“O pensamento do industrial já está focado no planejamento para 2021. A possibilidade de uma nova paralisação das atividades, a exemplo do que já vem ocorrendo na Europa e em alguns países da Ásia, principalmente neste momento em que o setor está em ritmo de recuperação, pode ter influenciado a percepção do empresário na pesquisa”, avalia o economista da Fiep, Evânio Felippe.
O fechamento parcial e até total de algumas economias nestes mercados, informa Felippe, pode impactar a atividade de comércio exterior paranaense. “Estes países são destinos de muitos produtos da indústria estadual. Além de poderem reduzir os pedidos aqui, o cenário também impacta as importações, já que os processos aduaneiros tendem a ficar mais burocráticos e lentos com a paralisação de atividades. Muitos insumos vindos de fora, utilizados pela nossa indústria em seus processos produtivos, podem sofrer atraso no despacho para o Brasil e isso atrapalha a produção aqui”, explica.
Outro fator incerto é a continuidade dos auxílios concedidos pelo poder público nas três esferas tanto para socorrer empresas quanto a população no início da pandemia. A maioria tem validade até dezembro e ainda não se sabe se serão prorrogados. “Esse cenário de incertezas não é bom para a economia, ainda mais neste momento em que estamos num processo de recuperação”, avisa o economista.
Porém, ele acredita que a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia até dezembro de 2021, aprovada no Congresso no início deste mês, trará grande alívio para equilibrar o fluxo de caixa das empresas e para manutenção dos empregos para o próximo ano. “Uma vez concretizadas, essas medidas devem ajudar a manter o otimismo dos industriais e de todo o setor produtivo nos próximos meses”, estima.
Sondagem industrial
Um reflexo da percepção do empresário foi detectado na pesquisa mensal da CNI junto às indústrias. Ela se reflete, em parte, no resultado do indicador de confiança. Em outubro, 79% dos participantes revelaram esperar estabilidade ou aumento no volume de produção para o mês.
O nível da capacidade instalada nas indústrias ficou bem acima do usual para o mês para 11,6% dos respondentes, acima do usual para 28% e igual para 34%. O nível médio de utilização da capacidade ficou entre 60% a 100% para mais de 90% dos entrevistados. Com isso, 63% declararam que os estoques de produtos ficaram dentro do planejado para o mês.
Com relação aos próximos seis meses, 91% esperam aumento ou estabilidade na demanda por seus produtos e também manutenção e até aumento dos empregos. O que preocupa é a compra de matéria-prima, que deve aumentar para 44% dos empresários, já que está sendo percebida uma escassez nos últimos meses. “Há um descompasso entre oferta e alta demanda e isso já chegou às indústrias. Muitas estão tendo que renegociar prazos e até arcar com custos mais elevados. Insumos para produção de vidro, plástico, papelão, aço e outros itens estão em falta”, destaca.
Com relação a investimentos também há cautela por parte dos empresários. Cinquenta e quatro por cento pretendem aportar recursos, enquanto 44% confirmaram que não farão nenhum investimento. “O empresário está receoso, de olho no cenário econômico, para então tomar suas decisões”, conclui.