Cotidiano

Para FPA, a autossuficiência em fertilizantes requer enfrentamento a entraves ambientais

Para FPA, a autossuficiência em fertilizantes  requer enfrentamento a entraves ambientais

A redução da dependência brasileira de fertilizantes de outros países é um dilema alimentado há anos. O Brasil deixou a condição de exportador para ser importador de fertilizantes a partir de 1992. Essa situação ficou mais evidente a partir do conflito armado entre Rússia e Ucrânia.

De acordo com dados apurados junto a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, fazendo sombra para China, Índia e Estados Unidos. No score de maior importador, o Brasil ostenta a liderança absoluta. Esse consumo tem uma explicação: o volume da nossa produção requer uma larga utilização de fertilizantes.

Atualmente, 85% desses produtos são importados, com a Rússia, no ano de 2021, responsável pela maior parcela de importações, totalizando 23%, seguida pela China, com 14% e Belarus, com 3,4%.

 

“Barreiras”

Contudo, esse necessário plano estratégico de tornar o Brasil autossuficiente em fertilizantes esbarra principalmente nas questões ambientais. “O Brasil já teve ampla produção, mas hoje somos dependentes de fertilizantes de fora. Para aumentarmos a produção de potássio, por exemplo, o governo e o Congresso teriam que enfrentar entraves ambientais. Por exemplo, existe uma imensa reserva de potássio na Amazônia Legal. E aí? Pra ser autossuficiente, o presidente Lula e a ministra Marina Silva aceitariam um debate técnico e honesto sobre esse tema, sem paixões e ideologias?”, indaga o presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), Pedro Lupion, em entrevista concedida ao Jornal O Paraná.

A exploração mineral tem como gargalo os aspectos ambientais, por envolver territórios protegidos. O ponto central não é a escassez dos mineirais, mas sim, a forma de articular toda essa cadeia de interesses e leis. Ainda sobre as declarações de Lula, durante a inauguração de uma fábrica de fertilizantes no Triângulo Mineiro, o presidente disse que o Brasil “caminha para ser o celeiro do mundo”.

 

Crise à frente

Para o presidente da FPA, ainda não somos o celeiro do mundo, mas muitos são as conquistas nessa direção. “Neste momento, tememos por uma crise que se aproxima com uma quebra de safra, com deficiência na produtividade e muitos produtores rurais pisando no freio neste ano. Ajudaria muito mais se o governo do presidente Lula apresentasse soluções para o momento que se aproxima ao invés de fustigar os produtores rurais com muitas declarações sem embasamento técnico e pouca ação efetiva”, comenta Lupion.

Lula afirmou dias atrás que sua intenção era estreitar o diálogo com o agronegócio. Para Lupion, Lula e o governo “deveriam estar mais focados em oferecer soluções para os problemas que os produtores enfrentam”. Segundo o líder da FPA, “ao invés de procurar meios para retirar recursos do Proagro e transferir para o seguro rural, seria mais produtivo garantir recursos novos, tão necessários, principalmente, em um momento difícil que se aproxima para os produtores rurais que deve perdurar pelos próximos três a cinco anos. É preciso agir tendo isso em mente”.

Foto: Divugação/FPA

 

Agronegócio segue “sustentando” o Brasil

As exportações do agronegócio atingiram uma cifra recorde para os meses de fevereiro, chegando a US$ 11,63 bilhões. O valor foi 19,7% superior na comparação com os US$ 9,71 bilhões exportados em fevereiro de 2023, correspondendo a um crescimento de US$ 1,91 bilhão nos valores exportados. De acordo com a secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, quatro produtos explicam o forte crescimento das exportações em fevereiro de 2024: açúcar (+ US$ 1,06 bilhão); algodão (+ US$ 406, 55 milhões); café verde (+ US$ 313,06 milhões) e carne bovina (+ US$ 211,65 milhões).

No mês passado, os cinco principais setores exportadores foram complexo soja (32,1% de participação); carnes (15,8% de participação); complexo sucroalcooleiro (14,3% de participação); produtos florestais (11,0% de participação); e café (7,0% de participação). Estes cinco setores responderam por 80,2% das vendas externas do setor em fevereiro.

 

Destinos

A China continua sendo a principal parceira do agronegócio brasileiro, tendo adquirido US$ 3,60 bilhões em produtos do setor em fevereiro de 2024. O valor colocou o país asiático com 31,0% de participação nas exportações brasileiras do agronegócio no mês. Na sequência vem os Estados Unidos com US$ 842 milhões.

A Indonésia foi o país que mais aumentou a participação nas exportações brasileiras do agronegócio nesse mês de fevereiro. O país passou de 1,6% de participação em fevereiro de 2023 para 3,9% em fevereiro de 2024, ou o equivalente a US$ 448,94 milhões. Outro país que apresentou ganho superior a um ponto percentual nas exportações brasileiras do agronegócio foram os Emirados Árabes Unidos. Na prática, a participação do país dobrou, passando de 1,4% para 2,8% do valor exportado pelo Brasil em produtos do agronegócio no último mês.

 

Importações

As importações de produtos agropecuários passaram de US$ 1,34 bilhão em fevereiro de 2023 para US$ 1,44 bilhão em fevereiro de 2024 (+7,5%). Além desses produtos, houve aquisições de inúmeros insumos necessários à produção agropecuária, como: fertilizantes (US$ 640,47 milhões) e defensivos agropecuários (US$ 306,55 milhões).

 

Com apoio do Estado, startup cria marketplace para conectar produtores artesanais e clientes

Curitiba – Fundada em 2020, a startup Arte do Campo, de Curitiba, tem como propósito desenvolver uma plataforma que permita aos produtores artesanais entrar no mercado digital e oferecer seus produtos diretamente aos consumidores. Vindos de raízes rurais, os três amigos Douglas Sinigaglia, Ricardo Rossi e Oto Moreira começaram a idealizar o projeto durante a pandemia, quando o comércio precisou se reinventar.

A plataforma é um marketplace gratuito, sem necessidade de pagamento de mensalidade por parte dos produtores, no qual eles podem criar uma loja virtual, cadastrar produtos, inserir fotos e descrições. Para se tornar um parceiro, os produtores interessados precisam cumprir uma série de exigências legais e ter as devidas certificações para comercializar insumos artesanais.

Além de fazer a conexão entre agricultores e consumidores, a plataforma Arte do Campo tem como objetivo impulsionar a renda dos produtores, fomentar atividades agrícolas sustentáveis e contribuir para que eles tenham melhores perspectivas de desenvolvimento e viabilidade econômica, impedindo-os de abandonar as atividades artesanais e incentivando a inserção das novas gerações no trabalho artesanal.

Visando a ampliação da base de produtores beneficiados, a Arte no Campo se inscreveu no Paraná Anjo Inovador, programa de incentivo à startups paranaenses da Secretaria da Inovação, Modernização e Transformação Digital. Em dois meses atuando com o suporte dos recursos do programa, a startup dobrou o número de parceiros, saltando de 15 para 30 cadastrados na plataforma. A meta é chegar a pelo menos 50 parceiros, mas a expectativa é que seja possível alcançar mais de 100 até o final do ano.

“Começamos a pensar em uma forma para que eles tivessem acesso ao comércio digital, que hoje está disseminado em todos os setores, mas ainda era é pouco utilizado pelos pequenos produtores”, comenta Ricardo Rossi. “Uma das características essenciais desse setor é o trabalho em família. Então sempre destacamos o quão importante é a produção artesanal para a renda e viabilidade econômica de muitas famílias. Em muitos casos, são famílias que possuem propriedades pequenas, em que a atividade convencional da agricultura em geral não traz viabilidade”.

No momento, a plataforma conta com aproximadamente 150 produtos cadastrados, distribuídos em 15 categorias, como cafés, queijos, conservas, geleias, salames, sucos, entre outras.