Cotidiano

Outubro Rosa: câncer pode ter sim ligação com “traumas emocionais”

Outubro Rosa: câncer pode ter sim  ligação com “traumas emocionais”

Neste mês de outubro quando a cor rosa tradicionalmente acaba “ganhando os holofotes”, com objetivo de lembrar a importância de as mulheres cuidarem do seu corpo e se atentarem às mudanças e de colocar em dia os exames preventivos, muitos temas acabam dominando as discussões acerca das causas das doenças. Uma delas, que acaba sendo até um tabu, tanto para os profissionais, quanto para os pacientes, é a relação da doença com os possíveis “traumas emocionais”.

Para falar um pouco sobre o tema, a equipe de reportagem do Jornal O Paraná foi buscar respostas com quem trabalha dia a dia com este público, o médico oncologista. Ele é o profissional que dá a notícia à pessoa que vai se tornar seu paciente e para conseguir tratar, acaba tendo que entender a história, a rotina e as relações que a pessoa tem com a sua família e amigos.

Lucian Lucchesi é médico oncologista clínico do Hospital Uopeccan em Cascavel e trabalha com esta realidade. Com especialidade há quase dois anos na área oncológica, o médico que atua com o planejamento do tratamento e a inserção de medicamentos na rotina dos pacientes, disse que a questão emocional na maioria dos casos é que define como é que a pessoa vai encarar o desafio e como o tratamento vai evoluir.

“Se emocionalmente a pessoa não está bem, o tratamento é mais difícil e isso acompanhamos diariamente. Aqueles pacientes com dificuldades familiares têm inclusive mais tendência a desenvolver mais efeitos colaterais durante o tratamento”, explicou Lucchesi. Ele disse que a maioria dos pacientes, quando descobre a doença, contam a sua história de vida, os problemas e traumas que passaram e aqueles que não estão bem, não aceitam a doença e encaram de forma negativa.

O médico lembrou que o tratamento do câncer não é fácil, mas que o lado emocional do paciente muitas vezes acaba dificultando ainda mais tanto nas terapias, quanto na alimentação e no efeito medicamentoso. Outra questão, alertou o médico, é que o estado emocional do paciente é diretamente ligado a outras questões do tratamento, entre eles o estresse e a ansiedade. “Por exemplo uma pessoa depressiva, tem uma tendência muito maior de ter esse tipo de problema durante o tratamento”, constatou.

 

Principais causas

Segundo Lucchesi, as causas do câncer são diversas, mas algumas acabam sendo as mais frequentes. A área médica tem percebido que com o aumento da longevidade de vida das pessoas, uma das razões é o próprio envelhecimento populacional, já que com o passar dos anos as células do corpo humano também envelhecem e são quando as doenças são mais frequentes. Outro fator são as causas genéticas, ambientais e principalmente alimentar, já que com a rotina mais corrida muitas pessoas acabam optando por alimentos processados.

Mas a principal causa dos tipos de câncer ainda está ligado diretamente ao tabagismo. “Agora temos ainda a preocupação com os cigarros eletrônicos, que são uma nova modalidade do tabagismo”, disse. A segunda maior é a obesidade, que acaba trazendo com ela, os casos de sedentarismo, na contramão do recomendado, de que as pessoas pratiquem regularmente atividades físicas.

Sobre o aspecto emocional, o médico acredita sim, que ela pode interferir não de forma direta, mas uma pessoa que esteja com problemas emocionais tem uma tendência maior à depressão, ansiedade, uso de cigarro e excessivo de álcool e esses sim, são fatores que influenciam diretamente no desenvolvimento dos cânceres. “Além disso, a pessoa que não está bem a chance de ela não ter motivação para fazer exercícios, se cuidar e lembrar de fazer os exames periodicamente caem e isso sim, é fator preocupante”, reforçou o médico.

Sobre a receita de não ser um dos seus pacientes, o médico disse que é sempre a pessoa se manter equilibrada, com o corpo e o emocional em sintonia, praticando exercícios e se alimentando bem. Uma das novas formas de tratamento contra a doença é a imunoterapia que atua diretamente no sistema imunológico, justamente a junção de todos esses fatores. “Os traumas e o estado emocional podem levar às alterações, por isso, temos que cuidar de tudo um pouco”, reforçou.

 

“Meu câncer tem nome”

Para exemplificar o trauma e a sua relação com a detecção da doença, conversamos com uma mulher de 40 anos, que passou recentemente pela doença. Para não expor a sua vida particular, vamos usar um nome fictício, para relatar um pouco do que “Maria” viveu, desde a descoberta da doença até a sua cura, que é comemorada todo os dias. Ela acredita que o seu câncer tem nome e que sempre esteve ligado a um trauma vivido.

Mãe de duas meninas, a doença apareceu logo depois de uma separação de uma relação conturbada. “Mesmo com isso, ele estava sempre ao meu lado e me ajudando no que eu precisava, na rotina diária de família, com as meninas e não faltava amor, mas comprometimento”, relatou. Segundo ela, desde que constituíram a família, sempre existiu a vontade mútua de manter a relação, mas as adversidades acabaram falando mais alto e a separação foi inevitável.

Meses após a separação, ela descobriu a doença e todo o processo, desde a descoberta, início do tratamento e a mudança da rotina, teve que enfrentar sozinha. “Tudo isso vai dando um desespero, porque a gente não sabe o que vai acontecer. É uma doença grave e que mata. Tinha muito medo por mim e pelas minhas filhas”, lembrou. Tentando se fortalecer, “Maria” acabou dando mais uma chance aà relação, mas que em mais uma tentativa, não deu certo. “[Ele] Ficou comigo algum tempo, mas quando comecei as quimios e a radioterapia, decidimos nos separar novamente. A tentativa estava frustrada”, contou.

“Maria” tinha um sentimento de perda muito grande e a doença deixou isso ainda pior. “Acho que muito do que passei acredito que foi reflexo de tentar salvar uma relação que não tinha jeito, de lutar, buscar uma segurança em outra pessoa”, disse ela, que alerta a situação para que outras mulheres que estejam passando por uma situação parecida, repensem, para evitar chegar a esse diagnóstico.

“É difícil, foi uma fase horrível e acho que seria mais fácil se tivesse alguém, mas eu sempre mantive o foco na minha cura, sempre tive certeza disso, porque pensei muito nas minhas filhas, que eu era forte para passar e nessa hora a gente vê quem está do nosso lado. Hoje só tenho a agradecer e estou curada”, comemorou.