
Cascavel - O amor pelo o churrasco, em especial, é marcante para os moradores do Sul. Com grande mistura de gaúchos e catarinenses, Cascavel é conhecida nacionalmente e internacionalmente por ter o “maior churrasco do mundo”. Em 2017, a nossa tradicional “Festa do Costelão”, do Seminário São José, comemorando o Dia do Trabalhador, ganho registro no Guinnes World Record, o “Guinnes Book”, como o maior churrasco de fogo de chão do mundo.
O prato que encanta tanto pela beleza, quanto pelo “cheiro” e sabor do verdadeiro churrasco, há 28 anos faz parte da festa do seminário que chega à sua 57ª edição, sempre celebrada no dia 1º de maio, homenageando os trabalhadores e seu padroeiro: São José Operário. E, a cada ano, a festa atrai pessoas de diversas cidades, estados e países vizinhos (e outros mais distantes) que vem ver de perto o “jardim dos churrascos”.
A festa tem dupla e nobre motivação. Primeiro, a gratidão pelo trabalho e o cultivo da fé, buscando as benção de São José. E em segundo lugar, arrecadar fundos para a manutenção da missão do seminário na formação dos novos sacerdotes.
Preparativos
Os preparativos para churrascão começam dias antes da festa com os costelões cortados especialmente para a festa, lá em Campo Grande (MS). Acondicionados em caminhões de câmara fria, eles são espetados e salgados e ficam “descansando” por mais de 20 horas até chegarem ao fogo. Cada costelão pesa entre 20 e 24 quilos e deles ainda são retirados às “costelinhas” (3 kg em média), e que também fazem parte da festa.
Neste ano, mais de 16 toneladas de carne serão assadas. Os trabalhos começam às 4h da madrugada, com o fogo aceso às 6h para que o saboroso e suculento churrasco esteja pronto ao meio dia.
E durantes as 6 horas em que toda carne temperada com 1,5 tonelada de sal grosso é assada, consumindo cerca de 70 toneladas de lenha, todo mundo quer um lugar para fazer a selfie e comprovar que esteve na festa do maior churrasco ao fogo de chão do mundo.
Neste ano, são mais de 500 costelões para abastecer a festa e a mesa dos trabalhadores, dentro e fora do seminário.
Desde 1966
A primeira edição da Festa do Trabalhador foi realizada no dia 1º de maio de 1966, dia de São José Operário, padroeiro da instituição promotora e santo católico protetor dos trabalhadores. Anos depois o evento passou a ter início no dia 30 de abril ou alguns dias antes, com o também tradicional jantar a base de buchada.
Neste ano, a buchada foi preparada e servida no sábado, dia 26 de abril. Foram preparadas cerca de 2,5 mil porções.
SEMINÁRIO ARQUIDIOCESANO SÃO JOSÉ
O coração vocacional de Cascavel
Na reunião de pauta que definiu os rumos desta edição, os mais experientes compartilharam vivências, lembrando uma antiga tradição familiar na qual os pais designavam um dos filhos para se tornar padre. Os mais jovens, de olhos arregalados e ouvidos atentos ficaram admirados com o a história, de fato, muito antiga. E por um lado estavam certos, já que a tradição de as famílias enviarem um de seus filhos para o seminário é bastante antiga e remonta, em muitos casos, à Idade Média e se fortaleceu ao longo da Época Moderna, principalmente com o Concílio de Trento (1545–1563).
Esse concílio estabeleceu oficialmente a criação dos seminários como forma de garantir uma formação mais sólida e uniforme para os futuros padres, especialmente após os desafios trazidos pela Reforma Protestante.
A partir daí, tornou-se comum, principalmente em famílias católicas tradicionais — tanto na Europa quanto, posteriormente, na América Latina — que ao menos um dos filhos fosse “oferecido à Igreja”, como forma de serviço a Deus, gratidão ou até mesmo como ascensão social em tempos em que o clero tinha papel destacado na sociedade.
No Brasil, essa prática se enraizou fortemente a partir do século XIX e início do século XX, especialmente em comunidades rurais e interioranas, onde o padre era uma das figuras mais respeitadas da cidade, ao lado do médico e do professor. Em muitos casos, era uma decisão da família, não tanto do jovem, o que mudaria com o tempo à medida que a Igreja passou a enfatizar mais o discernimento vocacional livre e consciente.
O silêncio da vocação
Em meio ao movimento crescente da cidade de Cascavel, existe um lugar onde o silêncio tem um som especial — o da reflexão, do estudo e da vocação. Estamos falando do Seminário Arquidiocesano São José, uma verdadeira casa de formação espiritual, intelectual e humana é parte indissociável da história religiosa da região.
Fundado em 1972, o seminário carrega o nome de São José, patrono da Igreja. Mais do que um espaço de aprendizado, o seminário é um lar para dezenas de jovens que decidiram trilhar o caminho do sacerdócio. Mas, ao contrário do que muitos pensam, a rotina por lá vai além de missas e orações.
História
O Seminário Arquidiocesano São José foi fundado em 1972, por iniciativa de Dom Armando Círio, primeiro bispo da Diocese de Toledo e posteriormente primeiro arcebispo de Cascavel. Após o desmembramento da Diocese de Toledo, Dom Armando percebeu a necessidade de formar e acolher seminaristas na nova diocese. Desde então, tornou-se um centro de formação completo, abrangendo todas as etapas da formação sacerdotal.
Com mais de 50 anos de história, o Seminário São José já viu muitos de seus alunos se tornarem padres, líderes comunitários e até bispos. Mas, mais do que números, o legado é de esperança e fé no futuro da Igreja.
Em tempos de tantos questionamentos, é reconfortante saber que ainda existem jovens dispostos a ouvir o chamado e se dedicar inteiramente ao serviço do próximo. E, para isso, o Seminário São José segue firme como farol vocacional no coração de Cascavel.
Sacerdotes que passaram pelo São José
Em mais de cinco décadas, passaram pelo seminário: mais de 2000 seminaristas, mais de 130 padres e os bispos:
– Dom Odilo Pedro Scherer: Atual Cardeal-Arcebispo de São Paulo. Realizou parte de sua formação no Seminário São José e, posteriormente, foi reitor e professor na instituição. Hoje, Dom Odilo (foto), está no Vaticano, participando do Conclave que escolherá o novo Papa.
– Dom José Antônio Peruzzo: Arcebispo de Curitiba, nascido em Cascavel. Desenvolveu trabalhos nos seminários Nossa Senhora de Guadalupe e São José, além de atuar como vigário na Catedral de Nossa Senhora Aparecida.
– Dom Nélio Domingos Zortea: Bispo de Cruz Alta (RS). Atuou como assistente de
formação, reitor e ecônomo do Seminário São José, além de diretor do Centro de Teologia Interdiocesano de Cascavel.
– Dom Adimir Antônio Mazali: Bispo de Erechim (RS). Trabalhou como diretor espiritual e promotor vocacional no Seminário Menor São José e foi reitor do Seminário Maior Nossa Senhora de Guadalupe em Cascavel.
– Dom Reginei José Modolo (Dom Zico): Bispo auxiliar de Curitiba. Ingressou no Seminário Menor São José em 1989 e desempenhou diversas funções na Arquidiocese de Cascavel, incluindo a de pároco da Catedral Nossa Senhora Aparecida.
Voluntários de fé e com propósito
Importante destacar que toda renda obtida com a festa é destinada a manutenção do Seminário Arquidiocesano São José de Cascavel. E, para que a festa seja realizada, um verdadeiro batalhão, com pelo menos mil voluntários se unem em fé e propósito.
Um deles é o conhecido Paulo Picanha, a “lenda do churrasco” e que percorre o Brasil todo e o mundo apreciando e preparando bons churrascos. Conhecido como o “Dr. Picanha”, ele é bastante conhecido na festa e virou símbolo do voluntariado, já que é um dos incentivadores do evento.
Além dele, outros amantes da carne do fogo de chão vêm à Cascavel para ajudar na preparação de todos os detalhes da festa: da organização ao preparo dos alimentos se revezando antes, durante e depois do evento, planejado com um ano de antecedência.
E quando se pergunta a um voluntário o motivo da dedicação à festa, todos apontam a gratidão, o amor em servir ao próximo e fé como suas principais motivações.
A reportagem conversou com vários voluntários e todos são unânimes ao afirmar que a responsabilidade de preparar a festa do maior churrasco de chão do mundo é enorme, porém, não é maior que a alegria e a satisfação de servir o próximo e ajudar na manutenção e fortalecimento do seminário que tem a missão e vocação de preparar novos sacerdotes.