HOMENAGEM

Dia do Gaúcho: “As muitas águas não apagam a tradição”

A tradição gaúcha tem forte influência em Cascavel e região; culinária, dança e a música gauchesca poderão ser conferidas de perto, a partir de hoje no 2º Acampamento Farroupilha
A tradição gaúcha tem forte influência em Cascavel e região; culinária, dança e a música gauchesca poderão ser conferidas de perto, a partir de hoje no 2º Acampamento Farroupilha

Pronuncie a palavra Cas-ca-vel colocando a língua entre os dentes superiores da frente para pronunciar a letra ‘L’. Pronto. ‘Se tu lembrou’ de um povo que fala assim, costumeiramente, está pronto para seguir lendo a matéria especial do Hoje Express deste 20 de setembro: Dia do Gaúcho.

Além do sotaque típico, do uso do pronome ‘tu’ e tantos outros trejeitos que são familiares para uma região colonizada pelos tropeiros vindos do Rio Grande do Sul, fazemos parte de uma geração que cresceu ouvindo músicas tradicionalistas, fazendo jus à história da ‘querência amada’, ao sabor do bom churrasco e chimarrão.

Coração tricolor

Em Cascavel e várias cidades do Paraná, o coração é tomado pelas cores da bandeira gaúcha – verde, vermelho e amarelo – a terra de caudilhos como Getúlio Vargas e Leonel Brizola. E foi no mês de setembro – tão especial para os gaúchos – que em 2023 começaram as primeiras inundações no Rio Grande do Sul. Meses depois veio outra, até que em maio deste ano o Brasil parou para olhar para os irmãos gaúchos, que ficaram literalmente ‘em baixo d’água’.

E foi diante desta tragédia que a bandeira gaucha saltou mais alto entre os paranaenses fizeram. Uma pesquisa encomendada pela startup Loft, que atua no setor imobiliário, mostrou que 59% dos paranaenses fizeram alguma doação. Ou seja, praticamente seis a cada 10 moradores do estado. Apenas a Coordenadoria Estadual da Defesa Civil do Paraná mandou 13,2 mil toneladas de donativos ao estado devastado pelas águas.

Essa grande rede de solidariedade fez com que o Paraná ficasse em terceiro lugar, junto com São Paulo, entre os estados que mais ajudaram o Rio Grande do Sul. Além disso, os catarinenses e os próprios gaúchos ficaram na frente, com 73% da população consultada em cada estado fazendo algum tipo de doação. No Brasil, 54% enviaram donativos.

O Dia

Tida como ‘Dia do Gaúcho’, hoje (20) é uma das datas mais importantes para a história do Rio Grande do Sul, tanto que é feriado estadual. A data recorda o início da Revolução Farroupilha em 20 de setembro de 1835. Organizada pela elite gaúcha, o movimento lutava contra o poder imperial do Brasil e também é conhecida como Guerra dos Farrapos.

Os estancieiros gaúchos estavam insatisfeitos com a política fiscal do governo brasileiro. Entretanto, nesta época, o Rio Grande do Sul possuía um grande mercado no produto de charque e a insatisfação dos estancieiros, era referente à cobrança de impostos – não muito diferente de hoje.

O movimento, então liderado por Bento Gonçalves, espalhou-se por parte do território gaúcho, onde iniciou também uma vontade separatista do estado pelo Brasil. Alguns historiadores não entraram em consenso para saber se realmente isso ocorreu, porém, até os dias de hoje, esse sentimento ainda é presente em parte dos gaúchos.

Como estão os gaúchos após as enchentes?

A reportagem do Hoje Express conversou com Vanderlei Rohte, militar que mora em Canoas e “sentiu na pele” os dias da enchente que mudou a vida dos gaúchos. A casa dele alagou e por 15 dias ficaram em um abrigo é as águas baixarem e tivesse início o “recomeço”. “Hoje o nosso novo normal é acordar de manhã e ver o nível do rio”, disse, contando que Canoas está perto da normalidade. O lixo, entulho e a sujeira foram levados para depósitos como campos futebol e parques até que sejam destinados a um aterro sanitário. Contudo, muitos comércios continuam fechados e nem sabem se reabrirão.

O militar agradeceu pela a solidariedade das pessoas de todo o país. “Conseguimos nos reestruturar e temos o que a gente precisa para sobreviver, mas a parte psicológica foi bastante afetada, porque a gente vive com medo de voltar a acontecer”, relatou.

Segundo ele, o sentimento é de angústia e de questionamento do que ocorreu para não voltar a acontecer. “A gente constrói o sonho de uma vida de 23 anos de trabalho e a maioria das pessoas tem dado o seu melhor; estão pintando suas casas, refazendo seus jardins, tentando voltar a uma normalidade na medida do possível”. Mas todos aguardam que novas medidas para evitar nova tragédia, porque as barreiras construídas a partir da enchente de 1941, não funcionaram.

2º Acampamento Farroupilha

Para a gauchada de Cascavel e região, começa nesta sexta-feira (20) 2º Acampamento Farroupilha que vai ocorrer no terreno aos fundos da Câmara Municipal de Cascavel. O evento é uma promoção da Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná) em comemoração à Semana Farroupilha. Ademais, uma programação extensa com diversas apresentações artísticas, missa e desfile campeiro, churrasco, chimarrão e disputas de laço para entreter os participantes.

“Nossa ideia é valorizar a cultura do povo gaúcho, que é tão importante para a nossa região e celebrar junto com quem simpatiza por esses valores com muito churrasco, música e boa prosa”, explicou Vinicius Almeida, presidente da Comissão do Acampamento Farroupilha e diretor-geral da Amop. A programação tem abertura às 19h, com missa campeira com o Padre Gustavo, 20h30 terá a apresentação da Banda Sinfônica e 21h o jantar.

Programação

Sábado (21/09)

11h – Chegada do Desfile Tropeiro

11h30 – Apresentação da Banda do Exército

12h – Abertura do evento/Cerimonial

12h15 – Acendimento da Chama Crioula

12h30 – Almoço

14h – Torneio de Vaca Parada

Durante a tarde haverá apresentações artísticas

20h30 – Baile e Jantar do Dia do Gaúcho – CTG Estância Colorada

Domingo (22/09)

8h – Mateada

9h às 12h – Apresentações artísticas

12h – Churrasco compartilhado e almoço de aniversário de ordenação do Padre Gustavo – R$ 40,00

14h às 17h – Apresentações diversas

17h30- encerramento

Tradicionalismo vivo

O gremista Alison Barella, que herdou o sangue gaúcho do avô, é natural de Cascavel e tem fortes vínculos com a tradição que recebeu no seio familiar. “O Dia do Gaúcho é fundamental para mim, pois me faz recordar e valorizar os costumes que aprendi a preservar com minha família. Essa data celebra o esforço e a bravura de nossos antepassados que fizeram de tudo para esse dia ser lembrado; isso tem um significado profundo e busco cultivar essas tradições em minha vida”, disse.

A tradição gaúcha tem forte influência em Cascavel e região; culinária, dança e a música gauchesca poderão ser conferidas de perto, a partir de hoje no 2º Acampamento Farroupilha. Foto: Arquivo Pessoal/Alison Barella

Acadêmico de Educação Física, a música e a dança gaúcha fazem parte da vida de Barella.“Sempre busco cultivar alguns costumes, pois, acredito que isso me fortalece cada vez mais. Um dos principais é a dança tradicional gaúcha, que mantém em mim essa chama sempre acesa que vou buscar passar para meus filhos, netos e bisnetos”.

Além disso, Barella conta que há 10 anos se dedica à dança gaúcha pelo amor à tradição, sempre incentivada pelos pais. “Assim fui descobrindo o quão grande é tudo isso e como existem pessoas em nosso estado que tem um grande apreço a esses costumes”. Portanto, com vários prêmios em competições de dança gaucha, Alison Barella tem planos ousados para o futuro. São metas unindo o tradicionalismo e sua formação acadêmica, transformando o que hoje é um hobby em profissão, também a serviço da difusão da rica cultura gaúcha.