Cotidiano

Desempenho pífio - Aeroporto de Cascavel é o pior do Paraná

Região concentra os extremos: Foz ficou com o melhor resultado do Estado

Foto:Aílton Santos
Foto:Aílton Santos

Cascavel – Um estudo inédito elaborado pela equipe de apoio do deputado estadual Homero Marchese revelou o que empiricamente já se sabe. O desempenho do Aeroporto Municipal de Cascavel tem sido pior ano após ano. O foco do estudo é a análise da aviação civil comercial nos principais aeroportos do Paraná (Cascavel, Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina e Maringá), de 2014 a 2018, mas traz informações detalhadas de cada um deles desde o ano 2000. O coordenador do estudo é o economista João Ricardo Tonin.

E os números revelam que o oeste marca presença no levantamento nas duas pontas: O aeroporto que mais cresceu em voos, decolagens e embarques, que é o de Foz do Iguaçu, e o que teve o desempenho mais pífio dos últimos seis anos alcançando a posição mais crítica do Paraná, que é o de Cascavel. “Parece-me que o bom desempenho de Foz do Iguaçu se deu em muito pelo aprimoramento da estrutura turística, as adequações, maior número de companhias aéreas operando lá. Já em Cascavel não sou um especialista na área para opinar”, desconversa o deputado.

Mas com tantos cancelamentos de voos e problemas estruturais, a atuação em monopólio e a redução de decolagens, não fica difícil entender os motivos que justificam os dados.

O estudo divulgado nesta semana estava em elaboração pela equipe de Marchese desde o início do ano e analisou pelo menos 30 milhões de dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Entre as conclusões estão: o aeroporto de Cascavel contou no ano passado com algo próximo de 1,3 mil decolagens. O pior desempenho, até então, havia sido em 2012, com 800 decolagens. Quando o assunto é o embarque de passageiros, a situação é ainda mais crítica: foram 69,5 mil em 2018, contra 76,9 mil em 2017, retração apenas de um ano para o outro de 10%. Para se ter ideia, o pior desempenho desde então havia sido em 2012, com apenas 24,6 mil passageiros. O melhor período foi em 2015 com 123,8 mil.

Por consequência, o volume de abastecimentos no aeroporto local, com o QAV (Querosene de Aviação), despenca gradativamente. De 2014 para 2018, por exemplo, a redução é de 46%, baixando de 2.779 metros cúbicos para 1.502 metros cúbicos.

Foz do Iguaçu é destaque estadual

Enquanto Cascavel teve o pior desempenho do Estado, Foz do Iguaçu se consagrou como o melhor do Paraná e bateu seus próprios recordes. A maioria dos seus números foi melhor. Por lá, foram 8,6 mil decolagens em 2018, contra 8,3 mil em 2017. Quanto aos embarques, eles alcançaram 1,2 milhão em 2018, contra 1,1 milhão em 2017. Já o embarque de cargas foi o maior desde 2015. Naquele ano haviam sido 163 toneladas, ano passado somaram 188 toneladas.

Como consequência, o consumo de querosene de aviação foi o melhor em 2018 considerando toda a série histórica. Foram 34.520 metros cúbicos. De 2014 para cá este volume cresceu 19,4%. À época haviam sido 27.826 metros cúbicos.

Movimentação aérea cai 16% em 4 anos

O estudo sobre a aviação civil comercial nos principais aeroportos do Paraná constatou que, de 2014 a 2018, o número de decolagens domésticas e internacionais realizadas a partir dos aeroportos paranaenses caiu 16%. Foram 57.223 decolagens em 2014, ante 48.051 no ano passado.

A queda no número de embarques foi acompanhada por aumento do preço das passagens. Nas 128 principais linhas dos cinco maiores aeroportos do Estado houve aumento da passagem ou interrupção do serviço em 103 delas (80% do total das linhas analisadas).

O cenário negativo para a aviação comercial não é uma exclusividade paranaense, mas, ao lado de Minas Gerais e Rio de Janeiro, o Estado foi um dos mais prejudicados.

No Sul, o Paraná apresentou a maior queda no número de embarques pagos, decolagens e consumo de querosene para aviação. No mesmo período, o estado vizinho São Paulo, maior hub logístico do País, viu o total de embarques pagos aumentar 8%.

Para o deputado Homero Marchese, a situação pode piorar, já que outros estados têm adotado planos para estimular a atuação das companhias áreas. Ceará, Bahia, São Paulo e Espírito Santo, por exemplo, anunciaram cortes no ICMS do QAV.

Para ele, o aumento no número de voos e a redução da passagem passam, necessariamente, pelo estímulo à concorrência. “Sabemos que no Paraná há uma concentração do mercado nas mãos de duas companhias áreas. O governo estadual precisa atuar contra essa lógica”, alerta Homero.

O relatório já foi entregue ao líder do Governo na Assembleia Legislativa, à Casa Civil e o Governo do Paraná. O parlamentar afirma que vai acompanhar de perto as medidas que deverão ser adotadas para estimular a aviação comercial, passando não apenas por medidas que dependem do Estado, mas também por municípios.

O deputado conclui com um importante alerta: fica evidente que, caso medidas não sejam adotadas à aviação comercial, os entraves poderão prejudicar, mais uma vez, os trabalhos em curso para a construção do Aeroporto Regional do Oeste do Estado.

O que precisa mudar

Para o deputado Homero Marchese, alguns pontos precisam ser considerados no âmbito estadual. Uma sugestão é a adoção de um plano estadual para aviação com corte de ICMS para o QAV. Isso porque em 2015 o Estado reajustou a alíquota do imposto, saindo de 7% para 18%, mas as medidas necessárias não parariam por aí. “Claro que entre os principais fatores de os desembarques como um todo terem reduzido no Estado está a crise, mas em seguida vêm os elevados preços [das passagens], a falta de um plano de aviação, a necessidade de redução do ICMS para o QAV e medidas que estimulem a concorrência. Não quero dizer que existe cartel no Paraná, mas se observou que talvez uma companhia atue para não deixar outras entrarem. A concorrência é extremamente importante para baratear custos”, destacou o deputado.

Para Marchese, a redução do ICMS deveria vir acompanhada, assim como fizeram outros estados, por contrapartida das companhias como aumento de pousos e decolagens e maior número de aeronaves em operação. Como não há um número elevado delas, quem toma medidas de incentivo primeiro terá mais chances de contar com uma ação mais eficiente.

Prejuízos em infraestrutura

Outra constatação sobre a infraestrutura aeroportuária é peculiar no oeste: “De todo o Paraná, percebo que a região oeste é a que mais sofre com a falta de infraestrutura, principalmente na região de Cascavel. Existem os problemas relacionados às rodovias e o aeroporto. A região de Cascavel tem sido provavelmente a mais impactada [no Estado] com a falta dessa infraestrutura”.

Outro ponto que chama atenção no estudo é que, apesar de não operar com aviões de carga propriamente ditos, o transporte de mercadorias explodiu no aeroporto de Cascavel ano passado. Em 18 anos (de 2000 a 2018), o deslocamento de cargas do aeroporo local chegou a 90,7 toneladas, volume 256% maior que o registrado em 2000, quando foram 25,5 toneladas. Se o crescimento for analisado em um período mais curto, de 2017 para 2018, ele avançou impressionantes 50%. Isso porque o transporte de cargas no ano retrasado foi de 60,5 toneladas.

Clique aqui e leia o estudo completo. 

Reportagem: Juliet Manfrin