BUENOS AIRES – Sem a presença da Venezuela, que foi suspensa do bloco em dezembro passado por não incorporar normas internas em matéria econômica, política e de direitos humanos, os chanceleres do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai se reúnem nesta quinta-feira, em Buenos Aires, para discutir uma ampla agenda interna do Mercosul, que inclui a crise venezuelana. Segundo o chanceler paraguaio, Eladio Loizaga, os países do bloco buscarão a maneira de ajudar a Venezuela, mergulhada numa gravíssima crise humanitária e alimentar, mas a suspensão do país continua firme.
? Hoje temos um Mercosul diferente ao que tínhamos há três anos, que era um Mercosul exclusivamente político e deixava de lado a origem do bloco. Hoje existem algumas coincidências políticas, mas já não estamos na busca de uniformidade política. Convivemos com diferenças, respeitando essas diferenças ? afirmou o chanceler paraguaio, antes de reunir-se com o brasileiro Aloysio Nunes, a argentina Susana Malcorra e o uruguaio Rodolfo Nin Novoa.
Loizaga negou que o Mercosul esteja tentando intervir na Venezuela, como denuncia o governo do presidente Nicolás Maduro.
? Não é uma intervenção, existem princípios fundamentais que temos a obrigação de defender e dizer a nossos sócios o que estamos vendo bem e o que estamos vendo mal. Temos compromissos internacionais em matéria de direitos humanos e esses compromissos devem ser respeitados ? frisou o ministro do governo Horacio Cartes.
Ele questionou a falta de independência de poderes na Venezuela:
? O Congresso deve ser independente? essa é a democracia nua. Você é ou não é (democrático).
Loizaga assegurou que a agenda dos chanceleres também incluirá questões econômicas, principalmente a necessidade de eliminar obstáculos ao comércio.
? Em Assunção está cheio de produtos argentinos e brasileiros e não acontece a mesma coisa com os produtos paraguaios. Ainda é muito desigual ? questionou.
No próximo mês de abril, os quatro chanceleres se reunirão, pela terceira vez, como seus colegas da Aliança Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México). Paralelamente, estão avançando as negociações para um acordo de livre comércio com a União Européia (UE), uma das grandes metas do bloco.
? A negociação com a União Européia está mais lenta? na semana que vem haverá um encontro em Buenos Aires. Mas não é fácil, a questão agrícola é muito importante e mais neste momento com eleições na França e na Alemanha ? admitiu Loizaga.
Seu país, ao contrário de Brasil e Argentina, ambos tentando sair de uma profunda recessão, cresceu 3,8% no ano passado e projeta crescer até 4% este ano. As crises de seus vizinhos preocupa o governo Cartes, que também acompanha de perto os escândalos de corrupção no Brasil. Perguntado pela presença da Odebrecht em seu país, o chanceler paraguaio afirmou que “por sorte lá (no Paraguai) não está”.
? Não estamos imunes (à corrupção), a luta deste governo é forte. Temos um compromisso de dar mais transparência aos atos de governo? Nosso presidente não chegou ao poder para levar dinheiro ? frisou.
Na manhã desta quinta, os chanceleres do Brasil e da Argentina tiveram um encontro bilateral, antes da reunião do bloco. De acordo com Malcorra, a conversa com o chanceler brasileiro teve como foco “dar continuidade à linha de rota estabelecida pelos dois presidentes”. Uma das prioridades do Mercosul, reafirmou a ministra do governo Macri, é acelerar as negociações com a UE:
? A Europa mostrou um interesse renovado nos últimos meses e temos de aproveitar essa oportunidade.