Cotidiano

Cascavelense está retida na Venezuela e relata horror

Brasileiros fazem “vaquinha” para pagar comida, estão em uma pousada bancada por eles e vão diariamente para o consulado à espera de voltar

Cascavelense está retida na Venezuela e relata horror

Santa Elena – Um grupo de 20 turistas brasileiros que estão na Venezuela desde 17 de fevereiro não consegue sair do país vizinho. Entre eles há uma cascavelense, a administradora Mari Presrlak, que foi ao país vizinho em uma expedição ao Monte Roraima. Conhecida pelo turismo de aventura, existe ainda do lado venezuelano da fronteira mais um importante ponto que atrai milhares de brasileiros todos os anos: o Gran Sabana.

Ao menos 16 dessas pessoas contrataram os serviços de uma agência do Estado de Roraima e iniciaram o retorno para casa no domingo passado, mas a crise já havia se agravado, a fronteira já estava fechada por determinação do presidente Niocolás Maduro e desde então eles vivem momentos de incerteza, dificuldade de contato com as famílias e falta de informações de como poderão voltar para casa.

O grupo se reveza entre o consulado e uma pousada que vem sendo paga pelos próprios turistas. Mas o local é seguro e há sinal de internet.

Segundo relatos da cascavelense, um parceiro da agência brasileira que é venezuelano está ajudando os brasileiros por lá: “Ele tem nos ajudado com alimentação, temos feito vaquinha para comprar comida em uma padaria aqui perto, mas aqui é tudo muito caro”.

Mari não esconde o medo, inclusive de que vasculhem os celulares. E diz que a situação do povo é muito pior de tudo o que já foi divulgado pela imprensa.

Segundo ela, no dia em que chegaram a Santa Elena de Uairen, na descida da montanha onde ficaram por sete dias, o cenário era preocupante, quase desesperador: “Havia carros e ônibus queimados pelas ruas, na montanha não sabíamos o que estava acontecendo e depois nos disseram que o lugar mais seguro era mesmo lá, no alto da montanha… Só soubemos quando chegamos aqui… Estamos todos bem, mas na expectativa de voltar para casa”.

Esse foi o último grupo de turistas brasileiros a entrar na Venezuela. Além deles, há cerca de outros 50 brasileiros que aguardam para retornar.

Mari disse que ontem muitos estabelecimentos comerciais permaneciam fechados, mas que parte dos militares que entraram em confronto com civis já deixou a cidade de Santa Elena, que aparentava tranquilidade, apesar de à noite haver uma espécie de toque de recolher e as ruas ficaram vazias. “A informação que recebemos no consulado é que daqui seremos acompanhados até a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, pelo Exército venezuelano e lá seremos recebidos pelo Exército brasileiro. O transporte da agência de turismo nos espera na fronteira desde ontem [segunda-feira] e nos levará até Boa Vista. Nossa maior preocupação é voltar para casa, porque todos nós já perdemos os voos de volta e não sabemos como as companhias aéreas vão tratar disso conosco”, completou.

Ontem à tarde a reportagem tentou contato com a agência que os levou à Venezuela, mas o telefone estava desligado.

Já o Itamaraty informou que segue em negociação com Caracas para a liberação dos brasileiros que ainda estão na Venezuela, incluindo os que residem no país vizinho e queiram retornar para o Brasil. “O Itamaraty está preparando medidas de assistência para retirar brasileiros que queiram deixar a Venezuela diante do agravamento da crise no país vizinho. Desde o sábado, dia 23, o Consulado do Brasil em Caracas envia um formulário a eles perguntando se têm interesse em sair de lá caso sejam oferecidos meios de transporte pelo governo brasileiro”.

Informações falsas

Uma série de informações falsas tem circulado em redes sociais sobre o tema Venezuela. As fake news têm gerado preocupado, a exemplo da informação de que o presidente Jair Bolsonaro teria convocado, a partir de um decreto, todos os homens para que se apresentassem para invadir a Venezuela. Outra relata que o Exército estaria convocando todos os homens brasileiros para uma possível ação militar.

Segundo o governo brasileiro, a situação na Venezuela precisa ser resolvida pacificamente e em momento algum se cogitou convocar os brasileiros, muito menos invadir o país vizinho.

Ontem, a informação era de que até na fronteira a situação já estava mais tranquila.

Consulado tenta “resgatar” brasileiros

Na tarde de ontem, em reportagem do Estadão, a informação era de que o vice-cônsul do Brasil em Santa Elena do Uairén, na Venezuela, cruzou a fronteira em Pacaraima num veículo oficial para buscar suprimentos para os brasileiros que estão retidos no país vizinho.

A informação era de que eles estão abrigados na representação diplomática à espera de um aval de Caracas para voltar ao Brasil. “Eles ainda não vão sair. Eu vim buscar alimentos e água”, disse Ewerton Oliveira no meio da tarde.

O vice-cônsul chegou a conversar com um oficial das Forcas Armadas bolivarianas na linha de fronteira acompanhado de oficiais do Exército brasileiro. O encontro ocorreu quando um grupo de militantes chavistas veio da Venezuela até a linha de divisa com o Brasil em Pacaraima fazer um protesto gritando “Pátria Livre”.

O regime de Maduro tenta gravar imagens para convencer a população de que há normalidade na fronteira. Civis foram transportados em ônibus escolares para limpar e fazer pequenos reparos na estrada, danificada nos confrontos do fim de semana.

O Exercito brasileiro impediu que a imprensa nacional registrasse a atividade.

Por Juliet Manfrin