Cotidiano

Alunos são impedidos de entrar para assistir aula em colégios ocupados

RIO – No dia seguinte à decisão judicial para o retorno às aulas nas escolas ocupadas, estudantes estão sendo impedidos de entrar por alunos que participam do movimento. A estudante do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, ficou frustrada. Maria Luiza de Almeida Valente, de 18 anos, chegou da Pavuna por volta das 7h15m e foi impedida de entrar na escola por outros alunos.

— Simplesmente disseram para mim que não vai ter aula e vou ter que voltar pra casa. Vim na expectativa de que iria ter aula e não vai ter. Perguntaram se era para recarregar cartão e eu disse que não, que era para ter aula, e me disseram que não vai ter aula. Me sinto frustrada — disse a estudante.

Até as 7h40m, nenhuma autoridade apareceu no Colégio Estadual Amaro Cavalcante para cumprir a decisão judicial.

As aulas também não retornaram no Colégio Estadual Visconde de Cairú, no Méier, na Zona Norte do Rio. Na manhã desta quarta-feira, alguns estudantes que não participam da ocupação foram à escola na esperança de que o ano letivo reiniciasse. O portão principal ainda estava trancado, e a entrada de alunos estava sendo feita pelo portão lateral. Nenhum estudante foi impedido entrar na unidade. Mas, para isso, eles precisam bater no portão para que integrantes do movimento de ocupação abrissem as portas. Pelo menos dois professores chegaram ao local.

Os alunos disseram que uma assembleia será realizada no colégio para que seja decidida o próximo passo do movimento: se a decisão da Justiça será acatada ou não. O clima é pacífico na unidade.

Durante a ocupação, que já dura algumas semanas, alunos do movimento afirmaram que durante a paralisação, ocorreram “aulas no estilo ocupação”, onde os alunos, esporadicamente, recebiam conteúdo de determinada disciplina por algum professor.

JUSTIÇA DETERMINA RETORNO ÀS AULAS

Nesta quarta-feira, a juíza Glória Eloiza Lima da Silva, da 2ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital, ordenou a imediata retomada das aulas. Segundo ela, o movimento de estudantes que ocupam cerca de 60 colégios para exigir melhores condições de ensino não podem impedir o acesso de outros alunos e professores. Os protestos não estão proibidos, desde que se respeite a ordem judicial e sejam “ordeiros”.

A juíza disse que o cumprimento da decisão será garantido por meio de uma ação integrada da secretaria de Segurança, do Ministério Público, Defensoria, do Conselho Tutelar e de psicólogos e assistentes sociais da 2ª Vara da Infância e da Juventude. No entanto, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmou que não vai autorizar a desocupação das escolas da rede estadual se não tiver o respaldo de outros órgãos do governo.

A decisão foi tomada durante uma audiência em juízo que reuniu representantes dos alunos e o secretário estadual de Educação, Wagner Victer. Contudo, ainda há incerteza sobre a efetividade da ordem judicial na prática, por causa da greve dos professores, que já se estende por três meses. Segundo estimativa do Sindicato dos Profissionais de Educação (Sepe), a adesão chega a 70%. Para a secretaria de Educação, a paralisação só mobiliza 30% dos professores.