Gripe aviária

Embargos de dois meses da China e União Europeia podem custar R$ 1,5 bi ao Brasil

Jaguá Frangos. Jaguapitã 04/2021. Foto: Ari Dias/AEN
Jaguá Frangos. Jaguapitã 04/2021. Foto: Ari Dias/AEN

Cascavel – Aconteceu o que todos temiam. Antes mesmo de o galo cantar, o Brasil foi despertado na sexta-feira (16) com a notícia de um foco de gripe aviária de alta patogenicidade em um plantel comercial de aves, localizado em uma propriedade em Montenegro, no Rio Grande do Sul. A reação dos mercados internacionais foi imediata. A China anunciou o embargo das importações de carne de frango do Brasil pelos próximos 60 dias, e a União Europeia seguiu o mesmo protocolo sanitário.

Para especialistas, esse tipo de comportamento é comum diante de um anúncio como esse. A confirmação do foco levou o governo federal, por intermédio do Ministério da Agricultura, a decretar emergência zoossanitária no país, com duração inicial de dois meses.

No mês passado, os cinco principais países importadores de carne de frango in natura do Brasil foram: Arábia Saudita (US$ 82,0 milhões); Emirados Árabes Unidos (US$ 77,8 milhões); China (US$ 76,3 milhões); Japão (US$ 73,5 milhões); e União Europeia (US$ 67,0 milhões).

R$ 1,5 bilhão

Com base nestes números, os prejuízos ao Brasil nos próximos 60 dias, apenas com os embargos da China e da União Europeia, devem chegar a quase US$ 300 milhões — ou seja, R$ 1,5 bilhão. Considerando todos os países importadores, o volume de perdas pode ultrapassar US$ 753 milhões, o que representa cerca de R$ 3,7 bilhões.

Ao saber da notícia, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tratou de tranquilizar a população quanto ao temor sobre riscos à saúde humana. Em nota encaminhada à redação do Jornal O Paraná, o Ministério da Agricultura descartou qualquer possibilidade de prejuízo à saúde do consumidor brasileiro. O próprio ministro afirmou: “Não há risco de a pessoa se contaminar consumindo carne de frango e ovos. Até porque as pessoas não consomem aves e ovos in natura, uma vez que existe risco de outras doenças, como, por exemplo, a salmonela. O processo de cozimento elimina por completo o vírus”, disse o ministro.

Segundo Fávaro, a população pode continuar consumindo carne de frango com segurança, atestada com qualidade pelo Ministério da Agricultura. “O risco existe para quem manuseia o animal, sejam os tratadores ou o profissional que vai recolher as carcaças de animais mortos em decorrência do vírus.” O Ministério da Agricultura informa que há um protocolo específico para garantir a segurança desses profissionais.

Caso pontual

Com a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em plantel comercial, associações do setor pecuário afirmam que o caso é pontual. Em nota conjunta, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e a ASGAV (Associação Gaúcha de Avicultura) ressaltaram que todas as medidas necessárias para o contingenciamento da situação foram rapidamente adotadas, e que ela está sob controle e monitoramento dos órgãos governamentais.

As entidades dizem confiar na agilidade das ações que serão adotadas pelo MAPA e pela SEAPI (Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul). Além disso, ABPA e ASGAV reforçaram que a situação não representa qualquer risco ao consumidor final. Este é o primeiro foco de gripe aviária detectado no sistema de avicultura comercial do Brasil. O MAPA informou que, desde 2006, a circulação do vírus ocorre principalmente na Ásia, África e no norte da Europa.

Medidas iniciadas

O Ministério da Agricultura destacou que as medidas de contenção e erradicação do foco — previstas no Plano Nacional de Contingência — já foram iniciadas e visam não apenas debelar a doença, mas também manter a capacidade produtiva do setor, garantindo o abastecimento e, assim, a segurança alimentar da população.

O ministério também está realizando a comunicação oficial aos entes das cadeias produtivas envolvidas, à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), aos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, bem como aos parceiros comerciais do Brasil. O serviço veterinário brasileiro vem sendo treinado e equipado para o enfrentamento dessa doença desde a primeira década dos anos 2000.

Ao longo desses anos, para prevenir a entrada da doença no sistema de avicultura comercial brasileiro, várias ações vêm sendo adotadas: monitoramento de aves silvestres, vigilância epidemiológica na avicultura comercial e de subsistência, treinamento constante de técnicos dos serviços veterinários oficiais e privados, ações de educação sanitária e implementação de atividades de vigilância nos pontos de entrada de animais e seus produtos no Brasil. Tais medidas foram determinantes e se mostraram efetivas para postergar a entrada da enfermidade na avicultura comercial brasileira ao longo de quase 20 anos.

Suspensão por 60 dias

A China anunciou a suspensão, por 60 dias, das importações de carne de frango do Brasil. A medida afeta diretamente o setor de avicultura, já que o país asiático é um dos principais compradores da carne de frango brasileira. Apesar da reação do governo chinês, o MAPA reforça que a gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne de aves ou ovos, e que os produtos brasileiros continuam seguros para o consumo. O caso registrado no Rio Grande do Sul é o primeiro em um sistema de produção comercial, embora o país já tenha identificado o vírus anteriormente em aves silvestres.

Após a detecção, o Brasil colocou em prática o Plano Nacional de Contingência para Influenza Aviária, com medidas de contenção, erradicação do foco e comunicação às autoridades sanitárias internacionais, como a OMSA.

Foco da doença levou à morte de 17 mil aves

O foco de gripe aviária registrado em Montenegro, no Rio Grande do Sul, provocou a morte de 17 mil aves, entre mortes causadas pela doença e sacrifícios sanitários. Membros do governo gaúcho concederam entrevista coletiva na tarde de sexta-feira informando que, em um dos galpões, todas as galinhas morreram. No outro, 80% das aves não resistiram, e o restante precisou ser sacrificado.

A granja é responsável pela produção de ovos férteis, comercializados para o desenvolvimento de animais de corte. Todo o material produzido no local está sendo rastreado para eliminação. Além do caso na granja, o governo do RS confirmou que as mortes de 38 cisnes e patos no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul foram causadas por gripe aviária. O episódio se soma ao caso registrado na granja comercial de Montenegro.

A equipe técnica do zoológico informou que patos e cisnes de diferentes espécies morreram repentinamente, sem apresentar sintomas específicos. Os especialistas seguem monitorando o estado de saúde das demais aves do parque. “Temos o resultado para gripe aviária. O diagnóstico já identificou o vírus, agora temos outros exames complementares para fazer o sequenciamento do vírus como um todo. Temos dois focos de influenza aviária: o H5N1 no zoológico e na granja do Rio Grande do Sul. São dois casos confirmados”, destacou a coordenadora do Programa Estadual de Sanidade Avícola.

Emergência zoossanitária

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, decretou estado de emergência zoossanitária no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, por 60 dias. A decisão ocorreu após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial, na quinta-feira (15/5), no município.

“Fica declarado, por 60 dias, estado de emergência zoossanitária no município de Montenegro, no estado do Rio Grande do Sul, na área que abrange 10 km ao redor do estabelecimento de aves comerciais onde foi detectada a ocorrência da infecção pelo vírus da influenza aviária de alta patogenicidade”, destaca a Portaria nº 795 do MAPA.

Segundo a Secretaria da Agricultura do RS, a suspeita de síndrome respiratória e nervosa em aves ocorreu em um local de reprodução. As amostras foram coletadas e encaminhadas a um laboratório em Campinas (SP), que confirmou o diagnóstico.

No 1º quadrimestre, apenas quatro estados

registraram redução no volume exportado

No 1º quadrimestre, somente quatro estados registraram redução no volume de exportação de frango. Entre as 23 Unidades Federativas (UFs) que exportaram carne de frango no 1º quadrimestre de 2025, apenas quatro registraram redução no volume embarcado: Rio de Janeiro, na Região Sudeste; Bahia e Ceará, no Nordeste; e Amapá, na Região Norte.

Porém, estas reduções não afetaram os desempenhos regionais, pois as cinco regiões apresentaram expansão no período. Em valores relativos, o avanço mais significativo ocorreu na Região Norte, cujos embarques aumentaram mais de 300% no quadrimestre, graças a Roraima (+292%), mas também à entrada de Rondônia e Tocantins no rol de exportadores da região.

Em valores absolutos, o maior incremento continua sendo da Região Sul, pois os três estados sulinos responderam por cerca de três quartos do adicional de 452 mil toneladas registradas no período, embarcando neste ano perto de 336 mil toneladas a mais que nos mesmos quatro meses de 2024.