RURAL

Efeito manada assombra o mercado do feijão

Descubra como o efeito manada afeta o preço do feijão no Brasil durante a colheita e sua escassez posterior - Foto: CNA
Descubra como o efeito manada afeta o preço do feijão no Brasil durante a colheita e sua escassez posterior - Foto: CNA

Cascavel e Paraná - O mercado brasileiro de feijão vive, mais uma vez, um cenário repetido que já não deveria mais surpreender ninguém. A cada safra, o mesmo roteiro se repete: durante a colheita, os preços desabam porque produtores correm para vender o que têm. Meses depois, quando o produto some do mercado, os preços sobem e quem já vendeu lamenta. O fenômeno tem nome: efeito manada.

Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses, o Ibrafe, afirma que já passou da hora de o setor encarar esse problema.

“Todo ano a gente assiste ao mesmo filme no mercado de feijão”, afirma Lüders. “Na colheita, o preço despenca porque todo mundo corre para vender. Meses depois, falta produto e o preço sobe. E aí? Reclamam e plantam até nas floreiras”.

Apesar de conhecida, essa sazonalidade segue derrubando renda e planejamento no campo. O ciclo é natural para uma cultura com janelas bem definidas de produção. O que surpreende, destaca Lüders, é que mesmo produtores preparados ainda dizem que “não sabiam” que isso aconteceria. “Vamos falar sem rodeio: não dá mais para aceitar essa história de que é surpresa o preço cair na colheita. Quando o preço está alto na hora de plantar, todo mundo planta mais. É óbvio que na hora de colher ele vai cair. Não tem truque nisso”.

Segundo ele, esse comportamento coletivo custa caro. “Quando os primeiros começam a vender, o medo de ficar com o feijão parado se espalha e vira uma corrida para liquidar tudo de qualquer jeito. Resultado? Preço lá embaixo”, explica. Na entressafra, com produto escasso, o mercado paga mais. Mas quem vendeu cedo fica de fora desse momento mais lucrativo.

Estratégias para Mitigar o Efeito Manada no Mercado de Feijão

Lüders refuta a ideia de que esse cenário seja imutável. “Ah, mas o mercado é assim mesmo. Não, não é uma maldição inevitável. A sazonalidade existe, claro. Mas dá para se preparar melhor. E quem não se prepara vai continuar vendendo barato demais”.

Para ele, o primeiro passo para mudar esse cenário é o planejamento financeiro. Muitos produtores vendem na pressa porque precisam do dinheiro na hora. “Precisamos falar mais sério sobre crédito, reserva de caixa e até organização coletiva para ter poder de negociação”, afirma.

Ferramentas e Soluções para Produtores de Feijão

Outro ponto destacado é a armazenagem. “Hoje não falta opção. Quem não tem silo próprio pode alugar, pode se associar a cooperativas ou usar câmaras frias, que estão cada vez mais disponíveis para feijão, garantindo qualidade e alongando o prazo de venda. Armazenar não é luxo, é estratégia para escapar do colapso de preços na colheita”.

Informação de mercado, hoje, também não é desculpa para decisões precipitadas. “Tem o índice CEPEA/CNA, que mostra preço em diversas praças. Tem o Clube Premier do Ibrafe, que entrega informação estratégica todo dia, com visão nacional e até internacional. Hoje quem quiser se informar tem como. Decisão baseada em boato ou no preço da venda do vizinho é rasgar dinheiro”.

O Uso de Ferramentas de Comercialização no Agronegócio

Outro ponto é o uso das ferramentas de comercialização que existem no agronegócio. Contratos a termo, barter e outros mecanismos de proteção de preços, muitas vezes vistos como soluções só para grandes produtores, já começam a ser adaptados para o feijão. “Ah, mas não tem para feijão: já começou a ter sim. O que precisa é posicionamento em defesa destas ferramentas. Brigar por elas, enviar feito meme para todo lado. Falar dela em seus grupos de WhatsApp, ir no seu sindicato brigar por elas”.

Marcelo Lüders reconhece que a verdade é dura, mas necessária. “Enquanto a gente continuar refém do efeito manada, vai vender mal na safra e reclamar do preço na entressafra. Para mudar isso, é preciso vontade de encarar a realidade, investir, cooperar e se profissionalizar de verdade”.

Ele lembra ainda que o feijão, além de ser parte da tradição e da alimentação do brasileiro, precisa ser um bom negócio para quem planta. “Mas isso só vai acontecer quando pararmos de repetir os mesmos erros e adotarmos estratégias mais inteligentes”, finaliza.