Cotidiano

Crescer sem violência

Mais de 80 mil denúncias de violações aos direitos infantojuvenis foram registradas no Brasil em 2015 através do Disque 100 ? dessas, 17.583 são referentes a casos de violências sexuais, o quarto lugar no ranking das violências mais notificadas. Essas violações têm impacto direto no desenvolvimento saudável da sexualidade e no comportamento psicossocial de crianças e jovens, causando danos que podem ser irreversíveis.

É urgente acabar com o silêncio e os tabus que envolvem esta questão. Por isso, todo ano, no mês de maio, por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, diferentes instituições se unem na campanha ?Faça bonito, proteja nossas crianças e adolescentes?. Ações são realizadas por todo o país com o objetivo de sensibilizar, informar e mobilizar a sociedade a participar da luta em defesa dos direitos de crianças e adolescentes.

O projeto Crescer sem Violência é uma das iniciativas que oferecem materiais e metodologias de referência para o enfrentamento das violências sexuais. Iniciativa do Canal Futura em parceria com o Unicef Brasil e a Childhood, o projeto tem como alvo educadores, familiares, agentes sociais e de saúde. São mais de 300 organizações articuladas e atividades que impactaram mais de duas mil pessoas em 2015.

Neste contexto, foram produzidas as séries ?Que exploração é essa?? e ?Que abuso é esse??, exibidas pelo Futura e parte do trabalho com as redes. Com abordagem lúdica, as séries usam marionetes para falar sobre temas como abuso de poder, pornografia infantojuvenil e aliciamento de crianças e adolescentes. O projeto é resultado do diálogo com instituições de referência no assunto, que ajudaram a definir o conteúdo dos programas: o que deve ser tratado, como tratar e como encaminhar as situações de violência, em uma perspectiva positiva para encontrar soluções.

A terceira etapa do projeto, em fase de elaboração, traz um novo aspecto: permitir que as crianças conheçam seu corpo, exercendo sua sexualidade de forma saudável e protegendo-se de possíveis abusos. Na série ?Que corpo é esse??, o objetivo é a prevenção e o diálogo direto com o público infantojuvenil para discutir os direitos sexuais. O entendimento é que, quando não há conversa sobre sexualidade com crianças e adolescentes, elas se sentem inibidas para falar sobre o assunto, e a questão só passa a ser tratada quando se transforma em problemas concretos, como a gravidez precoce, a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis e as violências sexuais.

Iniciativas como essas têm como meta fortalecer a rede de proteção integral à infância e lançar luz sobre um tema urgente e que, ao contrário do que muita gente imagina, pode estar próximo: a maioria absoluta dos casos de abuso é cometida por pessoas que as crianças ou jovens conhecem, não estranhos. A exploração, por sua vez, é preocupação premente num momento em que o Rio se prepara para receber turistas na Olimpíada. O Futura e diversas entidades estão participando de iniciativas para preparar os voluntários, os profissionais de atendimento e o sistema de garantia de direitos para atuação na proteção integral à infância durante os Jogos. A intenção é que possam encaminhar, da melhor forma, possíveis casos de violação de direitos de crianças e adolescentes.

Ana Paula Brandão é gerente de mobilização comunitária do Futura