Cotidiano

Quando um Villa-Lobos encontra o outro no palco

RIO – Por muito tempo, o ?tio-avô distante? Heitor foi uma sombra na vida de Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana. Muito se falava, nas conversas da família, sobre o maestro, um dos pilares da música brasileira ? tanto a de concerto quanto a popular.

? Mas ouvir Villa-Lobos, eu ouvia muito pouco em casa ? confessa Dado.

Amanhã e quarta, na Cidade das Artes, o músico faz o seu acerto de contas, junto com a harpista Cristina Braga, em ?Villa-Lobos, ontem e hoje?, espetáculo que abre a quarta temporada do Inusitado, projeto do produtor André Midani.

? A obra do Villa chegou até mim com o tempo, por intermédio do meu pai, e, depois, quando a Cristina veio com a ideia desse show ? completa Dado.

Primeira harpista do Teatro Municipal, Cristina conheceu Dado por amigos comuns e o levou para participar de discos seus: ?Feito um peixe? (2010) e o recente ?Whisper? (com O Quinteto Moderno de Samba e a Brandenburger Symphoniker). Quando André Midani indagou se ele tinha algum projeto para o Inusitado, o guitarrista lembrou da insistência gentil da amiga para que mergulhasse na obra do tio-avô. E o produtor logo se saiu com o título ?Villa-Lobos, ontem e hoje?, indicando que o programa também teria músicas de Dado, tanto da Legião quanto da carreira solo.

? O universo do Villa, que estava fragmentado na minha vida, foi chegando muito forte, à medida que o repertório ia sendo montado ? diz o guitarrista. ? Esse encontro me transformou num músico melhor, essas estruturas harmônicas e melódicas do Villa-Lobos são todas muito atuais.

? O Villa é um compositor maravilhoso e sempre esteve próximo do universo da harpa ? acrescenta Cristina. ? E o que é legal é que ele tem um componente grandioso, quase de rock, que você ouve no ?Choros nº 10? e no ?Veleiro?. Ele tem uma energia e um lirismo que você percebe bem quando o Dado toca. Tem uma linha genética do Villa-Lobos ali.

Dado comenta que, ao tocar obras do tio-avô, pensa em Jonny Greenwood, guitarrista do grupo inglês Radiohead que, cada vez mais, tem se aventurado pela música clássica em trilhas para filmes como ?Sangue negro? e ?O mestre?, ambos de Paul Thomas Anderson.

No show, temas de Heitor, como ?O canto do cisne negro? e ?Melodia sentimental? serão alternadas com sucessos da Legião (?Tempo perdido? e ?Índios?) e com faixas dos discos solo de Dado, como ?O homem que calculava? e ?Sobriedade?. No acompanhamento da dupla, contrabaixo, bateria, violoncelo e um quarteto de cordas.

? É muito bom poder juntar isso tudo num palco e descobrir que a harmonia de ?Índios? tem a ver com a das ?Bachianas? ? festeja Cristina.

O Inusitado segue em 5 e 6 de julho com Roberto Menescal, o ator e diretor Daniel Filho, Joyce Moreno e Leny Andrade num repertório de boleros.