Cotidiano

Em novo acústico, O Rappa ?toma de assalto? a mística Oficina Brennand

Links RappaRIO ? Uma ode ao povo e à cultura de Pernambuco. Da escolha do cenário ? a mística e pouco comentada Oficina Francisco Brennand ?, passando pelos instrumentos utilizados, como pífano, escaleta e sanfona, e chegando à prestigiosa direção do cineasta Lírio Ferreira, de ?Baile perfumado? (1996), a banda carioca O Rappa mostra em seu mais recente trabalho, o CD e DVD ?Acústico Oficina Francisco Brennand? (Warner Music), lançado na última sexta-feira, que se sente em casa no Recife. No início do show-documentário, o vocalista Marcelo Falcão conta que enxerga a capital como um pedaço do subúrbio do Rio, onde nasceu. Em entrevista ao GLOBO, ele esmiúça a comparação.

? Recife entra na nossa vida junto com o Abril Pro Rock, uma época em que a gente se doava muito nos shows. Lá, tivemos a oportunidade de conhecer todos os artistas célebres que saíram do Recife. Somos muito gratos ao Paulo André (Pires, idealizador do festival) e ao bairro de Peixinhos, em Olinda, onde conhecemos o Balé de Arte Negra Majê Molê. Aquilo tudo nos lembrava muito o começo do Rappa com o Afroreggae. Tocamos em Vigário Geral em época de guerra, em Peixinhos, que também é uma região carente, e conseguimos êxito ali. Vem daí a identificação e o respeito ? explica Falcão. ? Naquela época, fim da década de 1990, O Rappa no Recife era uma coisa meio Coldplay na Apoteose. Queríamos agradecer à cidade.

Foram quatro dias de gravações em diferentes horários ? ideia de Lírio Ferreira para aproveitar a luz do dia raiando e se pondo ?, em novembro passado, divididas entre o anfiteatro e o templo central da Oficina. O espaço, instalado nas ruínas de uma velha fábrica da família de Francisco Brennand, serve como ateliê, moradia e galeria de exposição para as obras do artista plástico pernambucano. Foi a primeira vez em que o conjunto arquitetônico, ocupado por templos, esculturas e painéis ? e um jardim projetado por Burle Marx ? recebeu um grande show de música popular. Aos 88 anos, Brennand não só cedeu o espaço, como participou do DVD com depoimentos. Em certo momento, brinca: ?Eles tomaram de assalto as oficinas com seus instrumentos letais. A mim, só coube fugir, porque já estou rendido?. Em outro, se mostra surpreendido ao saber que uma das apresentações gravadas teve início às 16h de um dia e só terminou à 1h da madrugada seguinte. ?Às vezes, eles repetiam uma música quatro vezes. Porque queriam atingir a perfeição. Não existe arte que seja fácil. Estou feliz com isso tudo?.

? Pensamos que este DVD pode ajudar a divulgar o trabalho dele, principalmente entre os jovens. É uma coisa muito impactante chegar aqui. Em um país como o nosso, tão rico culturalmente, as pessoas dão pouca importância para museus ? afirma o guitarrista Xandão. O Rappa e Rapadura – Reza Vela / Nordeste me Veste [Acústico na Oficina Francisco Brennand]

Na estrada desde 1993, O Rappa segue como uma das bandas de rock mais populares do país, com 13 discos lançados, entre álbuns de estúdio, gravações ao vivo e coletâneas, e enfileirando turnês internacionais ? fez, recentemente, seus primeiros shows na Oceania e já tem apresentações agendadas na Europa para o segundo semestre deste ano. No novo trabalho, o segundo registro acústico, 11 anos depois do ?Acústico MTV?, Falcão, Xandão, Lauro Farias e Marcelo Lobato apresentam quatro faixas inéditas. Entre as releituras, sobressai o repertório de seus mais recentes discos, ?7 vezes? (2008) e ?Nunca tem fim? (2013), mas um dos destaques é a parceria com o cearense RAPadura na união entre a antiga ?Reza vela? e ?Norte Nordeste me veste?, composição do rapper.

Indagado sobre se a pressão ? interna ou externa ? por um novo hit do tamanho de ?Rodo cotidiano?, ?Pescador de ilusões? ou ?Minha alma? influencia no processo de composição, Lobato, que chama atenção no novo DVD pela quantidade de instrumentos tocados, desconversa:

? Existe uma cobrança feita por nós mesmos de não nos repetirmos. Viemos de lugares diferentes, temos gostos bem particulares e podemos nos permitir experimentar. Acho que seria muita ingenuidade nossa tentar inventar uma fórmula. Se não existir uma verdade no que fazemos, não vale a pena. Talvez por isso O Rappa tenha demorado mais para acontecer. Não existe uma pressão de lançar um trabalho por ano. Precisamos de um tempo para conceber músicas inéditas. O público do Rappa já está habituado a isso e sempre espera material original. É um respeito mútuo. O Rappa – Uma Vida Só (Clipe Oficial)