
Guaíra e Paraná - O clima de tensão entre agricultores e indígenas voltou a crescer em Guaíra, município do extremo Oeste do Paraná, distante cerca de 140 quilômetros de Cascavel. Neste fim de semana, um crime bárbaro chocou a comunidade. Everton Lopes Rodrigues, 21 anos, foi brutalmente assassinado com requintes de crueldade. Ele é filho do cacique Bernardo Rodrigues Diegro, da Aldeia Yvyju Avary.
A vítima foi encontrada decapitada e com a cabeça espetada em um pedaço de pau na estrada de acesso à aldeia. Ao lado do corpo, foi encontrada uma carta contendo ameaças às comunidades indígenas e à Força Nacional, além de incluir afirmações de até mesmo atear fogo em ônibus com crianças.
Conforme informações repassadas pelo pai da vítima, o filho teria saído para jogar bola na comunidade vizinha e não retornou. Na madrugada do dia seguinte, foi informado sobre a localização da “cabeça” do jovem. A moto utilizada por Everton estava ao lado do corpo.
“Extrema violência”
Em entrevista à reportagem do Jornal O Paraná, o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e presidente da Comissão de Assuntos Fundiários, Fernando Prazeres, classificou o episódio como “de extrema violência”. Para ele, as comunidades indígenas enfrentam um cotidiano de extrema vulnerabilidade, marcado por privações e insegurança. “As comunidades indígenas estão expostas a toda sorte de violência. Passam fome. Não têm acesso regular à água e energia elétrica. Vivem precariamente”, afirmou.
O desembargador lembra que, embora haja esforços concretos em curso por parte do Judiciário e de órgãos públicos, o enfrentamento desse problema exige mais do que ações pontuais ou isoladas. “A Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal (CCAF) da AGU, e as Comissões de Soluções Fundiárias do TRF4 e do TJPR estão atuando diariamente para tentar superar os conflitos na região”, explicou. No entanto, segundo ele, tragédias como essa só serão evitadas com o engajamento conjunto e efetivo de todas as instituições do Estado, além da participação ativa da sociedade civil.
Fernando Prazeres enfatiza que a fragilidade social e econômica das comunidades indígenas abre espaço para a atuação de forças paralelas, que contribuem para a escalada da violência e a violação sistemática de direitos fundamentais. “A vulnerabilidade das comunidades indígenas permite a intervenção de outras estruturas de poder não institucionais e as submete a toda sorte de violações de seus direitos básicos e fundamentais”, pontuou.
As comissões citadas por Prazeres, tanto no âmbito estadual quanto federal, atuam na mediação de conflitos relacionados à terra, buscando garantir a dignidade humana e os direitos das populações mais vulneráveis, como os povos originários. No entanto, episódios como o assassinato do jovem indígena evidenciam que essas medidas ainda esbarram na ausência de políticas públicas efetivas, no descaso histórico com as pautas indígenas e na falta de segurança que ainda impera em muitas regiões do Estado.
Sindicato Rural
Em conversa com o Jornal O Paraná, o presidente do Sindicato Rural de Guaíra, Silvanir Rosset, prefere deixar comentários e investigação para as polícias. “O quanto antes a polícia descobrir o autor ou autores desse bárbaro crime, melhor, como forma de tranquilizar a toda a comunidade, assustada com a forma com que a vítima foi encontrada.” Informações dão conta de que esse seria o segundo crime cometido utilizando as mesmas práticas cruéis. O outro fato registrado teria sido um desentendimento entre os próprios indígenas.
Em nota, a Polícia Civil do Paraná disse que já iniciou as investigações em torno das circunstâncias do crime. Materiais foram coletados no local do crime para posterior análise da perícia. Diligências também ocorrem em vários pontos de Guaíra e região.
Ministério da Justiça emite nota
O Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos emitiu uma nota, manifestando preocupação com o caso e temendo consequências mais graves. “Desde as primeiras horas, o MDHC acompanha o caso por meio do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas, em articulação com autoridades locais e federais, a fim de assegurar a proteção das lideranças e das comunidades ameaçadas, bem como acompanhar as investigações para que este crime não permaneça impune. No Paraná, o PPDDH acompanha 19 lideranças Ava Guarani. Reiteramos nosso compromisso em defender a vida, a dignidade e os direitos dos povos indígenas, certos de que nenhuma ameaça silenciará a luta ancestral por justiça e território”, diz a nota encaminhada para a imprensa.
Recentemente, um acordo foi firmado garantindo a destinação de R$ 240 milhões por parte da Itaipu para a compra de três mil hectares de terra para aquisição de áreas e assentamento dos indígenas, hoje em áreas ocupadas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa.
O QUE DIZ A CARTA
Aqui é o bonde 06 do N.C.S.O
Estamos dispostos a eliminar qualquer um que atravessar o nosso caminho, principalmente quem pertencer ao PCC.
Nós sabemos que vocês, paraguaios, que dizem ser indígenas.
Vocês são aliados do nosso maior inimigo, que é o PCC.
Se vocês não desocuparem as terras recém-invadidas, nós vamos matar de vocês.
Iremos invadir as aldeias já existentes. Atacaremos o ônibus com vossas crianças dentro. Queimaremos vivos. Não é uma ameaça vazia, mas sim recheada com ódio, tá bom.
Próximo ataque será contra esse lixo apelidado de Força Nacional.
“Nós avisou porque nós somos bandido”, mas não covarde.
Aguardo o próximo capítulo.
Vão ter que andar de blindado, o (ilegível) vai cantar grosso.
hahahahaha lá, paraguaio, nós não usa arma 380