Cascavel e Paraná - A tão discutida instalação do Centro Pop no coração de Cascavel tem gerado uma curiosa “queda de braço”, daquelas em que muitos ficam acompanhando de longe e nem querem se meter. De um lado, o Poder Público, tendo que tomar decisões sobre o serviço, e do outro, o povo, que insiste em clamar pela revisão de algo já decidido. Uma dinâmica que, convenhamos, é muito complicada.
Na quinta-feira (10), o prefeito Renato Silva, em meio a um evento de entrega de ambulâncias (porque nada como misturar temas, certo?), fez uma declaração que ecoou como um hino à participação popular: “A sociedade é quem manda, mas me arrumem outro lugar e aprovem com os vizinhos do entorno, que muda amanhã”. Uma oferta generosa de diálogo, desde que a solução caia do céu, porque agradar a todos é sempre um “milagre”.
Onde a tensão se aglomera os “anões se aposentam”
Desde o início do ano, uma sutil “tensão” paira no ar de Cascavel, tudo por conta da mudança do serviço que antes funcionava tranquilamente no Bairro Santa Felicidade. O Centro Pop, em sua missão de atender pessoas em situação de rua durante o dia, tem a peculiaridade de “aglomerar” essas pessoas. E, para a surpresa de ninguém, isso “inflamou o sentimento de insegurança” de moradores, empresários e funcionários das proximidades do novo endereço, na Rua Santa Catarina, conhecido durante antes por ter estátuas dos anões da Branca de Neve no Jardim – que já não estão mais no lugar.
A situação ganhou novo destaque no cenário municipal com o aumento de pessoas em situação de rua e o lamentável assassinato de Luiz Lourenço em março, exatamente por um morador de rua que, na sequência, acabou entrando em confronto com as forças de segurança e também perdendo a vida. Um problema público que, felizmente, havia sido “amenizado” por uma “verdadeira força-tarefa” dos órgãos de segurança. É sempre bom saber que a segurança pública “não tem superpoderes” para resolver problemas tão complexos.
O grupo de “preocupados”, que cresce a cada dia, protocolou também na quinta-feira (10) um abaixo-assinado pedindo a “revisão” da decisão. Antes, na segunda-feira (7), a secretária de Assistência Social, Rosely Vascelai, recebeu uma comissão e se comprometeu a repassar a “insegurança” ao prefeito e dar uma resposta em três dias. E ela veio, como um presente, da boca do próprio alcaide: “Sugiro publicamente para que as pessoas que organizaram o movimento, que são as mesmas que protocolaram um abaixo-assinado, que sugiram um novo local e peguem a concordância dos vizinhos do entorno, porque é a sociedade que manda, já que estamos unidos pelo o bem comum”.
Renato reconheceu o direito do grupo protestar, mas agora dividiu a responsabilidade com quem está reclamando.
A Saga do Imóvel e o destino do Pop
O martelo foi batido em 27 de junho, em uma coletiva de imprensa que gerou uma “surpresa” para uns e um “descontentamento” para outros. Há meses, Rosely Vascelai tem feito malabarismos para atender a uma orientação do Ministério Público: “o serviço deve ser implantado em local de fácil acesso, com maior concentração e trânsito de pessoas em situação de rua”. Uma lógica que, se aplicada rigidamente, talvez levasse o Centro Pop para o meio da calçada.
O primeiro local cogitado, em março, próximo a duas escolas, foi rechaçado logo nos primeiros dias. A comunidade escolar, com sua notável organização, fez a ideia ser “deixada de lado” em questão de dias. Mas a Prefeitura tinha que encontrar um local no centro da cidade. Porque a localização é tudo, mesmo que ninguém queira.
O imóvel atual, um investimento público de R$ 13 mil mensais, tem um contrato inicial de três anos, totalizando R$ 468 mil. Uma casa ampla de 800 metros quadrados, sendo 227 construídos. O antigo prédio do Centro Pop, no Santa Felicidade, será agora um local de acolhimento para idosos.
A voz do comércio
A Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel) também entrou na discussão, posicionando-se oficialmente contra a escolha do imóvel. Em nota, a entidade expressou sua “preocupação” com a “percepção de segurança e a dinâmica do comércio local”. Convenhamos, quem quer pessoas em situação de rua atrapalhando o fluxo de clientes?
A Acic, sempre atenta ao ambiente de negócios, reconheceu a “importância de políticas públicas” para a população em vulnerabilidade, mas ressaltou que o local escolhido não é “o mais adequado”.
Para a associação, o Executivo deveria “reavaliar o projeto e identificar outra área, mais apropriada, que permita o atendimento digno das pessoas em situação de rua, mas que também preserve as condições de funcionamento e expansão do comércio e dos serviços no centro de Cascavel”.
O que realmente faz o Centro Pop?
O serviço, gerido pela Seaso (Secretaria Municipal de Assistência Social), oferece alimentação, higiene e encaminhamentos sociais. A escolha do local, segundo a Prefeitura, foi para atender à “recomendação do Ministério Público” e a um “mapa de calor” de um “aplicativo específico” – tecnologia de ponta para localizar a vulnerabilidade.
Uma das “inovações” é a alimentação gratuita nos Restaurantes Populares, mediante um voucher. Antes, a alimentação era feita na própria sede do serviço, mas com a mudança, a oportunidade de “explorar” os quatro Restaurantes Populares se abre.
De janeiro a junho deste ano, o Centro Pop atendeu 1,3 mil moradores em situação de rua, sendo que menos de 150 têm origem em Cascavel. A “nova administração” busca um “reordenamento” dos serviços, para “atender às demandas da sociedade de forma mais efetiva”. As ações visam “encaminhamentos rápidos para serviços de saúde, inserção no mercado de trabalho, acolhimento institucional ou apoio para o retorno à cidade de origem”. Tudo isso, claro, com “resultados concretos” na “redução do número de pessoas em situação de rua na cidade”.