RIO ? A Escola Municipal Darcy
Ribeiro, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, era conhecida por
ser a mais violenta da região e pelo baixo rendimento de seus alunos. Os
estudantes depredavam constantemente os espaços coletivos do colégio. Até fogo
nas cortinas eles colocaram.
Apesar do cenário devastador, a situação da escola começou a mudar quando
Diego Mahfouz Faria
Lima assumiu a direção, no começo de 2014. Em um ano de trabalho, o diretor
conseguiu reverter o índice de evasão de 202 alunos para apenas dois. O trabalho
de recuperação da Darcy Ribeiro
será um dos estudos de caso apresentados na mesa Gestão, no segundo dia do
encontro internacional Educação 360.
Formado em Pedagogia, Lima sempre se interessou em fazer uma transformação
educacional. Ele tinha sido diretor de outra escola com problemas parecidos
durante um ano e meio e decidiu aceitar o desafio de mudar a realidade da
instituição.
? Quando a última diretora pediu remoção, o plano da
Secretaria Municipal era entregar a escola para o estado, mas a secretária
acabou me chamando para tentar esse desafio ? conta.
Quase como um aluno novo, o primeiro dia de Lima na Darcy Ribeiro não foi fácil. Os estudantes do turno
da tarde se rebelaram contra sua presença, fizeram cartazes de protesto,
colocaram fogo no banheiro e chegaram até a jogar maçãs no diretor.
? Fiquei com o corpo dolorido. Os outros professores não
fizeram nada para me ajudar. Eu peguei o microfone, fui para o meio do pátio e
falei que não iria embora, que estava lá para ficar e queria ouvir o que os
alunos achavam da escola ? lembra.
Além de ouvir o que os alunos tinham a dizer, Lima se preocupou em se
apresentar para a comunidade da escola e distribuiu questionários entre os pais
para descobrir a visão deles. As perguntas eram: quais os pontos negativos e as
dificuldades, quais os positivos e quais eram as expectativas e sonhos em
relação à escola.
? Com essas respostas descobri que os pais não acreditavam mais na Darcy e que tinham medo. Nós tínhamos alunos de 11
bairros diferentes e eles não tinham identificação com a escola, não se sentiam
ouvidos e achavam que tudo era na base da punição. O colégio era visto como um
ponto de tráfico e todos achavam que não tinha mais jeito.
A partir do resultado do questionário, Lima mapeou as necessidades da escola
e as medidas prioritárias que precisavam ser tomadas. Foi organizado um mutirão
para reformar as áreas de convivência e salas de aula e foram criados projetos
que atendessem às expectativas dos estudantes.
? Eu busquei tornar os alunos protagonistas das ações,
passei a ouvi-los e tirei o caráter punitivo. Não queria transformar só o olhar
da comunidade, mas também a vida desses jovens. Não foi fácil, levei um ano para
mudar a visão deles. Também foi difícil motivar os professores, que achavam que
já tinham feito de tudo ? explica.
Um dos projetos que fazem mais sucesso é o Prata da Casa, uma espécie de show
de talentos aberto para a comunidade. Dele participam familiares, funcionários,
alunos e professores. A iniciativa foi criada para resolver o alto número de
faltas nas sextas-feiras, motivando os estudantes a irem à escola nesse dia.
? Eles tinham convicção de que não tinha aula e por isso não iam. Como hoje
já sabem que têm que ir para a escola na sexta-feira, o projeto acontece num dia
diferente a cada mês ? comemora.
A vontade de abrir a escola para a comunidade motivou a criação de outro
projeto: Camerata
Jovem Beethoven.
Todo fim de semana, a escola recebe alunos e pais em parceria com uma associação
de músicos que precisava de um local para ensaiar.
? A maior transformação foi quando eu comecei a abrir a escola nos fins de
semana. Esse projeto mostra novas oportunidades para os alunos diante do cenário
de vulnerabilidade no qual eles vivem.