Brasília – A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que o governo não fará intervenção nos preços dos principais alimentos da cesta básica brasileira, que têm apresentado forte inflação nas últimas semanas, como arroz, feijão, leite, carne e óleo de soja. Há registros de crescimento de mais de 100% nas gôndolas de supermercados.
Segundo o Estadão, Tereza Cristina afirmou que não há risco de desabastecimento desses produtos para o consumidor brasileiro, e que o governo monitora em tempo real a situação do mercado: “Estamos vivendo uma situação de transição, é uma questão pontual e que vai passar. O governo não vai fazer nenhuma intervenção em preços de mercado, o que estamos fazendo é monitoramento constante”.
Nesta quarta-feira (9), representantes da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) têm reunião com o governo, em Brasília, para discutir o assunto. A associação deve apresentar um panorama geral sobre a inflação dos alimentos e tratar de eventuais medidas que possam reduzir o preço dos produtos nas gôndolas. A expectativa é de que o encontro reúna representantes do Ministério da Economia, Agricultura e Palácio do Planalto.
Na semana passada, a Abras, que representa 27 associações estaduais afiliadas, afirmou que “vê essa conjuntura com muita preocupação, por se tratar de produtos da cesta básica da população brasileira”.
“O setor supermercadista tem sofrido forte pressão de aumento nos preços de forma generalizada repassados pelas indústrias e fornecedores. Itens como arroz, feijão, leite, carne e óleo de soja com aumentos significativos”, declarou a associação, afirmando que isso se deve ao aumento das exportações desses produtos e sua matéria-prima e a diminuição das importações desses itens, motivadas pela mudança na taxa de câmbio, que provocou uma forte valorização do dólar frente ao real.
Somam-se a isso a política fiscal de incentivo às exportações e o crescimento da demanda interna impulsionada pelo auxílio emergencial.
“Reconhecemos o importante papel que o setor agrícola e suas exportações têm desempenhado na economia brasileira. Mas alertamos para o desequilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado interno para evitar transtornos no abastecimento da população, principalmente em momento de pandemia do novo coronavírus”, afirmou a Abras.
A associação declarou que o setor supermercadista tem se esforçado para manter os “preços normalizados” e vem garantindo o abastecimento regular desde o início da pandemia nas 90 mil lojas de todo o País. “Apoiamos o sistema econômico baseado na livre iniciativa, e somos contra as práticas abusivas de preço, que impactam negativamente no controle de volume de compras, na inflação, e geram tensões negociais e de ordem pública”, disse a instituição.
Acomodação
Tereza Cristina disse que deverá haver uma nova acomodação de preços dos alimentos. A ministra comentou que o governo tem analisado a situação dos estoques de cada região que está atento às necessidades.
“Há um conjunto de fatores. Não se trata apenas de aumento de exportação. Houve aquecimento interno, por causa do auxílio emergencial. As pessoas passaram a comprar mais, porque houve uma mudança de hábito, mas haverá uma acomodação”, disse a ministra.
Na avaliação do Ministério da Agricultura, os preços tendem a cair nos próximos meses. “Assim como já aconteceu com o leite, que subiu e depois caiu, os preços tendem a se acomodar.”
A ministra lembrou que houve uma safra recorde neste ano e que, apesar do aumento das exportações, não há risco de faltar alimento neste ano e no próximo.
“Lucro próximo de zero”
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem (8) que tem pedido aos donos de supermercado para que baixem o preço de produtos essenciais e que tenham “lucro próximo de zero”. “Tenho conversando com donos de redes de supermercados, fazendo um apelo, porque nós criamos o auxílio emergencial para exatamente poder dar a oportunidade para o pessoal que perdeu o emprego comer”, disse Bolsonaro, segundo o site O Antagonista.
“Ninguém vai usar a caneta BIC para tabelar nada. Não existe tabelamento. Mas estou pedindo para eles que o lucro desses produtos essenciais nos mercados seja próximo de zero”.
Segundo o presidente, a situação deve melhorar a partir de dezembro, quando a nova safra começa a ser colhida – o que tende a baixar o preço dos alimentos, sobretudo o arroz.