Brasília – O governo estima que o Brasil viverá uma década com rombo nas contas públicas. Desde 2014 as finanças do governo estão no vermelho e devem seguir assim pelo menos até 2023, segundo novas projeções divulgadas nessa quarta-feira (15) pelo Ministério da Economia. O governo indicou metas negativas para 2021 (R$ 149,6 bilhões), 2022 (R$ 127,5 bilhões) e 2023 (R$ 83,3 bilhões). São resultados piores que o previsto inicialmente.
“Estamos estimando para o oitavo ano de déficit primário em 2021. É algo inédito. Não tem similar na série histórica do Brasil nem mesmo comparativamente no mundo. Pelo menos naqueles países há possibilidade de comparação direta”, alertou o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues.
Segundo ele, o governo herdou posições fiscais muito frágeis, fez o dever de casa em 2019, mas ainda está muito longe de todo o esforço fiscal necessário para economia. “Mesmo com o forte avanço do ajuste em 2019, na realidade em 2021, 2022 e 2023, teremos déficit.”
O déficit primário indica quanto o governo deve gastar acima da arrecadação do ano, sem contar os gastos com a dívida pública. Para pagar essas despesas acima da renda, a União precisa emitir mais dívida.
Calamidade
Para poder realizar gastos extraordinários neste ano para o combate à pandemia da covid-19, o governo encaminhou ao Congresso Nacional e conseguiu aprovar, com rapidez, o estado de calamidade pública. Com esse dispositivo em vigor, pôde abandonar a meta de déficit primário de R$ 124,1 bilhões em 2020. Segundo projeções do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, as contas devem fechar este ano com rombo na ordem de R$ 600 bilhões, o correspondente a 8% do PIB (Produto Interno Bruto).
Waldery disse hoje que o governo fará todo o possível para mudar esse cenário, depois de passada a crise da covid-19. “Mas há, sim, uma probabilidade de termos uma sequência de dez anos de déficit primário”.
Diante desse cenário, Waldery e Mansueto alertaram para a importância de agilizar a agenda de reformas e de concessões e privatizações para mudar o quadro em 2021. Isso porque as receitas dessas operações são fundamentais para reforçar o caixa no pós-crise.