Reportagem: Fábio Donegá
Com o comércio fechado por força de decretos municipais como medidas de contenção do avanço do novo coronavírus, os consumidores e as empresas de Cascavel têm mudado a relação entre si. O resultado dessa interação, nova para alguns setores, é o aumento no número de entregas em domicílio, o popular delivery.
“A regra é esta: evitar contato. E, com isso, já temos relatos de empresários que venderam em um dia na modalidade delivery o que vendiam em um mês por esse sistema antes do coronavírus. Há também empresários de setores que nunca imaginaram fazer entregas e agora estão se adaptando e vão continuar depois que as restrições passarem. Essa deverá ser uma tendência, pois cresceu muito esse hábito do consumidor”, explica o presidente do Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Cascavel e Região, Leopoldo Furlan.
Quem também percebeu o crescimento dessa demanda foi o produtor Leodir Guerrevi, que trabalha com hortaliças e produtos coloniais. “Sempre trabalhei como autônomo e há três anos estou nesse ramo. A demanda aumentou muito nos últimos dias. De 10 a 15 quilos de mandioca que eu entregava antes, agora entrego de 100 a 150 quilos por dia”, conta o comerciante, que, por isso, “recrutou” familiares para ajudá-lo: “Quando ‘me apuro’, a sogra e a cunhada ajudam”.
A mandioca, aliás, é uma demanda nova para Leodir. “As pessoas começaram a pedir, assim como alface e outras verduras, e eu comecei a produzir para vender. Antes era só para consumo”, explica ele, que não cobra taxa de entrega, porém só realiza vendas acima de cinco quilos, no caso da mandioca.
Número de funcionários diminui
Com o sistema de entrega em domicílio em alta em Cascavel nos mais variados setores, o comércio varejista tem se adaptado como pode. Uma das primeiras ações foi diminuir o número de funcionários internos, como revela o presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Oeste do Paraná, Otávio Carvalho.
“Houve aumento no delivery, porém, não houve contratações novas. As empresas estão adotando medidas distintas, conforme suas realidades. Algumas deram férias para os funcionários e outras reduziram as equipes. Quem tinha dez funcionários, hoje tem quatro; quem tinha 20, agora tem cinco ou seis. Quem relata que houve aumento de vendas diz também que houve redução no faturamento de cerca de 50%. Mas todos estão se preparando para o pior cenário possível. O setor tem em média 30 dias de ‘sobrevida’. Em relação ao delivery, nem todos se adaptaram e quem tem mais expertise saiu na frente”, explica Otávio.
Outra preocupação do setor é com as mudanças constantes em determinações a serem cumpridas. “Já foi difícil ter ciência do decreto [de fechamento do comércio] um dia antes de ele entrar em vigor. As pessoas estão sem saber como agir, principalmente quem já deu férias aos funcionários. Na esfera federal se fala de isolamento vertical e muitos querem voltar à rotina normal, mas cada caso é diferente. E quem conhece a realidade das cidades e suas capacidades hospitalares são os prefeitos”, observa Carvalho.